Quando Dilma
Rousseff assumiu o segundo mandato, após uma eleição apertada, o que mais se
comentou nos meios de analise política foi a evidente falta de apoio que
enfrentaria nas Casas do Congresso Nacional. Os resultados das urnas, embora
lhe garantissem a vitoria, deixava-a sem o necessário apoio para quem governa.
Aversão aos diálogos políticos e franca dona da verdade, características básica
do seu perfil, Dilma já começava ameaçada.
Mandona e
voluntariosa terminou por pagar um preço
altíssimo por esse seu estúpido temperamento. Teria sido preciso uma mudança
radical de comportamento, coisa pouco provável para quem se posta em permanente
necessidade de afirmação.
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Dilma sendo inquerida no Senado |
Arriscando
uma comparação, Dilma não teve a inteligência emocional para seguir os passos
do seu “criador” o ex-presidente Lula, que, justiça se faça, sempre se revelou
um bom negociador desde cedo e, desse modo, pode conquistar altos níveis de
popularidade e de nunca perder a capacidade de governar. Perdeu-se na senda da
corrupção, é verdade, mas o sujeito é uma águia. É preciso ter muito jogo de
cintura para governar um país tão complexo e cheio de mazelas e contrastes
sociais como é o Brasil. Não deu outra... Dilma perdeu o controle da
governabilidade e o resultado foi o que acabamos de ver. Claro que este trauma
político teria sido perfeitamente evitável se ela houvesse ouvido mais e falado
menos. A política é uma arte dominada por poucos e mutilada por muitos. Ela
optou pela mutilação.
Acompanhei
atentamente, nestes últimos dias, o final do julgamento, do processo de impeachment, sobretudo o dia (29.8.16)
em que ela foi se defender no Senado da República e ser questionada pelos
senadores. Depois de um discurso, diga-se, de passagem, bem elaborado, embora
não convincente em face das acusações que lhe foram impostas, Dilma respondendo
aos seus inquisidores, lançou mão insistentemente e à exaustão, da tese de ser
vítima de um golpe de estado, agora qualificado por ela e seus partidários, como
sendo um golpe parlamentar. Como chamar de golpe um processo
constitucionalmente legítimo e democrático na sua essência? Como achar que seja
um golpe quando ela teve o direito de se defender por inúmeras formas? Venho
interpretando essa polêmica tese como sendo a única saída, que resta aos PTistas,
para que saiam do processo instalados numa zona de conforto político, com jeitão
de saída honrosa. Contudo, somente os tolos cairão nessa balela. Eles próprios
sabem, e sabem muito bem, diante do que se tornou inexorável, que o processo foi
legitimo e constitucional.
Ela se diz
inocente e sem culpa alguma por haver infringido a Lei de Responsabilidade
Fiscal, por haver passado por cima do Legislativo e, ironicamente, quanto ao
estado de estagnação econômica no qual colocou o Brasil. Preferiu atribuir à
crise internacional o motivo do caos. Índices negativos em todos os setores de
atividades e desemprego em permanente crescimento, resultando, por enquanto, em
12,0 milhões de desempregados. Um verdadeiro clamor!
Por
desencargo de consciência, fico, por vezes, tentando assimilar as teses de
defesa da “presidenta” esbarrando, contudo e quase de imediato, em concretos
argumentos contrários. Lembro-me das severas criticas que Dilma sofreu quando
seu governo, maquilando as contas nacionais, tentou enganar a Nação, naquele episódio
da contabilidade criativa, tentando dar um by-pass
no Tribunal de Contas da União. Lembro, também, do episódio das Pedaladas
Fiscais, quando ela através de decretos lançou mão de empréstimos nos bancos
estatais para custear programas sociais e cobrir os compromissos com o Plano
Safra, coisa vedada pela Constituição. Quis governar sem o respaldo do
Legislativo. Aquele que ela menosprezou. Dilma errava, era avisada e persistia
no erro. Ora, minha gente, sendo ela a Presidente da República e querer se
eximir dessas falhas de administração é querer demais. Na minha cabeça só passam duas coisas: a
primeira é que, devido à ideia que alimentava de ser chefa-suprema, achou que
tudo podia, sendo isso ledo engano. Coisa típica dos bolivarianos. O buraco era
mais em baixo e em baixo é um lugar que ela nunca enxerga. Resultado que na
primeira oportunidade que a oposição pode, condenou-a sem dó e com respaldos
legais. A segunda coisa que me ocorreu é que, definitivamente, ela foi mal
assessorada. Para começar manteve, apesar das severas críticas domésticas e
estrangeiras, um Ministro da Fazenda que se comportou inoperante e trapalhão, expondo
o Brasil à situações de ridículo perante a comunidade internacional. Esse
Senhor desempenhou um papel bem ao gosto da Chefa que tinha. Ao mesmo tempo, Dilma
teve uma assessoria pessoal – centrada na Casa Civil – com pessoas
provavelmente pouco qualificadas, incapazes de alertá-la para as imperfeições
da gestão que praticava. A preocupação, na prática, foi desenvolver uma política
espúria e voltada para manter o poder e desviar recursos financeiros. Quanto
desgoverno. Quanta inabilidade política.
Tudo isso
sem se falar no despautério posto a limpo pela Operação Lavajato, como pano de fundo, que pôs por terra a farsa petista
de paladinos da justiça social. A Petrobrás está aí cambaleando, com
dificuldades para se erguer. Dilma foi responsável direta dessa tragédia.
Nessa
encruzilhada política, temo que o passo do impeachment
não resolva os problemas do Brasil. Será uma tarefa colossal para o novo
Governo. Mas, alimento esperança convencido que tínhamos que passar por tudo
isto.
NOTA: Foto obtida no Google Imagens