quarta-feira, 20 de agosto de 2008

BRASIL: SEM MEDALHAS DURADOURAS

Constrangimento nacional depois do jogo de hoje (19.08.08) entre Brasil e Argentina, pelo ouro olímpico, em Pequim. Ronaldinho foi “paralisado” pelos hermanos porteños. Discussões, desculpas de “amarelo”, brigas e expulsões de campo. Uma confusão sem fim. Que tolice e que palhaçada. Sim, tudo isto é tolice de quem se habituou a viver o “reino” do futebol, vassalo, inclusive, de um Rei!
Esquecem que, dessa vez, perdemos para um adversário a altura. Pior foi perder (com todo respeito) para Camarões, de outra feita.
Sabe minha gente, precisamos aprender a perder. Não é possível vencer toda vez! Assim não teria graça! Precisamos ter mais humildade e, sobretudo, fair-play (jogar limpo). Precisamos encarar a coisa com mais equilíbrio emocional e civilidade e, por fim, ter espírito esportivo, porque, de fato, o mais importante é competir. E, saber perder quando for preciso.
Bom, resta a esperança de que, quem sabe, as meninas “lavem a alma” tupiniquim. Aliás, diga-se de passagem, que meninas danadas. Dunga podia convocar algumas delas. Imagino que a rapidez é porque para elas não sobram bolas! Ui!
Tenho acompanhado, na medida do possível, o desenrolar dessa Olimpíada e venho fazendo algumas reflexões. Por exemplo, Diogo Hipólito, Jade ou Daiane e um dos judocas (não lembro o nome) não conquistaram as esperadas medalhas. Coitados desses moços.
Fico pensando, nessas minhas horas de observador pela TV, na angustia que rola nas cabeças desses jovens atletas brasileiros. É muita pressão gente! Não tem sistema nervoso que suporte. Por mais treinado e mais preparado psicologicamente é muito difícil enfrentar fortes concorrentes, público exigente, mundo estranho e 180 milhões (nem todo mundo, é verdade) de brasileiros, no outro lado do planeta, esperando a hora de “correr para o abraço”, em plena madrugada. Tudo por uma imensa necessidade de afirmação de uma Nação carente de prestigio e de certo modo alienada, sem perceber que existem outras “olimpíadas” que devemos ganhar com mais urgência e com medalhas mais socializáveis e mais duradouras, como são as das corridas contra a fome e o baixíssimo nível da Educação.
Eu não gostaria de ser ou de ter na minha família um jovem no lugar do Hipólito, Jade ou Daiane. O estresse só pode ser percebido quando rolam as lágrimas da decepção nas faces desses moços, ingenuamente, pedindo desculpas ao Brasil por não haver feito bonito. Coitados... não percebem que já vivem fazendo bonito e são campeões antes de Pequim. Não percebem que o Brasil e meio mundo já os consagraram e o pedido de desculpas devia ser ao inverso.
Não! Não estou querendo reduzir de importância o fato de participar e concorrer numa Olimpíada. Até porque, na minha cabeça, quem chegou por lá já chega como campeão. Não é isto! Pelo contrario, acho que é importante participar. E, se ganhar, tanto melhor. Afinal, o esporte faz parte da formação de um povo e da educação dos jovens.
Mas, estou querendo fazer ver que, antes de ganhar medalhas de ouro, prata ou bronze em Pequim, temos o imenso desafio de ganhar, por exemplo, a “Olimpíada” da Educação. O Brasil acumula riquezas materiais fantásticas, está prestes a se tornar uma potencia petrolífera, é a 10ª. economia do planeta, é o reino do futebol, do carnaval e da cachaça, tem mulheres bonitas e sensuais, como Gisele Bündchen, “carregada de medalhas”, tem sol e mar, pois é um Patropi! Enfim, é o maior escambau da Terra! Não sei bem o que significa escambau, mas sei que deve ser o máximo, pelas formas que o termo é usado. Mas, e a Educação? E o Conhecimento?
Nossa Educação – que seria a base da prosperidade social e econômica – é um horror. Está prá lá das cucuias (eis aí outro termo muito usado, nestes casos), o que é péssimo.
Pois é, minha gente, antes de qualquer coisa, precisamos dos coachs (técnicos) e “atletas” da Educação.
A propósito disto, a revista Veja desta semana traz uma boa matéria investigativa mostrando nossas deficiências. São dados de matar de vergonha qualquer Nação. Imagine o que seja este País com: 22% dos professores do ensino básico não tendo diploma universitário, sem computar os leigos, que ensinam tudo errado, nos grotões do Nordeste e da Amazônia. Imagine que numa lista de 57 paises, o Brasil é o 52º. lugar em conhecimentos de ciências e o 53º. em matemática. 60% dos estudantes chegam a 8ª. série sem saber interpretar um texto ou efetuar operações matemáticas simples e 16% dos alunos repetem a 1ª. série do ensino fundamental.
É isto aí... estamos perdendo a mais importante das olimpíadas, que é a do Conhecimento.
Diante disto, só nos resta lamentar porque não sabemos perder nas canchas e campos de futebol, quando o que mais fazemos é perder fora deles. Perdendo inteligências, recurso humano adequado, oportunidades, tempo e progresso.
Por isso, não tenho dúvidas, somos um país sem medalhas douradas, digo, duradouras.

Nota: As caricaturas de Ronaldinho e Gisele Bündchen foi obtidas no Google Imagens

4 comentários:

Anônimo disse...

Girley:
Sou brasileiríssima, mas até que gostei do Brasil ter perdido (futebol). Não
gostaria de ter perdido para a Argentina. Mas, paciência! Esses jogadores
precisavam de uma lição. Eles têm dado muitos desgostos a torcida. Eles
ganham muito dinheiro e se quer, dão o retorno esperado. Ficam atordoados
com o que ganham e começam a fazer besteira. Veja o caso Ronaldo. Com
relação as "meninas" do futebol, dou o maior ponto a elas pela garra,
dedicação, empenho. Elas merecem. O que é triste é vê-las lutarem tanto e
não terem o mesmo prestígio dos homens.Quanto as outras competições, sou
contra a tudo que for extremado. Os atletas de modo geral, são levados a
exaustão. As "crianças" não vivem. É treino, cobranças. Não têm tempo para
mais nada. Até que ponto isso vale a pena?! Jade por exemplo, dá pena.
Quando vejo aquela cara de bebê sofrido, tenho vontade de colocá-la no colo
e tirá-la daquele martírio. Não sei como os pais permitem essas coisas.
Com exceção das lutas, todos os outros esportes para mim são válidos, mas
dentro de um certo limite. Sou radicalmente contra a busca da superação.
Isso é válido quando se trata de pesquisas científicas, pois trará
benefícios para a humanidade. Mas, nos esportes?
Basta fazer bem, tudo que se faz. Não precisa ser o melhor dos melhores.
Aliás, todo esse dinheiro investido seria mais útil se fosse empregado na
Educação e na Saúde.
É isso aí.
Rinalva Silveira

Anônimo disse...

Amigo Girley
Gostei muito de seus comentários sobre nossa pobre
participação nas olimpíadas. Mais que os atletas, isto
demonstra o quanto é deficiente nossa plítica de educação
esportiva/física, o que rebate na educação como todo
que você bem comenta.
José Antonio (Joe) Gonçalves

Anônimo disse...

Caro Girley:

Brillante tu artículo sobre las Olimpíadas y muy acertadas las reflexiones de la amiga Rinalva. Como argentino, aunque gusté mucho de haberle ganado a Brasil, al igual que tú, pienso que hay otros desafíos "olímpicos" más importantes que afrontar, cual son el hambre, la pobreza,la desigualdad y la ignorancia. Es así: ojalá nuestros países puedan algún día tener más "medalhas duradouras que medalhas douradas". Un abrazo a mi querido amigo Jô.

Até breve.

Jorge Morandi

Marcos Aurélio disse...

Girley:

Aproveitando a referência sobre a reportagem da Veja, estou enviando o endereço do site da ONG Escola Sem Partido para que seja divulgado.

http://www.escolasempartido.org/

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