sábado, 2 de fevereiro de 2019

Janeiro Trepidante

Início de ano muito agitado aqui no Brasil. Tivemos um janeiro como poucos. Como se não bastasse a mudança de Governo com novos direcionamentos políticos e ideológicos, assistimos turbulências no meio político-partidário envolvendo velhos figurões da Republica, nuns bate-bocas sem fim e numa especie de  prorrogação do clima de campanha eleitoral, com vistas às presidências da Câmara Federal e do Senado. Na prática os palanques da campanha eleitoral passada não foram desmontados.  Um autentico terceiro turno. 
No Ceará o clima foi de terror e muito fogo. Facções de bandidos, contestando novas regras de segurança nos presídios do estado, responderam com arruaças e ateando fogo em ônibus, viaturas e estabelecimentos de Governo. Pavor espalhado e prejuízos ilimitados, sobretudo na rede hoteleira no auge da temporada.  
Para aumentar a temperatura do ambiente político, o filho do Presidente Bolsonaro, o Flávio, vem sendo investigado e alvo das oposições e, principalmente, das mídias. O rapazinho andou fazendo manobras financeiras pouco condizentes com sua capacidade de produção e suas rendas declaradas. Mas, neste caso, quem está na berlinda? Messias ou Flávio? Vamos esperar.
Contudo, não foram as futricas políticas e o terror cearense que marcaram com fortes cores o findo janeiro trepidante de Pindorama. Mais que elas, as atenções da segunda quinzena voltaram-se para dois episódios bem mais palpitantes: o primeiro foi a participação do Presidente Bolsonaro, no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suiça), no qual proferiu um discurso breve e lacônico gerando certa frustração para os públicos nacional e estrangeiro. Dizem ter sido proposital. Mas, não convenceu. Considero que faltou verve e empolgação ao nosso mandatário. Nada surpreendente, diga-se en passant. Ele nunca se revelou grande-eloquente. Além disso, é provável que tantos tapetes vermelhos e as expectativas com relação a sua estreia mundial tenham o inibido ainda mais. Uma coisa é certa: ali ficou patente a sua peculiar timidez e falta de domínio de um microfone diante de uma platéia seleta, como a do referido Fórum. A rigor, fez um discurso baseado na mesma retórica da campanha presidencial, enquanto se esperava muito mais. Nessa hora, dá para entender melhor o sucesso que ele faz nas chamadas redes sociais. Bom ou ruim, um recado foi dado e a Equipe de Ministros, particularmente o da Economia, Paulo Guedes, arredondou a participação brasileira. Indiscutivelmente, foi uma “prova de fogo” para um iniciante no Executivo. Não vamos ainda avaliar, por aí, o novo Governo. É cedo. 
Não soube aproveitar a vitrine!
Retornado de Davos e se preparando para a cirurgia de retirada da incomoda bolsa de colostomia, Bolsonaro se depara com o pior: o calamitoso rompimento de mais uma barragem de rejeitos de minério de ferro, da Companhia Vale do Rio Doce em Minas Gerais. Aí sim, foram cores fortes. Aliás, sem cores porque foram negras. O que fez e as providencias que tomou o leitor e a leitora já sabem.
É espantosa e indecente a irresponsabilidade dessa empresa, que, pela segunda vez, provoca um monstruoso traumatismo sócio-ambiental à Nação. É estarrecedor pensar que o drama de Mariana (Minas Gerais – 2015) tenha sido reeditado numa dimensão mais elástica e com consequências ainda mais devastadoras. Onde estavam as autoridades responsáveis e órgãos competentes encarregados de monitorar/fiscalizar essas barragens? Mais de trezentas seres humanos e uma infinidade de outros seres vivos arrastados pelo mar de lama mortífera. O Brasil não merecia passar por esta segunda provação. O estado de Minas Gerais fica marcado para sempre por essas duas catástrofes.
O que mais choca é saber que existem mais de 300 barragens de mineração, sendo 88 destas no mesmo sistema (a montante) sem a devida fiscalização. Outra coisa chocante é saber que existem apenas 35 fiscais para vistoriar as 24 mil barragens espalhadas pelo país. Ao mesmo tempo, saber que cada Senador tem 50 auxiliares assessores é de fazer chorar. Quanto desgoverno e quanta desgraça espalhada por este imenso país.
Devastação dolorosa no caminho da lama em Brumadinho
Numa hora dessas é quando se expõem a falta de competência e profissionalismo, assim como a irresponsabilidade das autoridades governamentais deste país. O lucro desmedido das empresas e a corrupção dos governantes são, seguramente, os motivos concretos para explicar tamanho desastre. 
Infelizmente, neste país, padecemos de uma moléstia cultural que ataca nossos governantes, profissionais e empresários que é o descaso para com as preservações e manutenções dos ativos. A barragem de Mariana e esta de Brumadinho eram tratadas como um amontoado de resíduos minerais de maneira desordenada e sem obedecer às respectivas capacidades. Esquecem que a Mãe Natureza é viva e atuante, vem sempre cobrar de modo rigoroso seus direitos.
A propósito, não precisamos ir muito longe. Vejam que viadutos (em São Paulo e Brasília, por  exemplo) sem manutenção não suportaram os desgastes de uso e da própria natureza, desabando. Um prédio invadido por sem-tetos, no centro de São Paulo, foi devorado pelo fogo e desmoronou. 
Ponte do Recife deteriorada por falta de manutenção.
Recentemente, várias pontes do Recife foram vistoriadas, por entidades particulares, e mostraram o desgaste e os perigos que representam aos que por elas transitam diariamente. Falta de manutenção e irresponsabilidade da Prefeitura. 
O Museu Nacional do Rio de Janeiro foi destruído por um incêndio, ano passado, por falta de conservação e manutenção das instalações. Em 2013, uma boate no Rio Grande do Sul incendiou ceifando quase duzentas jovens almas, por falta de fiscalização das autoridades locais. E fica tudo por isso mesmo. 
Janeiro se foi mas 2019 vai rolar. Deus nos proteja.     

NOTE: Fotos colhidas no Google Imagens 



8 comentários:

Cristina Goes de Victor disse...

PARABÉNS! Ñ só Opinativo como Informativo.Aquele ABRAAAAAAAÇO.

Antonio José de Melo disse...

Caríssimo Girley Brasileiro.
O ano de 2019 tem início carregando ainda, as mazelas do passado. Talvez a irresponsabilidade reinante neste país, seja fruto da impunidade dos dirigentes, ditos: “responsáveis”; que mais parece serem imunes, assim como os parlamentares, acobertados e protegidos por uma carapuça, chamada de imunidade parlamentar. O ano está só começando, acredito que as mudanças venham, assim como vimos ontem, embaixo de muito tumulto, a mudança da presidência do senado Federal. Vamos torcer por um Brasil melhor, onde seus cidadãos sejam respeitados e preservados.

José Paulo Cavalcanti disse...

Só uma observação, amigo. O ano não começou, é o que penso. Começa agora. Com os primeiros projetos. O resto é folia. E lama. Abraços.

Severino Araújo disse...

Obrigado. Tenho muito o que aprender

Armando Vasconcelos. disse...

Parabéns Girley pelo retorno e pelo texto de hoje . Vivemos um janeiro trepidante. Os desdobramentos virão. A tragédia em Brumadinho é a que continua chocando o Brasil e o mundo. Quantas vidas ceifadas pela irresponsabilidade da Vale e das ditas autoridades públicas.
Vamos ver se conversamos pessoalmente sobre os descaminhos da educação. Daqui a dois meses teremos mais discernimento.

Girley Brazileiro disse...

Obrigado amigo Armando pela visita ao Blog. Volte sempre e conte comigo para esta conversa proposta.

Unknown disse...

Muito bom Girley .U abraço.

Geraldo Magrla Pessoa disse...

Como sempre muito pertinente seu texto. Por isso, continue nos brindando com mais frequência.

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