quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Ôxente, assim não dá (2) (Passe o Celular)

Meu genro, Nigel Davidson, é australiano de New Castle (200 km ao Norte de Sidney). Com seu tipo nórdico, decidiu viver algum tempo, com Manuela, entre nós, aqui no Recife. Foi a maior alegria na família, tê-los por perto.
Mas, a minha maior preocupação era ver aquele rapagão, de quase dois metros de altura, típico escocês, herdado dos seus ancestrais, solto pelas ruas do Recife, cheia de oportunistas "carentes" e, aqui ou acolá, um assaltante para tirar a tranqüilidade.
Ele, muito descontraído, ia e vinha pelas ruas da cidade, com boa desenvoltura e cheio de confiança, sobretudo porque, muito rápido, dominou o idioma local.
Eu, pelo meu lado, recomendava toda hora muito cuidado, sobretudo nas ocasiões das caminhadas noturnas. Ele tem a mania de ir a todo lugar “rodando” sobre os próprios tênis, tamanho 45.
Tudo corria muito bem até a noite em que dois sujeitos muito feios, na opinião dele, numa moto, o espreitaram e, armados de revólveres, o atacaram tomando-lhe alguns trocados e o telefone celular.
Assustado, o australiano correu para casa, bem perto do local do assalto, e do telefone fixo me avisa que fora assaltado. “Fui assaltado, Girley”, disse-me com a voz embargada. “Mas, lhe machucaram?” perguntei logo. Com a resposta negativa fiquei mais tranqüilo. “Graças a Deus, entendi o que eles falavam. Foi bom aprender falar português” desabafou meu pobre genro, manifestando alívio de estar em casa, com segurança.
Acredito que, somente nessa noite, ele entendeu nossas recomendações e os perigos que corria, ao circular de peito aberto (ele tem um respeitável chest de nadador australiano) e tranqüilidade.
Viver no Brasil precisa ter peito, meu filho”, disseram a ele, em algum momento. Ele deve ter traduzido “ao pé da letra” e pensado: “é comigo mesmo”. E, foi por aí...
Taí, no que deu...
Passado o susto e ficha caída, Nigel tratou de avisar ao pai dele na Austrália, Mr. Michael Davidson, o ocorrido e recomendar que deletasse o número do celular roubado.
Surpreso e intrigado, Mr Davidson perguntou: “por que o celular?”. Na cabeça dele um celular só tem serventia para seu proprietário. “O que esse ladrão vai fazer com seu celular, meu filho?” Com um frouxo de riso, Nigel explicou que aqui no Brasil é muito comum roubar celulares. “Que coisa mais rara!”, retrucou Michael Davidson.
Mas, o melhor ainda estava por vir. Mr Davidson, sorrindo e satisfeito porque o filhote havia saído ileso da emboscada, perguntou: “mas, também, agora você deve ser uma pessoa famosa aí no Brasil... porque, imagino, que isso deve ter sido noticiado na mídia escrita, falada e televisada”. Nem precisa dizer que Nigel – já bem abrasileirado – dobrou a risada. Riu, riu, "à bandeiras despregadas".“Que nada dad... aqui, só é noticia para a mídia quando a vitima é assassinada!”
Se Mr Davidson falasse português certamente teria exclamado: “Ôxente, assim não dá!”.
Nigel e Manuela mudaram-se para a Austrália desde janeiro passado. Acho que por lá estão livres de assaltantes e ladrões de celulares.

Nota: A imagem de uma caricatura foi colhida no Google Imagens.

Esta postagem é dedicada a Manuela e Nigel felizes, na distante Austrália

8 comentários:

Anônimo disse...

Girley, cada dia seu blog demonstra conhecimentos valiosos. Já existe grande conteúdo para escrever um livro., um universo diversificado de informações.
Parabéns companheiro.Sou leitora de suas historias.
Márcia

Anônimo disse...

Obrigada Dr Girley,
através do seu blog tenho aumentado os meus conhecimentos e também me divertido bastante.abraços
Maria José Andrade (SESI/PE)

Anônimo disse...

Aê, Girley, contaste com muita graça. Cotiado de genrão. Abrasileirou-se mesmo!
Beijo
Maria

Anônimo disse...

Sobre o assalto ao seu genro australiano, aqui para nós é de nos "matar" de vergonha! Que impressão ele levou do Recife, de Pernambuco, enfim do Brasil? É caro companheiro, não temos nenhuma segurança. E por isso fujo de algum evento durante a noite. ÀS vezes, até do Rotary! Tenho que pensar duas vezes antes de sair de casa!. Um abraço e continue nos deleitando com suas estórias no bolg. Fernanda.

Anônimo disse...

Caro Girley,
Lamento pelo Nigel, amigo. Essa nossa terra merece ser repensada. Os TREs estão fazendo uma campanha nessa direção. Divulgue-a.
Precisamos aprender a selecionar melhor para quem damos nossos votos e acreditar menos em marqueteiros e estatísticas nas horas de eleição. Ler menos jornais e mais ficha corrida de candidatos.
Só assim começaremos a mudar nosso país.
Não consegui mais falar com vc nem no seu telefone. Mas, deixei muitos recados.
Um abração
Ogib Teixeira de Carvalho Filho
Presidente da ABRAEX

Nigel Davidson disse...

hahaha gostei Girley!

Estou aqui no meu trabalho...comecei a ler seu blog no hora do almoco aqui! Muito massa! ... me lembra muito do meu tempo ai com voces...(o assalto foi nada!) soh tenho lembrancas boas! e fico pensando da proxima viagen ao brasil que a gente vai organisar.

Saudades, visse!?

Abraco grande

Nigel

Samuel Sganzerla disse...

Fantástico, Girley! Muito bom o tom irônico que essa postagem teve sobre esse assunto tão impertinente e enfadonho que é a violência urbana no Brasil. Chega a ser cena de filme de comédia (nacional, é claro)o pai do teu genro falando com ele. Realmente, o Brasil é o país dos contrastes, interna e externamente.

Abraços.

Anônimo disse...

huahuahua.. Ri tanto que chorei..
a última vez, foi no São João com o fantástico XOXOTEANDO.. kkkkk


cada vez melhor hein?!

Parabéns..

^^
Raul Fellipe, 20
Bonito-PE

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