quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Miopia Política

É curioso viver num país onde todo mundo fala e pede democracia, embora que, a rigor, a grande maioria não saiba praticá-la. Este é o caso concreto do Brasil de hoje.
E, neste caso, não me refiro aos fuxicos entre amigos ou familiares, que passam e se perdem no tempo e no espaço e, no final das contas, não contam. Ao invés disto, refiro-me ao absurdo comportamento de políticos e governantes opositores. Por que não entender e praticar a Democracia pela qual lutam e pregam? Francamente, é pura miopia política.
Um exemplo desse comportamento político adverso está na atitude incorreta dos atuais  governadores do Nordeste face ao Poder Federal constituído, tendo à frente o Presidente Jair Bolsonaro. São opositores, tudo bem, cumprem um papel relevante e exercitam um poder que lhes foi garantido pelo voto popular, mas, além de evitar o Poder Central  fazem vistas grossas à importância do pacto federativo que forma e fortalece a República. Governam cidadãos e cidadãs dos seus respectivos estados, do mesmo modo que o Presidente Bolsonaro governa para todas e todos brasileiros. Quer queiram ou não queiram! Ignorar esses princípios democráticos é, também, pura atitude antirrepublicana.
Palácio do Planalto (Brasilia) 
Bom, preciso explicar os motivos das minhas preocupações: grande parte da minha vida profissional, desde a formação básica, foi de defender os interesses públicos que promovessem o desenvolvimento socioeconômico do Nordeste. Pensando bem, segui a carreira de Economista inspirado e imbuído desse ideal, embora que a intenção primeira fosse outra. Vibrei nos bancos da Universidade descobrindo fórmulas e estratégias para logo pô-las em prática. Vivi momentos alternados de esperanças e desilusões ao lidar com a teia do poder centrado em Brasília. Não foi fácil. Isto, diga-se de passagem, em tempos de ditadura e de democracia. Trabalhei numa equipe de valorosos técnicos - na velha SUDENE -, todos empenhados no ideal de servir à Região. Foram anos de glória e muito suor, que a cada dia retroalimentava o ideário do Grupo. Glórias que se dissipam nas páginas do passado e que os atuais governantes estaduais não têm ideia e, tenho pra mim, nem mesmo se interessam por saber o que aconteceu. Os quantos contribuíram com os esforços daquela Entidade Regional sabem do que falo e sabem o quanto significa um bom entendimento entre os poderes central e estaduais. Aliás, eis aí uma forma lógica de fazer política.
E, veja bem, diante de um Governo que prima, muito mais, em refutar os abusos dos governos passados do que outra coisa, cabe a indagação: qual o quinhão que restará ao Nordeste, no atual contexto?
A noção de promover e desenvolver ações regionais já não são lembradas como antes e a estrutura administrativa governamental montada pouco aponta para ações desta natureza. O que nos resta é esperar – como no passado – por medidas marginais que só poderão representar pífios ganhos para a Região.
Sede da SUDENE original, onde o conceito de Região foi forjado e defendido.
Não sou saudosista. Não! Até porque, sinto-me feliz percebendo que a SUDENE cumpriu um papel relevante e os frutos estão às vistas. Só não vê, quem não quer. Mas, muito ainda se faz necessário. Há, é verdade, uma nova Sudene por aí. Mas, com todo respeito, está longe de repetir o sucesso da original.    
Urge, portanto, a revisão desse comportamento regional irresponsável e que trate de recuperar os canais de comunicação com o Planalto, sob pena de resultar num alto custo aos nordestinos.

NOTA: As fotos que ilustram o post foram obtidas no Google Imagens 
                   

12 comentários:

Jose Paulo Cavalcanti disse...

E viva a SUDENE que se foi, amigo.

Ronaldo Barros disse...

Gostaria de discordar da inversão de fatos que li no artigo.

O que vi e ouvi na entrevista que o Bolsonaro deu exclusivamente ao SBT, dizendo que o presidente dos Nordestinos está em Curitiba e que os governadores devem buscar verbas no Paraná, fazendo referência ao Presidente Lula que está encarcerado naquele estado.

E ainda tem mais, quando o governador do Ceará solicitou ajuda do governo federal para conter a onda de violência que tomou conta daquele estado, escutou o comentário infeliz: “agora ele quer ajuda do governo federal”.

Duas provocações que não caberiam a qualquer gestor público que tenha um mínimo de racionalidade e que tem intenção de fazer um governo para todos os brasileiros.

Afora essa inversão, o artigo foi excelente. Parabéns!


Ronaldo Barros

Adierson Azevedo disse...

Concordo em gráu, número e gênero com o amigo. Nos estados nordestinos existem opositores aos governos atuais que não estão fazendo o mesmo que estes governantes. Beiram à rebeldia política tais atidudes. Já imaginou se as prefeituras de oposição aos governos estaduais nordestinos agissem da mesma forma? Pelo que sei, 40% dos votos nordestinos foram para o presidente.

O mais incrível é que cidadãos derrotados no sul, sudeste, e centroeste, como o Sr. Lindbergh Farias, já se articulam para transferir seus domicílios eleitorais para o Nordeste a fim de se elegerem no lugar de congêneres de oposição nordestinos. Será que os opositores locais vitoriosos vão aceitar se curvarem diante de derrotados em outras regiões?

Serão tão míopes assim??

Seja como for, vai aqui meu desejo de Feliz 2019 ao amigo e o convite para um vinho verde aqui em Braga, produto exclusivo da Região do Minho, onde moro!!







Corumbá Guimarães disse...

Excelente

Arnaldo Moura Leite disse...

Como sempre, o amigo usa da lucidez e do conhecimento que lhe é peculiar.
Parabéns pela postagem.

José M Galvão disse...

Primo,
Li mais uma vez e cada vez com mais vontade de ler o por vir.
O blog de hoje foi muito objetivo em atacar o comportamento juvenil dos “políticos”. Destaco os nossos políticos que pra mim se extinguiram há tempo. Vejo hoje um grupo amorfo de ideologia e compromisso. Vou falar de nosso estado pra não entrar no mesmo jogo de empurra e justifica o que não tem justificativa. Literalmente perdemos na capital e no estado quatro anos e estamos condenados a perder mais dois e quatro, na capital e no estado respectivamente. No decurso do tempo dos mandatos não há outra hipótese senão se não está, a menos que sejamos brindados por pelo menos um se não dois impeachment. Motivos não faltam pelos atos praticados por estes políticos e amplamente divulgados pela imprensa local e nacional, sendo alguns já sendo investigados pela PF e outros “trancados” com o fechamento de uma secretaria de governo que foi substituída por outra com as mesmas funções e integrantes mudados para não dar trabalho as autoridades investigadas com o resultado das investigações que já estarão em vias de serem concluídas. Sinceramente, o primo vê outra saída? Se vir me avise porque já ando deprimido por conta de ver todo o nosso patrimônio público escorrendo pelo ralo, estradas, ruas, imóveis - até alguns a tombar -, hospitais e escolas públicas com falta de médicos e professores e por aí passa o trem do fim do mundo.
Pior que tudo isso são os nossos “eleitores” que põe e repõe esta turma no poder. Mas uma vez, por favor, me diga se tivermos outro horizonte.
Pronto meu caro, desabafei.

Sandra Pagano disse...

Caro Girley,
Você, como sempre, enriquecendo os leitores com uma boa análise
da conjuntura local ou internacional.
Parabéns

Cristina Carvalho disse...

Concordo com o teor do seu post. Acrescente-se que essa miopia política é de uma burrice cavalar. Democracia é compartilhar juntos de espaços de poder, onde todos contribuem para o todo com suas diferenças e semelhanças. Não se fecha a porta para o “coordenador” central que detém o poder maior e a chave do cofre. Ficaremos à deriva???? Isolados??? É o que muita gente quer. Mas, o nosso Presidente Bolsonaro fará sua parte no NE, pela sua coerência politica, dentro do que for possível. Mas, perderemos muito, com certeza. Alguém arranja óculos de coerência e inteligência para doar a esses “Governadores”? É urgente!!!🤔🤔 Parabéns Girley.

Marcia Marques disse...

Verdade!!! Texto muito bem escrito... Parabéns!!!👏👏👏👏👏👏❤️❤️

Maria José Bezerra disse...

Parabéns

Maria Cristina Henriques disse...

Girley Brazileiro vamos combinar - essas pessoas ainda não se tocaram que estaaoms sob nova administração

Danyelle Monteiro disse...

Lido, bem escrito como sempre. Infelizmente, concordo que estamos mal representados por uma turma amorfa de políticos.

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