segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Marola ou maremoto?

Como qualquer cidadão brasileiro e de sã consciência, estou ligado no debate da crise econômica mundial que se alastra nos quatro cantos do planeta. Não pretendo fazer nenhum comentário especial – por incompetência ou pelas complexas características do caso – mas, vou fazer algumas considerações, baseado em comentários na mídia, conversa com empresas e pessoas amigas aqui no Brasil e fora do país.
A primeira coisa que me ocorre comentar é a opinião do Governo Brasileiro e, particularmente, do nosso Presidente Lula. Desde o inicio do problema fiquei muito impressionado com os pronunciamentos do nosso mandatário, por serem excessivamente otimista, ignorando o fato concreto de que o Brasil é player do jogo da economia globalizada e capitalista. Pensando bem, no mundo de hoje, é inteiramente impossível, a qualquer país, ficar imune a este debaque econômico nas proporções do atual. Isto parece claro e cada vez mais certo, mesmo no “reino encantado de Lula”.
Fala-se muito do sistema bancário brasileiro, que é bem estruturado e se encontra numa fase segura. É verdade. Mas, este mesmo sistema bancário não vive autarquicamente, digo, independente de relações internacionais, porque boa parte faz parte de conglomerados internacionais e, por isso, vai ter lá seus percalços. Prova disso é que o Banco Central e o Governo maneiraram na questão do depósito compulsório, liberando bom percentual para manter irrigado o sistema financeiro nacional.
Depois disso, lembro que as grandes empresas brasileiras, internacionalizadas, com ações na bolsa de Wall Street, obviamente vão sofrer efeitos da crise, e as que, por razões diversas, dependem de transações no mercado externo – seja comprando matérias-primas ou vendendo seus produtos – vão certamente sofrer sérios efeitos do problema.
Ao mesmo tempo, considerando o que está ocorrendo com os preços das commodities – em baixas acentuadas – a situação começa a ser mais preocupante ainda. O petróleo, por exemplo, cujo preço do barril vem caindo todo dia, sem perspectivas de recuperação em curto prazo, remete a que os cálculos da receita projetada com o óleo brasileiro, da camada de pré-sal, devem ser refeitos e o resultado vai ser uma inesperada surpresa. Depois disso, tem o minério de ferro, a soja, o açúcar, o suco da laranja, fortes itens da nossa pauta exportações e por aí vai.
Ah! Mas o Dólar americano, na esteira da crise, se valorizou frente ao Real e isto vai representar uma recuperação das nossas exportadoras. É possível... mas, é bom lembrar que o mercado consumidor pode se retrair e isto pode gerar uma queda nas vendas ao exterior.
Estive conversando com uma pessoa da família, que vive nos Estados Unidos, e fiquei sabendo das mudanças nos hábitos do consumidor americano. Há muita preocupação e cautela dos que estão com o poder de consumo equilibrado, assim como há os incapacitados de consumir por estarem quebrados, depois de cair nas ciladas do crédito fácil. O clima, por lá, é de muita incerteza e de alguma revolta. Ora, se está sendo difícil na terra de Tio Sam, será difícil, também, para muita gente ao redor do mundo e o brasileiro não é melhor do que os outros. Imagino que, por estas horas, os chineses devem estar calculando as perdas devido à retração do consumo dos norte-americanos, que são os maiores compradores das bugigangas chinesas.
Conversei também com representantes de algumas empresas locais e cheguei à conclusão de que paira sobre elas “nuvens pesadas” sinalizando uma tempestade a qualquer momento. Um deles me disse que, por sorte, está com o almoxarifado abarrotado de componentes importados e, por enquanto, o Dólar alto não afetará seus negócios. “Daqui a três meses, espero que o Real se valorize, outra vez, e minhas compras de componentes sejam viáveis. Caso contrário vai ser difícil segurar...”, explicou meu interlocutor. Outra, estava preocupada com o preço do componente principal e mais valioso do equipamento que produz, porque é de origem norte-americana e, portanto, vai depender de um Dólar mais caro. Está com medo de perder a competitividade de mercado. Noutra empresa, que além de comprar componentes no exterior, vende muito no mercado externo, considera que a alta da moeda americana vai ser mais conveniente ao seu negócio. Isto, se não houver retração no consumo. Falei ainda com outra, multinacional, com sede na Europa e unidade no Recife e ouvi uma explicação interessante: apostou (não sei como) numa valorização do Euro e, com isto, orçou a produção e a comercialização anual com uma taxa de cambio valorizado. Acertaram na mosca. Estão tranqüilos, mesmo que temporariamente.
É isso aí. Esta coisa, de uma forma ou de outra, vai nos afetar. O pãozinho de cada dia vai subir, a ceia do Natal vai ficar mais cara e quem planejou viajar para o exterior (como é o meu caso) vai ter que esperar o furacão passar, juntar os pedaços e rever seus projetos.
É prudente, então, que não acreditemos na idéia de marola de Lula, porque nem ele mesmo acredita mais. Notaram? Resta saber se é marola ou maremoto?
Nota: Fotos obtidas no Google Imagens

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro companheiro Girley, recebi um e-mail de Rubens Vaz da Costa e ele também comenta essa situação, Vou copiá-lo e entregar ao amigo na próxima segunda-feira. Quanto à sua dúvida, acredito que nem é uma coisa nem outra. É um tsunami; Abraços, Edvaldo Arlégo.

Geraldo Leal de Moraes disse...

Caro amigo
Muito bom senso em suas palavras.
Caldo de galinha e prudencia não fará mal a ninguém.
Depois mande um comentário do texto do Rubens Vaz da Costa.
Um abraço do amigo e companheiro daqui de Florianópolis.

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