quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

QUE SUDENE É ESSA AÍ?

Ontem, por várias ocasiões, tentei fazer alguns comentários a respeito da solenidade de posse do Superintendente da “nova” SUDENE, o baiano Paulo Sérgio de Noronha Fontana. E tenho comigo inúmeras razões para fazer isto.
Foi um exercicio dificil e, de fato, tive imensa dificuldade. Fazer críticas negativas – só era o que me ocorria – a um projeto pelo qual torci cinco anos! Li os jornais do dia e vi que a imprensa aberta se encarregou de dar o tom critico, ao comentar o evento. De modo correto, ninguém pode negar. O colunista econômico do Jornal do Comércio, Fernando Castilho, foi preciso nas suas observações.
Que situação difícil para quem nasceu e se criou profissionalmente sob a sombra da velha SUDENE. Empaquei por duas ou três vezes. Travei o meu pensar. Reagi. Como posso entender tudo aquilo? Restou-me, então, ceder.
Começo pelo local. Horrível ter que me espremer no foyer do Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco, um espaço que não comportava mais do que 100 pessoas, ali, bem pertinho do amplo edifício sede da SUDENE, que teve seus dias de glória, nas décadas de 70, 80 e 90. Acho que subestimaram a assistência. Estima-se que havia 300 pessoas. Acho que esqueceram se tratar de um fato há muito esperado e, por isso mesmo, despertando a atenção de meio mundo. Somente os ansiosos funcionários – ativos e aposentados – poderiam encher aquele pequeno espaço, porque afinal, repito, era apenas o foyer. E foyer é uma palavra trazido do francês e que significa sala de espera, de recepção ou local de passagem para um outro espaço mais importante, onde ocorre algum evento. Constrangedor... Quem te viu e quem te vê!
Mas, esquecendo foyer, assistência, dias de glória e outros aspectos, o que mais preocupa é o que está por vir.
O que poderá ser feito numa Autarquia Federal que não tem, sequer, uma rubrica própria no Orçamento Geral da União – OGU?
Pior do que isto é saber que no projeto de recriação da SUDENE estava previsto a gestão e execução de programas, com 56% dos recursos financeiros do Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional – FNDR, formado por 2% do IPI e do IR arrecadados, sem dúvida o melhor instrumento da nova política de desenvolvimento regional e que, ironicamente, terminou sendo vetado pelo Presidente da Republica, por recomendação do Ministério da Fazenda. Acontece que, com isto, “cortaram na carne”, porque tirou também a verba de custeio da Autarquia. E agora José? Aliás, e agora Paulo Fontana?
Lembro-me que, no passado, quando os recursos destinados à SUDENE (falo de um passado glorioso) eram reduzidos, cortados, contingenciados, ou coisa parecida, os técnicos idealistas, que “tocavam o barco”, não tinha dúvida de usar o que se chamava de criatividade. Parcerias com uma ou outra entidade, nacional ou estrangeira, e dava-se conta do recado. Muita coisa foi viabilizada, desse modo. Havia, contudo, verba de custeio. Mas, sem isto... Sei não.
Até que eu saiba, à nova SUDENE restou, apenas, a atribuição de analisar os projetos do tal FNDR. É muito pouco, pouquíssimo para quem já fez muito mais do que analisar projetos. Bom não esquecer e todo mundo sabe que, quem libera a verba é quem tem mais poder. Se assim continuar, cabe indagar: será que essa analise vai ser independente das injunções políticas?
E, de resto, o que se viu naquele foyerzinho (nunca mais vou esquecer!) foi um festival de declarações políticas, com altos e baixos, que, na prática, deverão surtir pouco efeito. Gozado que, alguns recorreram às sagradas escrituras, transformando a cerimônia num verdadeiro culto ecumênico, como disse Castilho no JC de ontem, já que havia na mesa principal, católicos, protestante e judeu que não deixaram o verbo “ressuscitar” passar em branco. Vi a hora de se travar uma quente discussão religiosa. Honestamente, foi meio patético. Ah! Sempre em tom de palanque eleitoral. Já pensou? Gostei de pouquíssimas coisas ali ditas. Lembro que o Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, foi feliz ao lembrar a inteligência de pessoas, como Tânia Bacelar, que inscreveram seus nomes na defesa do soerguimento da Instituição e, surpreendendo a muitos, garantiu que vai contribuir com uma visão regional, afirmando que o que for bom para a Bahia ou o Ceará, por exemplo, terá o aval de Pernambuco. Vamos ver!
Indiscutivelmente o foro político, que a SUDENE sempre propicia, foi aproveitado. Contudo, poderia ter sido de melhor qualidade.
Com boa dose de ceticismo, que SUDENE é essa aí?

NOTA: Foto do Edifício Sede da Sudene, no Recife, obtida no Google Imagens

3 comentários:

Anônimo disse...

Girley,
Entao vc chegou a trabalhar 30 anos na SUDENE!!!! Eu 1/3 disso. Sai da SUDENE para a UFPE em 1973, pq tinha um filhote novinho para cuidar.
A SUDENE ficou na minha lembrança como um projeto-sonho da juventude. Nao participei do declinio.
Só nós q vivemos a antiga SUDENE podemos avaliar o conteudo quimerico q estava envolvido no nosso trabalho. Nao acredito nesse ressussitar: os tempos sao outros, as perspectivas e necessidades outras, o Nordeste outro.
Foram 10 anos lindos da minha vida!!! E mais a camaradagem q tinhamos entre os colegas, o q nao encontrei em outros espaços profissionais.
Talvez seu grande incomodo fosse parte do ambiente, parte da nostalgia!
Um abraço da colega sudenita,
Celina

Anônimo disse...

Girley
Suas dúvidas a respeito dessa SUDENE são minhas. Permita-me sugerir um artigo que mostre a todos, e principalmente à imprensa, que a SUDENE não era somente o FINOR, usado e abusado pelos mesmos que a destruíram. Gostaria que lembrasse as importantes ações nas áreas de educação, saúde, treinamento ( pessoal dos Estados e da própria SUDENE) , pequena e média industria ( centro de treinamento, criação dos Nais), planejamento orçamentário ( adotado pelo governo federal (INOR) e implantado por Antonio Amado e equipe de técnicos da SUDENE) planejamento urbano, contas regionais,indicadores sociais, eletrificação rural, estradas vicinais, pesquisas marinhas, agricultura ( extensão, irrigação ,etc) centrais de abastecimento,infraestrutura, saneamento,turismo,apoio à UFPE na criação dos cursos de geologia e engenharia de pesca,recursos naturais, e por aí vai. Todas essas ações foram fundamentais para que os Estados se estruturassem e se engajassem no processo de planejamento e desenvolvimento da região. Tudo isso sem contar com as transformações não visíveis e quase difíceis de dimensionar na área social, tais como: participação da mulher como profissional, mudanças de hábito na alimentação, mobilidade social, valorização dos cursos de economia, administração e finanças, com consequente valorização das profissões, entre outros. Muitos aspectos poderiam ser mencionados como resultado positivo da presença da SUDENE no Nordeste. É muito duro para nós, que lá nos fizemos profissionalmente e trabalhamos com denôdo e amor, ouvir que a SUDENE foi inoperante, e que nada resultou dos seu trabalhos exceto apenas algumas pobres indústrias. É isso aí. Foi mais um desabafo. Beijos de Leo.

Anônimo disse...

Que pena não é Girley? O que é isso afinal? O que somos e pra onde vamos, nós nordestinos? Sempre há que pensar na lógica maior neoliberal da qual só nos libertaremos com uma mudança mais global. Fora disso nem adianta chorar o passado, porque passou...
Rosa Carneiro

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