Na semana
que passou o Banco Central do Brasil anunciou a emissão de uma nova cédula de
Real, no valor de R$200,00, ainda neste mês de Agosto entrante. Surpresa para
muitos e compreensível para quem lida com Moedas e Bancos. Os comentários
gerados no meio específico foram, tanto de cunho técnico, quanto jocosos. A
primeira interpretação de um colega de profissão foi arrematada com um sonoro
“é o Real descendo a ladeira”. Outro deu explicação fazendo a comparação com o
valor que representa a atual cédula de R$ 100,00 em face do valor por ocasião da
adoção do Plano Real, em 1994. Pelos cálculos do técnico, a azulzinha – com a
imagem do peixe Garoupa – hoje circulando não passa do surpreendente valor real
girando ao redor de R$16,00. Acho que isto explica bem, sem precisar desenhar. A
nova cédula vem com a imagem de um Lobo Guará, que pode ser uma garantia. Não é
toda hora que se tem um lobo de sentinela. Outra coisa lembrada, daquele ano de
1994, foi que US$ 1,00 era comprado pela incrível taxa de R$ 0,85. A nova Nota
que vem por aí reflete a desvalorização da nossa moeda, face à inflação que
nunca cedeu a contento.

Não faz
muito tempo que o atual Governo, numa ideia extrema , levantou a hipótese de
modificar todas as cédulas circulantes conferindo tamanhos diferentes, conforme
o respectivo valor, além de adotar novas feições gráficas com o objetivo politico claro de,
num tempo limitado de troca, obrigar a que muitos corruptos acumuladores de
fortunas em espécie, em locais secretos, desovarem o fruto da roubalheira desbragada
que se registrou no país, no passado recente. É emblemático e inesquecível o caso do politico baiano, Geddel Vieira, que manteve R$ 51,0 milhões em estoque
no apartamento de um amigo, em Salvador da Bahia. Para esses “poupadores” a oportunidade, agora, de necessitar de menor espaço para suas acumulações! Se
serão pegos é outra questão.
O curioso,
por outro lado, é que o florescente uso do dinheiro de plástico (cartões de
crédito) e as transações eletrônicas, nestes tempos de Pandemia, tiveram a
oportunidade de se popularizar de modo irreversível. Poucos se aventuravam em
manusear as corriqueiras cédulas monetárias temendo a contaminação do vírus da
Covid 19. Graças ao vírus, aliás, duas coisas estão sacramentadas: vendas on-line
e home-office. Clientes e lojistas estão entusiasmados com essas vendas por via
eletrônica, assim como grandes corporações e entes governamentais já estão
convencidos de que essa nova “onda” veio pra ficar. Segundo dados publicados na
imprensa, estima-se que as vendas on-line
cresceram entre janeiro e maio deste ano a expressiva taxa de 137,35% se
comparado com o mesmo período do ano passado. Antes eram produtos de menor
importância no dia-a-dia, que hoje são substituídos por produtos eletrônicos,
roupas, sapatos e remédios. Surpreendentemente, produtos alimentares e de
limpeza – demandados normalmente nos supermercados – passaram a ser
comercializados pela internet e entregues em domicílios. É, de fato, um novo tempo.
Dias recentes,
andei lendo, num jornal espanhol (20 Minutos
de 30.07.20), uma matéria intitulada: O
Virus Acelera o Ocaso do Dinheiro em Efetivo. O repórter Pablo Segarra assegura
que ”o Coronavirus está provocando [na zona do Euro] uma redução do uso de
dinheiro em espécie, que já estava minguando antes da Covid-19 em favor dos
Cartões de Crédito, os pagamentos [por aproximação] com telefones celulares e, em menores casos,
pelo reconhecimento facial”. Consequência imediata foi que, na Espanha, a
retirada de dinheiro “cash” em Caixa
Eletrônicos caiu em 70%. Provavelmente o mesmo no restante da Zona do Euro. Verdade que o afastamento social obrigava a reclusão em
casa, porém, todos tiveram que abastecer suas despensas, usar produtos de
higiene e limpeza e medicamentos. A solução foi o uso das transações eletrônicas.
O Banco Central Europeu, porém, descarta o desaparecimento dos efetivos em
Euros.
A verdade é
que as transações eletrônicas estão em uso cada vez maior, tanto nas negociações
dos grandes bancos e corporações, quanto no circulo do cidadão comum. No dia-a-dia.
A propósito, já parece claro e sintomático que a Reforma Tributária que o Governo
pretende emplacar traz o anúncio da criação de um imposto sobre transações eletrônicas.
Coisa do tipo 0,02% sobre cada operação, provando que a coisa vai pegar e Brasilia está antenada. Bom, será uma CPMF renomeada. Olho nisso!
Aqui no
Brasil, muitos são aqueles que habitualmente não portam dinheiro em espécie e usam
para qualquer transação (combustível, estacionamento, alimentos, restaurantes,
cinemas, entre muitos outros itens) do dinheiro de plástico ou por aproximação
do aparelho celular. Breve vem pelo reconhecimento facial. Difícil, obviamente,
será acabar com a grande circulação do efetivo em Real, haja vistas para a
população periférica desprovida, no geral, dos recursos da modernidade digital.
Que venha,
pois, a cédula de R$ 200,00 com seu Lobo Guará. Acho que vou manter uma dessas cédulas na minha carteira para que o Lobo espante os batedores de carteiras.
NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens.