quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Carpe Diem porteño

Sempre que estou fora do Brasil faço questão de visitar os mercados públicos, museus e bairros fora do circuito turístico das cidades que visito. É uma forma de conhecer melhor a cultura e jeito de ser dos nativos. Nessa recente viagem que fiz à Argentina, não foi diferente. Tirei um bom tempo para ver coisas do gênero e, como sempre, com bom proveito.
Destaco, para inicio de conversa, minha visita ao Mercado de San Telmo, na parte histórica da cidade. É muito interessante ver a gente comum escolhendo e pesando carnes e pescados, frutas, verduras e legumes conhecidos ou outros desconhecidas pelas nossas bandas. O que é isto? Como se chama e como se come? Que gosto tem? Que fruto é este? É doce ou azedo? São perguntas que provocam uma conversa maior e, desse modo, fico sabendo mais dessa gente que sempre admiro. Não demora muita e eclode um papo, de modo geral com queixas sobre as crises, o governo e a carestia. É engraçado, porque os temas mudam apenas de endereço. Não raro surgem os que manifestam admiração ao Brasil. Penso que, às vezes, por amabilidade e outras por real convicção. “A Argentina será mais bem sucedida na hora que se dedicar à produção agropecuária e deixar o setor industrial a cargo do Brasil”, ouvi de um deles. Na opinião desse argentino, a indústria local está quebrada e não se deu conta. Não sei não... Acho que seja um exagero. De todo modo, vou acompanhar e conferir.
Mas, sensacional mesmo, no Mercado de San Telmo, foi visitar a área de antiguidades. Fui atraído, por exemplo, por um serviço para servir caviar. Coisa relativamente nova mas, interessante. Não me lembro de haver visto algum antes. Como caviar com torradas, como entorno de algum petisco ou prato. Em conchas e colheradas nunca provei. Tenho prá mim que deve ser meio enjoado. Coisa para nórdicos europeus ou russos. De origem alemã, o tal serviço estava exposto à venda. Não indaguei o preço, mas fotografei para publicar neste blog. Vide foto a seguir. A profusão de antiguidades e velharias, também, é de encher os olhos para quem gosta e cata essas coisas, como é o meu caso. Valeu a visita àquele Mercado. Outra visita importante foi a que fizemos – eu e meus familiares – ao Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires – MALBA. Localizado no elegante bairro de Palermo, cercado de palácios e mansões suntuosas do inicio do século passado e parques bem tratados, tem linhas de arquitetura contemporânea e uma estrutura funcional confortável e despojada, facilitando aos que o visitam.
Atualmente, Andy Warhol, o excêntrico Mr. America, tem seus trabalhos expostos atraindo uma multidão. Filas constantes e muito “trânsito” nas galerias. Como não faz muito meu gênero minha passagem, nessa sessão, foi mais rápida. Ao contrário disto, me detive muito mais nas galerias do acervo da Casa. Parei e contemplei os quadros de Frida Kalo e seu Diego Rivera, dos brasileiros de Di Cavalcanti, Portinari, Cícero Dias e contemplei devagar a tela Abaporu, da brasileira Tarsila do Amaral, uma jóia de 1928, preservada em vitrine blindada. Vide foto ao lado. Um dos meus favoritos artistas latino-americanos, o colombiano Botero, está, também, presente no Malba com suas costumeiras figuras humanas super arredondadas e que fazem tanto sucesso mundo afora. Magnífico. Visitar o MALBA é programa obrigatório em Buenos Aires.
Mas, nessa do meu carpe diem (aproveitar o momento) porteño, algo me chamou a atenção: o culto ao tango. É impressionante como o argentino preserva e difunde seu tradicional ritmo, com amor e paixão, eu diria. É quase uma “religião”. Velhos e jovens se entregam a essa paixão, resultando em exibições em plena rua ou parque, atraindo multidões no entorno. Dançado, cantado ou executado ao som de um bandoneón, haja tango por todos os lados. Não deixe de ver o filminho que fiz, no final da postagem! Conversando com um jovem argentino (meu sobrinho de coração) soube que o jovem que sabe “bailar el tango” faz o maior sucesso e, inclusive, facilita suas conquistas amorosas. Por isso, não são raros os salões e casas noturnas dedicadas ao ritmo e freqüentadas por jovens. Achei o máximo, esse envolvimento das novas gerações, porque é a melhor forma de preservar a cultura. Tem escolas de tango espalhadas pela cidade inteira. Aí, meu lamento: onde encontrar uma escola de frevo no Recife? Lembro, apenas, de uma rara na Avenida Norte e, que tenho prá mim, vive aos “trancos e barrancos” e sem adeptos. Pobre da nossa cultura.
NOTA: Foto e video do Blogueiro

5 comentários:

Anônimo disse...

Girley. Falar da Argentina, ou melhor, de Buenos aires, você sabe que me emociona muito.Muitos amigos já se foram, mas a alegria de voltar aquela terra será sempre renovada. Há muito o quê se ver e aprender sobre a cultura. Você está demais no seu Blog, até filminho! Não preciso repetir que está de parabens com tudo que você sempre tem para nos contar. Abraços, Leony

Luciana Altino disse...

O culto ao Tango! Bela dança!
E aqui onde estão os nossos cultos aos nossos ritmos e às nossas danças?
O Brasil está mais industrializado, pode ser, mas sempre mais esquecido das suas origens, tradições, antiguidades, e da super riqueza do nosso folclore.
Ótimo artigo.
Luciana Altino

Ana Maria Menzes disse...

Girley estou com você, comer caviar só em cima de torrada e veja lá, não sou das mais apreciadoras, chego mesmo a concluir que sou do time do "estomago de pobre" como diz o marido. Quanto ao Tango e o Frevo te digo que ví uns jovens (porque só bem jovem e saudável mesmo, aguenta fazer todo aquele malabarismo exigido na dança do frevo) exibido no palco do Clube Português durante o baile do Siri da Lata. Deveras fiquei muito impressionada com tanta beleza, inovação de movimentos, sintonia de rítmo e coreografia apresentada por aquele grupo. Não sei se são alunos de uma escola "aos trancos e barrancos" mas se forem o diretor da mesma está de parabéns. Viva o nosso frevo!. Pena que nossos joelhos não permitam tanto entusiasmo ao ouví-lo. Ana Maria Menezes

Mary Caldas disse...

Girley
Gostei muito da sua viagem à Argentina e do seu relato um verdadeiro guia de turismo porteño.
É de entusiasmar! As dicas do que fazer, comer, comprar e conviver em Buenos Aires são ótimas, mas o tango argentino tocado na rua com bandoneón é demais.
O blog do GB é um sucesso.
Parabéns. Abs, Mary

Socorro Kelly disse...

Adorei! Foi ótimo rever todas essas belezas q ,de vez em qdo., desfruto na linda Buenos Aires . Obrigada, querido amigo ! BJS, Kelly

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