domingo, 7 de novembro de 2010

CANTÃO

Deixando Xangai, tomamos o rumo de Cantão ou Guangzhou, em chinês, no sul da China, capital da Província de Guandong. É, para minha surpresa, uma cidade enorme, contando com quase 6 milhões de habitantes. Ou seja, outra metrópole, desse “planeta” chinês que percorri. Um detalhe interessante: Guangzhou é a cidade irmã do Recife, na China. Lá os pernambucanos são recebidos de modo fidalgo. Por quem sabe, é claro! Descobri que Guangzhou é historicamente um importante porto no Rio das Pérolas e faz parte do Império Chinês desde o Século 3 a.C. Na Idade Média, os cantonenses já comercializavam, habilmente, com indianos e árabes. De lá saiam as melhores sedas, porcelanas e chás do Oriente. A partir de 1511, os portugueses entraram no negócio e monopolizaram o comercio local, para atender a crescente demanda dos ocidentais europeus pelos produtos do Oriente. Nos séculos 17 e 18 as coisas ficaram nas mãos de ingleses, franceses e holandeses, como era de se esperar. Na metade do século 19, depois da chamada Guerra do Ópio, conflito armado entre ingleses e chineses, pelo mando dos negócios de Cantão, o comércio da região deixou de ser restrito, sendo estabelecida uma concessão franco-britânica entre 1856 e 1946.
Com tanta história comercial, pode-se imaginar o que se respira nessa região chinesa. O comercio está no DNA dos cantonenses, que pode explicar o que ocorre, por lá, a cada semestre: a maior feira de exportação-importação, do mundo atual. A cada Primavera e cada Outono os chineses de Cantão recebem – no seu monumental centro de exposições – (vide fotos a seguir) compradores e vendedores do mundo inteiro e lançam as novidades de seus produtos, realizando os maiores negócios de que se tem notícia, no novo e globalizado mundo do século 21. O resultado aparece
nos milhões de lojinhas de importados da China, nos mais distantes pontos do mundo. No Brasil, todo grotão tem sua lojinha de R$ 1,99. É uma verdadeira praga. O mundo se incomoda com essa capilaridade dos comerciantes chineses, bem como com seus representantes, e busca atenuar a concorrência, sem poupar críticas e protestos. E os chineses, aparentemente, não estão nem aí... querem é vender. Salve-se quem puder. Para eles, não interessa o cambio artificial, o dumping que se revela nas transações correntes com o exterior ou os salários escorchantes que são praticados, reduzindo incrivelmente os custos da produção. A ordem é exportar e vender a superprodução, a quem chegar. Aliás, na prática, em grosso ou no varejo, é difícil se livrar de um vendedor chinês. No caso do varejo, basta você olhar para o vendedor ou para o produto. A partir daí, o cliente está “condenado” a sair carregado de sacolas. Muitas vezes compra o desejado e o que não queria levar. Com um detalhe a favorecer: pechinche! Chega a ser cômico. Houve um momento em que paguei somente 10% do valor inicialmente cobrado. Uma atenção, porém, e certamente a mais importante é que o interessado tem que ficar de olho na qualidade do produto. Eles estão com uma campanha cerrada pela melhoria da qualidade e para desfazer a fama da produção falha, mas, a coisa ainda é real e um verdadeiro dilema para o comprador.
Guangzhou se prepara para sediar, proximamente a edição dos Jogos Asiáticos (equivalente aos nossos Jogos Pan Americanos), razão pela qual a cidade foi repaginada, com avenidas arrumadas e limpas, jardins exuberantes, edifícios suntuosos e de arquitetura arrojada, magníficos hotéis e shoppings com alusões decorativas e um novo aeroporto que causa inveja, até mesmo a outros da própria China. Imagine um aeroporto com quase 150 portões de embarque. Todos com pontes, inclusive. Nosso grupo, por exemplo, embarcou no portão 146, ao deixar a cidade. Até alcançar o portão de embarque o viajante recebe uma última provocação comercial das sensacionais lojas da estação (vide foto acima). O movimento daquele aeroporto salta aos olhos de qualquer um. Mesmo se tratando de China.
Outra coisa que me impressionou foi observar que o acesso a esse aeroporto é uma imensa via, com quatro pistas de cada lado, e jardins coloridos em todo o percurso. Os chineses capricham, prá valer, no item ajardinamento. Alguém, surpreso com tanta beleza, comparou o caminho do aeroporto de Cantão como sendo o caminho para Shangrilá (denominação atribuída ao escritor inglês James Hilton, em 1925, para um lugar paradisíaco nas montanhas do Himalaia).
NOTAS: Fotos do Blogueiro. Informações históricas retiradas da Wikipedia

7 comentários:

Unknown disse...

gostei de saber mais sobre cantão. em 2007, quando fiz parte da primeira missão da fecomércio à china, um grupo liderado por Luciano Siqueira, na época vice-prefeito, foi lá firmar este acordo de irmandade com Recife. porém nada foi mais dito a respeito durante a viagem. Inclusive só se falava deste nome em chinês. ghuangzhou? parabéns pela matéria.

Isabella Jarocki disse...

Você sempre nos ensinando sobre sobre o oriente !

Celso Jordão Cavalcanti disse...

Caro Girley,
Parabéns pelo seu blog. Não deixe de me incluir entre os destinatários de suas postagens.
Seu relato sobre a China é extremamente fiel a realidade e faz observações que ocasionalmente nos passam desapercebidas.
Tenho o hábito de ler blogs de diversas autorias. Face à visão pessoal ali exposta pelos seus autores, são muitas vezes mais
enriquecedores do que simples matérias jornalísticas, vício do qual também padeço.
Com respeito à China recomendo você ler o blog http://mainhadissequeeuialonge.wordpress.com/
Este blog é de autoria de minha filha mais velha que morou na China e nos Emirados Árabes por 3 anos.
Evidentemente que sou suspeito para falar mas, para quem tem curiosidade em conhecer a cultura e o cotidiano, relatados por
quem neles está inserido, é fantástico.
Estive pela primeira vez na Ásia em 96, em viagem a Cingapura, Hong Kong, Taipé, Seul e Tóquio. Desnecessário dizer da minha
surpresa em descobrir que havia vida inteligente longe de Miami e Orlando.
De lá para cá muita coisa mudou - Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul consolidaram-se como países desenvolvidos, Hong Kong
passou a fazer parte da China, o Japão entrou em depressão crônica que não consegue superar e a China, que na ocasião era
citada como algo distante, atrasado, local apenas adequado para a instalação das fábricas das empresas destes outros países, deu
a volta por cima (qualquer semelhança com o Nordeste e a Sudene dos anos 70, espero não seja mera coincidência).
De 2008 para cá já fui à China 5 vezes e, por força da necessidade do estabelecimento de guanxi com meus parceiros, tenho tido
a oportunidade de conviver pessoalmente além da fria troca de e-mails, com pessoas que vivem este processo acelerado de cresci-
mento. Interessante é como eles dão valor ao contato pessoal. Dão-me a impressão de achar que enfrentar 36 horas de vôo, fuso
horário, alimentação, cultura e língua quase hostis, para tratar algo que poderia de uma forma ou de outra ser conduzida por e-mails,
é uma deferência pessoal a eles concedida e assim sendo é retribuída com especial atenção.
Conversar com jovens executivos que trabalham sete dias por semana sem limite de jornada, conhecer a história recente de seus pais
e avós, seus anseios e sua luta pela qualificação para vencer a guerra econômica com o resto do mundo, é algo que nos enriquece e
revigora.
Um conceito que comumente escuto deles é o de que a China não será a curto prazo a maior potência do mundo, ela voltará a ser a
maior potência do mundo.
Um abraço,
Celso Cavalcanti

Edvaldo Arlego disse...

Caro Girley. Será que é por conta desse comércio intenso que nasceu a frase tradicional "É u, negócio da China?" Abraços, Arlego.

Susana González disse...

Muy enriquecedor nuevamente, pero no nos has hablado de la comida, me acorde por el pato cantonés tan famoso, cuéntanos algo de esto, además de cuales son las bebidas favoritas y si te gustaron. Mil gracias.
Besos Susana

Danyella Monteiro disse...

Boa tarde professor Girley,
Adorei a matéria!
A propósito, gostaria de perguntar se todas essas lojas, inclusive as de grife, conforme citação em crônica anterior do mesmo blog, a quem se direcionam, se aos turistas, empresários, visitantes de outros países ou aos próprios chineses, já que eles praticam concorrência desleal causada também pela redução dos custos através de baixos salários? Quem é o principal mercado? Como é isso se os salários são baixos? Ou será que para alguns os salários não são baixos, ou a situação começa a mudar, ou esse tipo de mercado está voltado para os próprios empresários de lá, que tem dinheiro advindo de tamanhas transações comerciais, com dumping e etc.?
Também não entendi em que exatamente se parece com o Recife, pois nossa cidade é super suja, não tem jardins babilônicos no aeroporto e em lugar nenhum... fora o atendimento que na maioria do comércio é péssimo, a gente se não tiver cuidado é ludibriado, com atraso nas entregas, montagens, etc...
Tenho que tirar o chapéu mais uma vez para os chineses, uma pessoa feliz, satisfeita, tende a comprar mais e certamente é uma das funções dos jardins localizados “coincidentemente” no caminho das compras... ufa!
Abraço,
Danyelle Monteiro
Assessora técnica Uptec / Fiepe

Edvaldo Arlego disse...

Caro Girley.
Será que é por conta desse comércio intenso que nasceu a frase tradicional "É um negócio da China?" Abraços, Arlego

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