sábado, 1 de maio de 2021

Roda de Conversas

É praticamente impossível montar uma roda de conversas, atualmente, e escapar do tema da pandemia. Nada mais atual. Até mesmo pela dinâmica dolorosa da situação no Brasil e no Mundo. Não há quem possa dizer que sua família, ou circulo de amizades, esteja livre da peste desgraçada. Lágrimas e lamentos são bem comuns. E o que mais ocorre é que, quase sempre, o desenrolar da conversa descamba para o lado politico-ideológico. O que falta e o que houve de errado na condução de administração da crise sanitária que vem se revelando, sem trégua, elástica, resistente e capaz e se rebater sobre todas as áreas de atividades sociais e econômicas. Embora que as divergências politicas sejam constantes – o Brasil é um país dividido ideologicamente – uma coisa é quase certa entre os convivas: melhor seria se houvesse uma coalizão entre as correntes político-partidárias em torno do objetivo comum de salvar a Nação brasileira do pior. Ou seja, um objetivo de Estado e não de politicagem barata que somente visa à conquista do poder. E, neste ponto, cabe a pergunta: do que vale o poder sobre uma sociedade falida, dizimada e sem perspectiva de progresso? O fascínio do poder corrompe até o politico mais bem intencionado.
Entre outras abordagens das conversas há sempre um que defende o máximo rigor no chamado distanciamento social. Ora, pedir o distanciamento é fácil. Pode mesmo mitigar o problema. Contudo, inegavelmente, tem seus limites. Uma sociedade culturalmente pobre e com baixos níveis de educação e cidadania não assimila uma ordem de tamanha natureza. Ao contrário, grande parcela, chega a se opor e desobedecer às regras de convivências adequadas ao momento exercendo o costumeiro e impertinente papel de cidadão voluntarioso, opositor por natureza e desobediente de raiz. Se o assunto lockdown entra na pauta a situação divide o grupo de forma radical. A titulo de contribuição arrisco, cautelosamente, algumas considerações insofismáveis: há uma imensa diferença entre decretar um lockdown no Brasil e noutro país qualquer. Na Suíça, por exemplo, as razões são inúmeras a começar comparando as extensões dos dois países: enquanto o Brasil tem 8,5 Milhões de Km². a Suíça tem um pouco mais de 42,0 Mil Km². Bom, mas fazer esta comparação pode se constituir numa quase covardia. Tudo bem. Vamos para outro indicador mais conveniente para o caso: a população suíça é de apenas 8,5 Milhão de habitantes. Um número irrisório comparado com o do Brasil. Por curiosidade lembro que essa população suíça corresponde à metade da população da cidade de São Paulo, no Brasil, uma das localidades mais fustigadas pela Covid-19. Aliás, a metrópole paulista tem população superior a muitos outros países. O vizinho Chile, por exemplo. Pode ser curioso, mas é a verdade que poucos sabem. Claro que é muito mais fácil controlar 8,5 Milhões do que 210 Milhões pessoas. Isto sem falar de estruturas culturais, educacionais e de infraestrutura. Fica para que o leitor ou leitora faça sua ideia. Com tantas e profundas diferenças sociocultural e econômica uma operação dessas, no meu entender, tenderia ao fracasso. Realisticamente, acredito que nenhum governador ou prefeito tenha coragem de acioná-la no respectivo âmbito jurisdicional. Além da inviabilidade, o desgaste politico os inibe de tomar essa decisão, optando pelos viáveis distanciamentos sociais, proibindo funcionamento de atividades supérfluas e permitindo, apenas, as de primeiras necessidades. É difícil administrar essa parada. Afunilando a visão fico questionando como seria administrar um lockdown nas franjas suburbanas das grandes metrópoles do país. Seu Tonho (nome fictício), com uma bodega num bairro da periferia do Recife, sem saber ler ou escrever, passaria batido numa operação dessa natureza e somente estaria interessado em vender seus mangaios (foto a seguir) para os quais, aliás, não faltariam compradores. “Ôxente, lockdown? Que danado é isso?” Seria uma provável reação de vários Tonhos, Brasil afora. Enfim, não haveria policiamento necessário para fazer cumprir a ordem decretada. Que eu saiba, não existe mangaeiros na Suíça.
A moral desta história reside numa coisa mais do que sabida: falta de educação de base e formação cívica da massa populacional brasileira. Os limitados investimentos neste setor social, ao longo de décadas, vem cobrar, agora, resultados positivos, de modo cruel e muito efetivo. A verdade para final de conversa é que o país que não educa adequadamente seu povo está fadado ao subdesenvolvimento e à pobreza. É disso que nós brasileiros padecemos. NOTA: As fotos ilustrativas foram obtidas no Google Imagens.

7 comentários:

Jackeline Barbosa. disse...

Parabéns Dr Girley. Muito bom!!!

José Paulo Cavalcanti disse...

Talvez seja mais que só falta de educação, mestre. Talvez seja falta de comida. Como reagiríamos se, aí acordar, não houvesse comida para os filhos. Iríamos fazer distanciamento social? Sei não. Abraços.

Anônimo disse...

Boa noite
É sempre muito bom lê seus textos.

Ina Melo disse...

Amigo por que não falaste na China e no Japão? A Suíça não é nada! Assim como, na atitude que o governo deveria ter tomado com relação aos cidadãos brasileiros e não tomou. O exemplo vem de cima pra baixo.

Severino Araújo disse...

Bom dia amigo Girley.
Muito bom o seu Blog, como os demais que me enviou.

Leonardo Sampaio disse...

Sempre acompanhando o informativo Ir.

Anônimo disse...

É sempre muito bom lê os seus textos.

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