Depois do apito final levantei-me da “arena” do Country Club, onde assisti a todas as partidas da seleção, e tomei o rumo de casa. Chateado, é claro, porque sou brasileiro e acho ruim, pra caramba, perder uma Copa do Mundo. A vitória ficou com os holandeses. Paciência.
Que coisa mais maluca, fiquei pensando no caminho. Por que querer sempre ganhar? Ganhar não, ser campeão! Gente mal acostumada... É muita nóia, meu Deus!... No país do futebol, segundo Jorge Amado, a lei parece ser sempre ganhar ou ganhar. Uma derrota, principalmente como a de hoje, inesperada e após um primeiro tempo impecável, é de amargar. O intervalo da partida parecia uma festa. Todo mundo confiante e o mínimo que se espera era um 3 x 0. Doce ilusão... A festa final, em Port Elizabeth, foi laranja holandesa e não verde-amarela.
Acabou-se a festa que reinou neste país, nesses últimos vinte dias. Ninguém fazia nada e todo mundo só pensava em futebol, sonhando com a festa do hexa.
Como a vida continua e a gente tem que trabalhar cai no meu particular de afazeres, enquanto observava a gente nas ruas. As reações são das mais diversas. Populares esbravejavam, alguns bêbados choravam, comerciantes lamentavam os investimentos perdidos, os bares e restaurantes, nem se fala. Fim de um carnaval fora de época. Era este o panorama da cidade e do Brasil como um todo, mostrado pela TV.
Entrei numa papelaria e assisti aos empregados balconistas retirando, a contra gosta, a decoração verde-amarela – guirlandas, balões e bandeiras – me olhando com cara de quem comeu e não gostou. “Foi a Holanda quem mandou fazer isto” disse um deles, com tom de piada, mas sem esconder o ar de decepção.
Na calçada, da mesma papelaria avistei um popular sentado no meio-fio, cabeça apoiada nos joelhos, bandeira enxovalhada de banda, debaixo de uma lata de cerveja e quase chorando. Penalizado com a figura, tentei consolá-lo dizendo que daqui a quatro anos tem mais e vai ser aqui, bem perto. “Ah doutô nem sei se tô vivo daqui prá lá!” esbravejou o sujeito. Pelo visto era uma pessoa que vive somente o presente. Quando fui me afastando, ele levantou-se e, digamos, com uma ira "cachorra da mulesta", gritou: “o que eu queria, agora mermo, doutô, era poder matar aquele fela da puta do Tiago Melo”. Encerrando a cena, vi o popular levantar-se, dar um tremendo chute na lata de cerveja, enrolar-se no pavilhão nacional e seguir seu destino.
Dessa historia real – lamentei não portar minha câmera para fotografar – a cena do homem enrolado na bandeira brasileira encheu-me de emoção. Retrato vivo do patriotismo que aflora no brasileiro durante as copas de futebol.
Encerrada a participação do Brasil na Copa, passa o espasmo coletivo de patriotismo que assola o país. Aos poucos são recolhidas as bandeirinhas que tremulavam nos automóveis, as banderolas das ruas, as bandeiras maiores são dobradas e colocadas nos fundos de gavetas, esperando a próxima copa. Depois disso, como se fosse pecado ou proibição, não se ouvem os gritos de “Viva o Brasil!” ou "É do Brasiiiiiiil!". A Pátria passa a ser uma abstração, outra vez, ou raro elemento de retórica nos palanques de campanhas eleitorais. Isto sim, que é lamentável e, em meu ver, parece ser mais doloroso do que perder um campeonato mundial de futebol. Falta patriotismo nesta terra brasilis. O brasileiro, de modo geral, cresce sem receber lições de patriotismo, ao mesmo tempo em que acompanha o processo de achincalhamento dos valores pátrios cometidos pelos representantes do povo, no Planalto Central. Sinto profundo pesar ao escutar um jovem afirmar que não acredita no Brasil ou que o Brasil não tem jeito. E isto, não é raro.
A Copa do Mundo de Futebol resume a única oportunidade, de fato, em que o brasileiro se identifica com a idéia de patriotismo. Por isso mesmo o popular tem vontade de matar e morrer pelo Brasil. Passada a copa, passa também a idéia concreta de pátria.
Precisamos incutir nos atuais brasileirinhos – desde aqueles que estão, ainda, na escolinha pré-primária – a noção de Nação e Pátria, desenhando e pintando a bandeira nacional, entoando diariamente o Hino Nacional e ensinando a História da formação da Pátria. Somente assim seremos um país completo, uma verdadeira Nação. Somente assim saberemos lidar com uma derrotinha qualquer num jogo de futebol.
Quando isto ocorrer (não será no meu tempo, certamente) não teremos, como hoje tivemos, o que eu chamei de Sexta-Feira de Cinzas.
Nota: Foto obtida no Google Imagens
sexta-feira, 2 de julho de 2010
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Voltando
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7 comentários:
O que falta ao Brasil nao eh patriotismo, eh lideranca. A gente segue a selecao de forma passional a cada 4 anos, na esperanca de renovar o titulo de campeao, de se sentir vencedor pelo menos em uma das muitas disputas da vida. A selecao lidera o pais durante a Copa.
Futebol eh uma das unicas areas de conhecimento que o mundo atribui maestria ao Brasil. E o sentimento do "popular" retrata isso. Enquanto brasileiro, pobre ou rico, saudavel ou doente, somos todos campeoes e imortais. A selecao representa 190 milhoes em acao, "pre frente Brasil, salve a selecao!".
Lula foi eleito em clima de Copa do Mundo ha 8 anos. Porque o Brasil ainda procura por um lider que consiga nos inspirar patriotismo, trazendo progresso, crescimento economico e pessoal para todos.
Alguem que inspire mudanca como algo palpavel quando "a patria de chuteiras" entre em campo pra uma nova batalha.
Alguem que nao soh nos convenca que "yes, we can" mas que compartilhe a visao e abra novos caminhos.
Alguem que nos inspire a seguir, a ajudar coletivamente os proximos desabrigados de Pernambuco, de Alagoas, do Haiti e da esquina. Alguem que inspire o time de 190 milhoes de brasileiros a alcancar a vitoria, juntos
Caro compánheiro Girley, falar do seu texto é desnecessário porque sabemos que é impecável, mas o verdadeiro culpado da derrota do Brasil foi a Imprensa. Os jornalistas, no afã de novidades acham-se com o direito de não respeitar o trabalho do técnico. Será que um deles permitiria que um leitor qualquer entrasse da sala de redação e ficasse o tempo todo interferindo na matéria que ele estivesse escrevendo? Duvido que permitam. Por certo, pertgurbaria seu trabalho. Do mesmo modo, o técnico tem o direito de ter privacidade no seu trabalho. Por outro lado, a todo instante e sempre foi assim, a Imprensa vive o tempo todo plantando críticas para semear discórdias entres os atletas para ver o paraíso virar infrerno, que parece dar mais ipobe. Que direito tem a Globo de exigir prioridade? Dunga, hoimem de caráter forte e de princípios dignos, coisa rara nesse país, teve razão e coragem para dizer NÃO! Todos os homens da Imprensa Esportiva se acham técnicos por excelência, mas quando um deles (João Saldanha) ocupou o cargo, não correspondeu. Qual dos que atuam hoje poderiam ocupar o lugar de Dunga? O segredo é que o futebol do futuro está nas mãos de quem investir em saúde, educação e acima de tudo em treinamento desde o infantil, como fasem os alemães. Tenho dito e vamos ao trabalho, pois tenho muitos livros para comercializar. Abraços, Edvaldo Arlégo.
Oi tio,fez-me lembrar do casaquinho pretinho no sofazinho, no dia em que assistimos ao penúltimo jogo do Brasil x Chile, no Country Club.
Beijos.
Bianca Paes Barreto
Prezado Girley,
Mais uma vez, impecáveis suas observações sobre essa Sexta-Feira de Cinzas. Infelizmente, não para mim. Como todo brasileiro, torcia no meu canto pela "canarinha". Mas, no fundo do meu coração, sem laterais sequer levemente parecidos com Roberto Carlos e o eterno Cafú vi, desde o primeiro jogo, "uma cronica de uma morte anunciada".
Na fase de classificação, estava claro que o Brasil, só se Deus fosse brasileiro mesmo, esse time chegaria à final. Onde todos deram de goleada, o Brasil teve dificuldades em vencer. E, Portugal, o mais dificil adversário da 1ª fase, só empatamos.
Prá piorar, tomamos gols de times como a Coreia do Norte e da Costa do Marfim!!!
A verdade estava estampada e só nosso "patriotismo torto" não deixava ver.
Não sou daqueles que agora diz que Dunga era teimoso, limitado e inexperiente. Muito pelo contrário, acho que ele agiu certo o tempo todo. E, mais, torço que ele continue ou seja substituido pelo não menos teimoso e raçudo Mano Menezes.
O que ninguem quer ver é que o Brasil está passando por uma entressafra natural de talentos. Quando digo isso me refiro a times como o de 58, 62, 70, 82, entre outros, onde do goleiro ao ponta esquerda (como dizem) todos eram incontestavelmente bons. Seus reservas idem; e o time não dependia de 1, 2, ou 3 jogadores somente.
Em 58, Pelé e Garrincha eram reservas. Entraram, e não saíram mais. Em 62, Pelé saiu contundido. Entrou Amarildo e o Brazil foi bi sem Pelé. Em 70, Saldanha pôs Pelé na reserva. Zagalo entrou, escalou Pelé, mudou outras posições, e o Brasil foi tri.
Voltando à minha afirmação que Dunga viveu uma entressafra, pergunto, quem poderia ter sido chamado para as laterais melhores que aqueles que ele chamou? E nas outras posições? Paulo Henrique Ganso e Newmar? Quem garante que fariam alguma diferença? E Ronaldinho Gaucho e Adriano inspiravam alguma confiança?
Dunga agiu certo. Chamou quem ele trouxe os jogadores de volta a valorizar estarem na Seleção. No passado, ele viveu como jogador, alguns que lá estavam apenas por melhores contratos e para fazer turismo.
Dunga sempre foi um homem serio e incutiu seu modelo moral à Seleção.
Quanto à nossa falsa ideia de patriotismo, achei bom sairmos logo. Tem vitimas das enchentes precisando de solidariedade e uma eleição pela frente onde a Copa de 2014 está em jogo. Até agora, nada se fez e meu medo é quer percamos (a sede, claro) proxima antes mesmo de começar.
Abraços,
Seu amigo Baiano (da Nigeria!!!)
Meu Caro Girley,
Como sempre sou pontual aos seus excelentes BOLG's.Na verdade faz um bom tempo
em que acreditávamos de corpo e alma nas disputadas em outras copas.Já se foram os momentos em que os dirigentes de Clubes se dedicavam com um espirito altruista e de uma dedicação exemplar.Com uma constante e duradoura doação pessoal. Os jogadores por seu lado eram em sua maioria oriundos da terra com fortes vinculos com a nossa gente. Hoje não é mais assim
lamentávelmente..O que constatamos que o amor a camisa foi substituido por "outros" interesses... Até para lavagem de dinheiro...Comenta-se que um grande clube Brasileiro, de grande torcida, tem recebido um forte apoio financeiro de grupos comprometidos com o tráfigo, em um determinado e grande Estado de nosso Pais.Os nossos melhores atletas,e até as futuras promessas,saõ negociados para o exterior.Nossa Seleção hoje é formada de "estrangeiros" que perderam, no tempo e no espaço, o vinculo estreito com as nossas torcidas.A CBF há muito se tornou uma OLIGARQUIA, bem como as Federações Desportivas, nos diversos Estados de nossa Federação. Portanto, tudo isto enfraquece sobremodo os nossos Esportes, e por excelencia o Futebol.Um dia com certeza isto também mudará!!!Mas para isto uma grande transformação terá que ocorrer.E só vejo através da EDUCAÇÃO.A Começar pela melhor qualificação profissional e salarial de nossos Professores, iniciando se possível pela base. Criar desde os primeiros anos escolares até ao Curso Superior uma Cadeira intitulada de CIDADANIA,onde seria ministrado desde a educação e civilidade no Trânsito,amor e defesa da Natureza,respeito aos mais velhos,proteção e Zêlo pelas crianças,valorização e respeito aos nossos Vultos, honestidade e integridade com a coisa Pública, venerar a nossa Bandeira e ao nosso Hino.Tristemente poucos conhecem e valorizam.Assim poderemos ter uma Nação respeitada e um Povo Forte.Sinceramente não vejo outra forma de se transformar esta nossa querida e amada Pátria, que também, queiram ou não, é também das CHUTEIRAS..Fiquei sensibilizado pela demonstração simples, mas de grande significação de Brasilidade, do homem simples que você encontrou ao retornar do jogo, cabisbaixo e triste, mas de uma atitude digna de exemplo, que muitos graduados e com relativa formação não conseguem demonstrar no nosso dia a dia.Renovo meus sinceros agradecimentos pela sua gentileza em não me esquecer e permitir que eu faça parte deste seu seleto grupo de leitores e admiradores. Forte e fraterno abraço.Fernando da Costa Carvalho, em 03/07/10.
Meu caro Girley:
fiquei e continuo muito triste porque uma das paixões da minha vida, a seleção brasileira de futebol perdeu aquela partida desastrosa, um pesadelo para mim. CHOREI, CHOREI, CHOREI, com minha bandeira na mão. Sou uma torcedora que não deixo de assistir nenhum jogo do Brasil seja amistoso, eliminatória, copa. E não tem isso de aceitar derrota não, SÓ quero é ganhar e ser hexa. Apesar de tudo parabenizo nossos jogadores, exceto Felipe Melo, aquilo não é comportamento, e penso que Dunga teve muitos acertos, mas errou quando não podia errar. O erro tem um preço caro e sob vários aspectos. Já estou de olho na escolha da nova comissão técnica, pensando cá com meus botões quem será o novo Técnico. (após 2012 penso no Felipão, no momento parece que há cláusulas no contrato dele) e já vem amistoso por ai, EUA. PRA FRENTE BRASIL, RUMO AO HEXA! Começaremos tudo de novo, Bjos , Regina Pinto Ferreira.
Caro Girley:
Impecável seu texto.
A derrota chega em boa hora,merecida.Afinal,se fossemos adiante por umgolpe de sorte,seria 6 x 0 no mínimo - Alemanha ou Espanha
Duas ponderações básicas - é preciso aprender a perder,e é preciso reinventar a criança e ensinar Patriotismo
Quem manda tirar aula de Moral e Civica ou OSPB das escolas?
Aliás,escola e familia - parte é com eles
É muita in-formação e pouca For-mação
Parabéns,meu querido.Concordo,corroboro,ratifico,apoio.
Nosso país precisa caminhar,produzir e se preocupar com os candidatos que ora se arvorar de candidatos
Vamos enxergar O VERDADEIRO JOGO.
Desde 1990,quando eu morava em São Luis/MA e trabalhava na CAIXA que eu sabia - se o BRASIL ganhasse,viria 'bomba' contra a população.
É a parte boa - os governantes precisarão do pós-eleição para jogar seus 'misseis' radiativos e maléficos.
Envio site de uma rádio de presente.Ouça solo de piano,romântica- tudo fica mais facil com música.
Um detalhe - ver a Argentina ir para casa foi tão bom quanto ganhar a Copa.Lamento...mas é verdde !!!
Cristina Henriques
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