Toda vez que passo diante de um mostrador lembrando quantos dias faltam para o início da Copa do Mundo, na Avenida Agamenon Magalhães (região central do Recife), sou acometido de uma atroz dúvida quanto o que pode ocorrer até lá, na cidade, noutras cidades sedes do certame e no Brasil como um todo. Esses dias, visualizei a marca de oitocentos e poucos dias. Ora, falta muito pouco tempo, se comparando a quantidade das muitas obras a serem iniciadas ou concluídas. A começar pela tal Arena Pernambuco. Os responsáveis garantem que estarão concluídas em tempo hábil. Mas, como não temos construções em ritmo chinês, nem dinheiro fácil como eles, a dúvida vai persistir até que as coisas sejam dadas como prontas. E, de preferência, antes da Copa.
Os jornais de hoje (30.03.12), no Recife, trazem com grandes manchetes as melhorias viárias que transformarão a cidade em algo mais humana e de fácil circulação – atualmente é um caos – prometendo aprontar tudo antes do Campeonato Mundial. A rigor, são obras destinadas a solucionar os problemas de mobilidade da cidade, é verdade, mas que urge serem entregues para o conforto das levas de turistas/torcedores que poderão baixar na cidade, em 2014. E esta data está em cima!
Minha dúvida se exacerba ao virar as folhas dos nossos noticiosos e me deparar com as futricas políticas que assolam a província. E bote provincianismo nisso... Nunca vi tamanho fuxico. Pelo menos não me recordo. Inoportuno para uma ocasião em que, antes de travarem essas escaramuças (*), a classe política devia focar nos imensos problemas da cidade e realizar um pleito mais amadurecido e, sobretudo, pensando no futuro imediato e bem estar da população. Falta união! Tanto como, por exemplo, em Brasília, conforme vimos no processo de aprovação da Lei da Copa. Aquilo foi o melhor exemplo da chafurda que reina no país.
Pensando bem, esses governantes de plantão deveriam aproveitar a chance de operar melhorias de grande porte nas cidades e nos estados, calcados nas possibilidades mais elásticas de financiamentos e subsídios oferecidos. Mas, não. Estão pensando em desenvolver uma política de baixo padrão e somente “puxar a brasa para a própria sardinha”.
No ano passado estive visitando a África do Sul, onde, um ano antes havia ocorrido o último Mundial. Conversando com alguns, soube das dificuldades pelas quais passaram e que foram muitas. Porém, tudo estava pronto para a Copa das Confederações, que sempre ocorre um ano antes da Copa do Mundo. Houve um esforço inteligente e de ordem política que viabilizou a tempo a conclusão das obras. E, olhem que, não foram poucas as melhorais operadas. O país passou por uma reforma geral. Minha primeira surpresa foi no desembarque em Johanesburgo, quando vi a beleza de aeroporto que substituiu o acanhado e lúgubre do passado. Eu já havia ido àquele país, quando nem se falava em uma Copa por lá. Depois do aeroporto, fiquei deslumbrado com a estrutura viária, a urbanização moderna, os veículos leves sobre trilhos (VLT) em circulação e, por fim, um povo mais afável e mais cosmopolita. Nosso guia declarou com alegria que o melhor “governo” que o país já teve foi a Copa do Mundo. “A África do Sul é outro país depois da Copa de 2010. Os turistas são em maior número e todo mundo quer vir nos conhecer” disse o cidadão cheio de júbilo. Concordei com ele.
Se na África do Sul os efeitos de uma Copa foram tão positivos, o que não poderia acontecer no Brasil? Estamos, minha gente, diante da maior chance de projetar o nosso Patropi. Pena que nossos administradores nem percebem ou pouco estão se tocando. Estão pensando SOMENTE nos interesses pessoais e político.
Por outro lado, observo que nossa gente não está fazendo idéia precisa dos desafios que tem pela frente. Penso nos prestadores de serviços. Aqueles que vão estar na linha de frente – na posição de artilheiro, dentro da pequena área – para atender as demandas dos visitantes ensandecidos na turba da torcida, querendo comer e beber, se deslocar, ter umZa informação, procurando orientações, e tudo mais que se possa imaginar. O que farão essas criaturas? Como desempenharão seus papéis? Estão sendo preparados? Não vejo movimentos notáveis nesse sentido.
E nossos restaurantes? Estarão eles pensando em cardápios apropriados – com versão em inglês, por exemplo – para o momento do evento. E os garçons? Imagino o vexame que pode ocorrer. Vai ser trabalhoso e, sobretudo, uma perda de tempo para o cliente, que nesse caso vem apressado e sai do mesmo jeito, focado em torcer pela sua seleção. A não ser que esses torcedores estejam estudando português. A África do Sul, neste caso, levou uma vantagem estupenda porque o inglês é idioma oficial.
Para concluir, fico pensando se vierem jogar, no Recife, as seleções da Alemanha, Suécia, Japão e Costa do Marfim, por exemplo. Vai ser um barato. Nem quero pensar.
Melhor pedir aos padroeiros do futebol que intercedam a nosso favor e no sorteio para a Chave do Recife tirem as bolinhas de: Portugal, Argentina, Chile e Paraguai. Seria bem mais fácil. Não é mesmo? Tá chegando a hora!
NOTA: Foto obtida no Google Imagens
(*) Escaramuça = combate de pequena importância.
sexta-feira, 30 de março de 2012
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8 comentários:
Fui ao cabo de Santo Agostinho algumas vezes para desfrutar o banho de mar em águas cálidas e mansas, uma excelente talassoterapia. A duplicação da BR, embora em obras, parecia inacabável, como a obra de Santa Engrácia - que já está pronta em Lisboa, mas não avisaram aos brasileiros. E a nova adutora, como vai? E a nova refinaria de petróleo, na qual a PDVSA não aplica um tostão e tudo fica nas costas da Petrobrás? Essas obras são muito mais importantes do que o estádio, cujo nome agora é 'arena'.
Roldão Simas (Brasília)
Caro Girley
O meu amigo de Brasília Roldão Simas Filho (esta última designação ele não escreveu) é uma pessoa muita avisada sobre o Brasil, em particular, também sobre Portugal, e sobre tudo em geral, pois é um cidadão do mundo. Parabéns pelo elenco de Comentadores.
O Amigo e Companheiro em Rotary Carlos Jorge Mota
Caro Girley,
Sua análise e preocupações são as de todos nós.Nesta última semana em meio ao caos de Guarulhos,na van que transporta os clientes das locadoras de veículos p/o terminal, ouvi um brasileiro em resposta ao comentário de outro nativo sobre a bagunça atual e a Copa, respondeu que "o Brasil" estava fazendo "marola" à tôa pois para os jogos da Copa só virão torcedores bêbados para fazer desordem e procurar sexo de qualidade e que para estes, em termos de infraestrutura, o que temos já dá. Talvez muitos de nossos gestores públicos pensem como este troglodita.
A persistir este desleixo, corremos o risco de desperdiçar uma oportunidade "nunca dantes vista na história deste país" - dois eventos globais determinantes na história futura de uma sociedade, Copa e Olimpíadas. Ao invés de pruridos ridículos, devíamos reconhecer que realmente precisamos de um "pé no traseiro" para fazermos a nossa parte.
Um abraço,
Celso Cavalcanti
Boa tarde professor,
Diante de tantas dúvidas coloco mais uma: será mesmo que teremos tantos turistas assim? E se for um joguinho de uma seleção desconhecida de um continente qualquer que conseguiu se classificar??? Enquanto houver copa do mundo ótimo, mas o que acontecerá com a cidade da copa após esse evento??? Isso inguém sabe responder... ou pelo menos não se atreve.
Grande abraço,
Danyelle Monteiro
E em qual desses países citados, a gente encontra - mesmo em Copa do Mundo - cardápio em português?
Liliana Falângola
Caro blogueiro,
Você está com toda razão. POde ocorrer uma grande confusão.
Interessante foi sua leitora Liliana Falangola fazer uma pergunta tão inocente. Ela está por fora do mundo... português não é falado em parte alguma desse mundo! Logo mais aqui no Brasil tudo vai ser em inglês. Veja a linguagem da Internet. Imagine preprar cardapios em português. Santa alienação.Ela que estude logo um idioma mais falado mundo afora. Mandarim por exemplo.
Eric Trajano (São paulo)
Senhor Eric,
Na verdade, em matéria de idiomas, só "domino" o inglês, o alemão, o italiano e o francês.
Italiano, pois, desde que nasci que o ouço na família e, daí, o interesse em me aproximar, ainda mais, dele.
Os outros dois - alemão e inglês - porque fiz curso de Letras Anglo Germânicas na Faculdade e,
mais tarde, fui estudar na Alemanha e na Inglaterra. Tempos depois fui "morar" em Londres, onde, lá mesmo,sem ter sido funcionária do BB, aqui no Brasil, consegui um emprego no Banco do Brasil in the London Branch, one of the most active overseas agencies, como está bem ressaltado na Edição Especial da Revista Manchete BRAZIL 72 - SPECIAL EDITION, onde tem uma fotografia minha, de quase meia página, na reportagem sobre o BB.
Quanto ao mandarim, alguns dos meus priminhos, que estão se destacando muito em suas funções,
tanto políticas, quanto industriais, têm ido à China, mas - até agora - não me apareceu a vontade de me interessar pelo idioma.
Arrivederci!
À tout à l'heure!
Good bye!
Auf wiedersehen!
Liliana Falângola
SENHOR ERIC TRAJANO:
1.º O quê Liliana escreve como resposta ao distinto ?? senhor, é pura verdade..
2.º Costumamos chama-la de “ENCICLOPEDIA DE NOSSA FAMILIA”, por conta de seus conhecimentos gerais, dominando por inteiro, os mais diversos assuntos questionados.
3.º É usual comentarmos, entre nós, a revolta que nos causa, a invasão da língua inglesa, aqui, no nosso Brasil!! Nomes de lojas, de restaurantes, camisetas etc...
4 .º Parece que o senhor Eric Trajano, alimenta um espírito de “colono” e baixa a cabeça, docilmente, aceitando esta posição.. . Que pena!!
Enfim Sr. Eric Trajano , cresça e apareça..
Maum Ramalho
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