quarta-feira, 30 de junho de 2010

Meu Povo Afogado

Não é a primeira vez, este ano, que venho a falar de tragédias coletivas. Tragédias em Angra dos Reis ao romper do ano, terremotos no Haiti e no Chile, enchentes em Santa Catarina e no Rio de Janeiro, um vulcão vomitando fumaça pesada e outras várias, mundo afora.
Agora, quando menos se espera, uma catástrofe, aqui bem próximo, decorrente de fortes chuvas no interior do meu estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Fico muito sentido e, até mesmo, temeroso diante desses “caprichos exacerbados” da mãe natureza.
As chuvas que caíram aqui por perto, na semana passada, resultaram num descomunal volume de águas ao longo dos leitos de rios e vales da região da Mata Sul de Pernambuco e Mata Norte do vizinho estado de Alagoas, transformado numa gigantesca torrente, já comparada a um imenso tsunami. De fato, a comparação é corretíssima. Em alguns pontos e, principalmente, em algumas cidades pernambucanas – como Palmares e Barreiros e União dos Palmares, em Alagoas – as águas se elevaram, aproximadamente, 20m. acima do nível normal. Em alguns pontos não restou pedra sobre pedra. As perdas materiais são incalculáveis. As vidas perdidas e o desolador quadro dos desabrigados assusta qualquer cidadão, por mais forte que seja. Cidades e Vilas, no caminho das águas, foram destruídas quase que por completo. Algumas, simplesmente “apagadas” do mapa. No estado de Alagoas, a cidade de Branquinha, por decisão da Prefeitura local, deverá ser reconstruída noutro local, provavelmente num ponto mais seguro e distante do leito do rio Canhoto.
O cenário nessas cidades e localidades ribeirinhas é desolador Vide foto a seguir, da cidade de Palmares - PE. Aliás, desolador é pouco, porque, na verdade, é desesperador. Toda ajuda humanitária prometida e que vem chegando poderá ser insuficiente. A cada cenário que se vislumbra ou imagens que chegam pela TV, produzem uma imensa sensação de impotência do homem, diante desses fenômenos.

Não faz muito tempo, acho que no inicio desta década, uma grande enchente colheu de surpresa a mesma região deixando tudo mergulhado num verdadeiro oceano. Perdas materiais e humanas de alta monta. Os governos, a sociedade organizada, os clubes de Serviço, como Rotary e Lions, e a solidariedade da população brasileira, em geral, ajudaram a amenizar a calamidade em que ficou aquela gente interiorana. Acredito que muitos ainda se encontravam em processo de recuperação, quando foram novamente assaltados pela torrente dessa semana passada.
Diante desse quadro, uma pergunta, que não cala, ronda as cabeças de quem “meteu a mão na massa”, os pés na lama e empacotou fardos de mantimentos e roupas para levar aos flagelados daquele episódio anterior: por que os governos Federal e Estadual não cumpriram o que foi prometido há dez anos ou noutras ocasiões de calamidade pública, nas mesmas áreas? Ora, meu Deus, a solidariedade humana, a assistência dos clubes de serviço e as doações da sociedade são apenas componentes de uma operação emergencial e paliativa. São ações para atender as necessidades do momento. Ou seja, são ações complementares, ao que deve ser feito pelos governos. A sociedade não pode substituir os governos nos papéis que a eles compete! Estava na cara que o que deveria ser feito, na região hoje destruída, passava por um grande investimento em barragens protetoras, em substituição das frágeis e debilitadas existentes, que já não suportam as águas que descem repentinamente, bem como a proteção das populações ribeirinhas que, sem outro destino, vivem praticamente dentro dos rios, despejando toda sorte de detritos contribuindo para o assoreamento dos cursos d´água. Isto sem falar da recomposição da mata ciliar, que desaparece às custas de um desmatamento predatório e criminoso. Tudo isto teria evitado um desastre tão grande quanto ao desta semana. Nada disso foi feito! Uma miséria!
Também, pudera, o Ministério da Integração Nacional, ao qual compete a missão de investir na prevenção de catástrofes, dispôs, neste ano, da ridícula dotação de R$ 71,0 milhões. Desse montante, o Brasil todo já sabe, 57% foram “desviados” para a Bahia, a fim de atender às necessidades eleitorais do ex-ministro Gedel Vieira que pretende vencer a eleição para governador naquele estado. Alagoas, segundo apurei, não recebeu nada! Ficha Suja nesse ex-ministro!
O senador Cristovão Buarque, num pronunciamento, sexta feira passada, a propósito das calamidades de Pernambuco e Alagoas foi enfático ao afirmar que os “políticos não agem corretamente para proteger a população que sofre com as cheias ou com a falta de chuva”. E continuou, “o presidente Lula sobrevoou as áreas alagadas, mas, daqui a duas semanas, com o fim das chuvas, o drama da população será esquecido. No próximo ano, com um novo presidente da República, as cenas se repetirão, “como se a chuva não gostasse dos pobres, quando, na verdade, somos nós (grifo meu) que não gostamos deles”. Buarque sugeriu, aquilo de sempre e que é sugerido por todo cidadão de são juízo:“diante dessa tragédia, despertemos o país para a necessidade de mobilizar recursos técnicos e financeiros para fazer obras de drenagem, de proteção de ladeiras, de contenção de encostas e de construções sólidas, que protejam a população pobre”. E finalizou pondo o dedo na maior ferida nacional, ao afirmar que “os pobres também não cuidam de si quando não votam certo”. Concordo com ele. E já sei que vão errar, outra vez, em outubro, pensando que vão tirar o pé da lama.
NOTA: Fotos colhidas no Google Imagens

10 comentários:

Geraldo Leal de Moraes disse...

Meu caro Girley

Para mim o maior desastre é a conclusão de Cristovão Buarque de que as coisas não mudarão e uma sensação de impotencia que se transmite de que somos incompetentes para mudar nosso rumo de nação.
Minha solidariedade a voce e ao guerrido povo de Pernabuco e Alagoas, terra de meu pai, Penedo as margens do São Francisco.
Um abraço. Estive na Grécia e estou escrevendo como voce o que vi.
Sou leitor assíduo de seu blog e tenho viajado com voce . Meu blog
www.geraldodialoga.bolgspot.com
Abraços ao companheiro e amigo.
Geraldo

david leal disse...

Prezado Girley,
Perfeitas as suas colocações.Concordo com tudo que você escreveu.O meu voto e da minha família,com certeza o PT não terá.Não apenas por tudo o que está acontecendo agora no nordeste,mas por tudo que vem acontecendo há quase dez anos neste país.
Abraço,
David

Marcelino disse...

Caro Girley,
Gabriel Rolemberg tinha me falado a seu respeito.
Sou Marcelino, o baiano, e fui representante do Governo da Bahia em Pernambuco/SUDENE no período de 1973 a 1977. Inclusive na época da “guerra santa”.
Li este seu comentário de agora sobre as enchentes em Pernambuco e Alagoas, que Gabriel me enviou. Realmente um absurdo o que nos submetem estes políticos “ficha suja” e na verdade eleitos pelos que mais deles precisam. E parece que vão mesmo errar novamente nesta próxima eleição.
Tenho uma frase que cunhei e sempre encerro em algumas colocações que faço às vezes para os leitores: O Brasil é o país do só presta quem não presta.
Abraço,
Marcelino

Ana Maria Menezes disse...

Girley claro que é uma situação das mais triste essa que estamos testemunhando. No entanto eu não apontaria o PT como unico ou o grande culpado. Todo esse quadro de inoperancia e descaso, já existe há dezenas de anos. Infelizmente os problemas sociais parecem não ser a preocupação dos nossos representantes, quando na verdade os mesmos deveriam aceitá-los como sua obrigação principal de trabalho, pois foram justamente eleitos para lutarem pela melhoria das comunidades que representam. Passar o "balde" ou seja a responsabilidade a outrem indiretamente formulando a expressão "a culpa não é minha" é atitude comum entranhada nos líderes políticos. No momento porém, quando muitos estão de barriga vazia, dormindo ao relento, (situações que não podemos permitir se prolonguem) devemos deixar nossos julgamentos para o dia da votação e dedicarmos todo nossos esforços em ajudar nossos irmãos.
Ana Maria Menezes

Pedro disse...

Terrível amigo Girley
Pedro Roberto Rivera
Santiago - Chile

Anônimo disse...

Terrível amigo Girley

Fernando da Costa Carvalho disse...

Mestre Girley,Não consigo ver as imagens apresentadas pelas TVs. Elas me chocam profundamente, confesso que me emociona ver tanta dor, miséria, daquela gente simples e por isto mesmo indefesa,diante da indiferença e do descaso de nossas autoridades, sejam Municipais, Estaduais e Federal.Quero ressaltar que tudo isto se tornou crônico. Vem de há muitos governos, e assim sendo fizeram "Escola", perpetuando nos tempos atuais, e lamentavelmente no Futuro, como se parece,os atos de conduzir o nosso sofrido País, notadamente a Região Nordestina ... O Nosso Problema, é como bem disse o grande baiano Ubaldo Ribeiro, que é a matéria Prima que é da pior espécie.O Cristovão Buarque é AINDA uma rarissima excessão de um Verdadeiro Homem Público, por isso mesmo se tornou incomodo aos demais.Quanto ao "Paquiderme" Gediel Vieira Lima só quero afirmar que a BAHIA de RUI Barbosa e CASTRO Alves, exemplos Maiores, não merece ter um Governante daquela estirpe...Infelizmente veremos ainda outras catastrofes como estas. A destruição da natureza pela volúpia desenfreada do homem nos leva com certeza a um futuro incerto e inimaginável. Só a fé em DEUS, é o único conforto que nos resta. Parabenizo novamente pelo oportuno enfoque, em um momento grave e triste, que você, com sua inteligência e alta sensibilidade, nos apresenta. Forte e fraternal Abraço,Fernando da Costa Carvalho-Recife,30/06/10.

Fernando da Costa Carvalho disse...

"Mestre Girley,Não consigo ver as imagens apresentadas pelas TVs. Elas me chocam profundamente, confesso que me emociona ver tanta dor, miséria, daquela gente simples e por isto mesmo indefesa,diante da indiferença e do descaso de nossas autoridades, sejam Municipais, Estaduais e Federal.Quero ressaltar que tudo isto se tornou crônico. Vem de há muitos governos, e assim sendo fizeram "Escola", perpetuando nos tempos atuais, e lamentavelmente no Futuro, como se parece,os atos de conduzir o nosso sofrido País, notadamente a Região Nordestina ... O Nosso Problema, é como bem disse o grande baiano Ubaldo Ribeiro, que é a matéria Prima que é da pior espécie.O Cristovão Buarque é AINDA uma rarissima excessão de um Verdadeiro Homem Público, por isso mesmo se tornou incomodo aos demais.Quanto ao "Paquiderme" Gediel Vieira Lima só quero afirmar que a BAHIA de RUI Barbosa e CASTRO Alves, exemplos Maiores, não merece ter um Governante daquela estirpe...Infelizmente veremos ainda outras catastrofes como estas. A destruição da natureza pela volúpia desenfreada do homem nos leva com certeza a um futuro incerto e inimaginável. Só a fé em DEUS, é o único conforto que nos resta. Parabenizo novamente pelo oportuno enfoque, em um momento grave e triste, que você, com sua inteligência e alta sensibilidade, nos apresenta. Forte e fraternal Abraço,
Fernando da Costa Carvalho-Recife".

Carlos Antonio Domingues da Silva disse...

Companheiro Girley,
Muito oportuno o artigo (nosso irmãos) – “Seu” Povo Afogado. Seus conhecimentos técnicos, adquirido na Sudene, asseguram as excelentes colocações expostas.
Tanto que mereceu a solidariedade e os merecidos cumprimentos.
Os maus políticos não pertencem apenas a um partido – O PT.
O nosso ex-Reitor e Senador por Brasília, Cristovam Buarque tem absoluta razão. Nada vai mudar!. Os “coronéis” das cidades atingidas, vão renovar seus mandados com o voto do povo sofrido, pobre e ignorante. Na Câmara Federal e no Senado (Calheiros) e até no Governo das Alagoas ( Fernandinho Collor).
Unidos os “políticos fichas sujas” vão voltar aos postos e o desvio do dinheiro público vai continuar solto.(eles também)
Carlos Antonio B Domingues da Silva

Tereza Viana Gadelha disse...

Girley
Você retratou fielmente o drama constante de nossa gente, infelizmente essa realidade nos aflige há muito tempo,
Tereza Viana Gadêlha

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