quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Terras Raras

Em 2017 tratei aqui no Blog de um tema que resultou numa surpresa para muitos leitores. Falo da postagem intitulada de A Encrenca da Renca, na qual repercuti um assunto ligado à decisão desastrosa do Governo brasileiro, à época, extinguindo a Reserva Nacional do Cobre e Associados – RENCA (leia em https://gbraziliro.blogspot.com/2017/09/a-encrenca-da-renca.html ). A meu ver, o assunto gerou alguns poucos debates, em nível nacional. É curioso como poucas pessoas e particularmente especialistas no assunto não deram a importância devida. Talvez faltasse espaço ou oportunidade adequada. Na referida postagem dei minha contribuição de alerta para o erro que se cometia. O assunto abrangeu um tema que pouco se explorava na ocasião, sobre as Terras Raras. O Brasil era governado por Michel Temer, que assumiu o governo em 31/08/16, após o impeachment de Dilma Roussef. Era uma época turbulenta, quando o Brasil tentava acertar os passos. O assunto, conforme falei acima, caiu no esquecimento. Lamentável. Recentemente, porém, o tema voltou a ser discutido a partir de uma série de reportagens na Folha de São Paulo sobre minerais críticos, incluindo Terras Raras como parte da pauta. Devido às repercussões e as severas criticas publicadas, algo de novo pode acontecer. Curioso nessa passagem foi que, entre outras notícias, o Brasil se surpreendeu com umas declarações do digníssimo Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, afirmando que não sabia o que era Terra Rara. Como cidadão comum e sem uma formação pertinente, até se tolera. Mas, como Presidente da República, digamos que foi imperdoável. Em 29 de agosto passado, ele disse: “eu nunca tinha ouvido falar nisso (terras raras). De repente aparecem os caras lá falando: ”não porque os minerais críticos...” Eu nem sabia que mineral falava, como ele é critico?“ Indiscutivelmente um infeliz discurso. Onde estavam seus assessores? Seus ministros da área? Claro que causou uma repercussão negativa internacional.
A propósito do assunto andei conversando com um especialista dessa área, detentor de longa história a contar, o Químico Industrial (com atribuições Tecnológicas), o paulista José Carlos Lucena que se revelou surpreso com a situação. Lucena foi Superintendente da Empresa da Orquima Indústrias Químicas Reunidas S. A. em São Paulo. Na nossa conversa ele foi categórico em afirmar “poucos sabem, incluindo autoridades do atual governo, que o Brasil já possuiu uma empresa pioneira e inovadora, a maior – única na América Latina – que produzia e exportava compostos de terras raras”. Segundo Lucena, um grupo de judeus europeus refugiando-se dos horrores da Segunda Grande Guerra, em 1940, naturalizados brasileiros, fundaram, em São Paulo, a referida empresa com o objetivo de extrair, processar e comercializar minerais pesados da costa brasileira. Minerais que, bem antes, eram colhidos de modo primário e, obviamente, eivado de interesses piratas, enviados à Europa e Estados Unidos como lastros de navios. Vejam só que assalto! Segundo consta, o objetivo inicial era obter tório das areias monazíticas usados na fabricação de camisas incandescentes de lampiões que iluminava ruas e residências. Com o passar do tempo, a coisa evoluiu e o que se obtinha eram tório e urânio, elementos importantes para fins nucleares. Uma riqueza fantástica à flor da terra, entre localidades no sul da Bahia (região de Prado), Espirito Santo e Norte do Estado do Rio de Janeiro. Ciente da riqueza nacional o Governo brasileiro, na década de 1940, proibiu as explorações e contrabando desses minerais, principalmente a monazita. A Orquima foi a pioneira na exploração e beneficiamento, das terras raras brasileiras. Segundo Lucena, os minérios obtidos não tinham muita aplicação no mercado nacional. Graças a competência da equipe técnica da empresa terminou colaborando com as indústrias cerâmicas, de tintas, indústria ótica, fundições e até açucareira, entre muitas outras. Em tempo, lembro que Lucena me informou que são chamadas de Terras Raras não por serem raras na natureza, mas sim por serem de difícil separação. O Brasil possui a segunda maior reserva mundial de terras raras, ficando atrás apenas da China que hoje se consolida no domínio sobre terras raras/minerais críticos sem concorrentes no horizonte. É duro saber que o Brasil já foi referência na indústria de terras raras mas, por descuido dos governos perdeu o fôlego. E pelo visto, as perspectivas são desanimadoras. O químico e pesquisador há décadas, Gilberto Fernandes de Sá (Professor da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE) afirma que o Brasil se descuidou do setor de terras raras desde a década de 1960. Ele defende que ao invés do Brasil firmar acordos com os Estados Unidos, deveria buscar parcerias com os chineses, que já dominam alta tecnologia para separação e refino de terras raras. Concluindo, faço um registro importante, que bem pode dizer do fracasso do Brasil nessa área estratégica: a Orquima foi estatiza. da na época do regime militar passando a se chamar Administração da Produção da Monazita (APM) diretamente ligada ao Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Nem vou tecer comentários. Deixo por conta do leitor ou leitora. Sei, apenas, que atualmente o Brasil exporta matérias-primas ou em estágio primário, enquanto o processamento e alto valor agregado das terras raras ficam no exterior. Pobre Brasil! NOTA: Foto ilustração obtida no Google Imagens

3 comentários:

Clóvis Cavalcanti disse...

Obrigado! Esclarecedor. A falta de noção do presidente assusta. Gilberto Sá, que você cita, é meu amigo. Foi vizinho em Olinda. Abraço.

José Paulo Cavalcanti disse...

E com essa gente tem jeito não, mestre Girley.

Walter Simeb disse...

Bom dia, querido amigo! Como sempre, excelente texto. Parabéns.

Terras Raras

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