domingo, 8 de outubro de 2023

Rio Sangrento

Há poucos dias, uma amiga brasileira que vive na Suíça, seguidora deste Blog, me liga assustada pedindo noticias acerca da situação politica no Brasil e afirmando haver recebido um WhatsApp dando conta de que já se trava uma guerra civil por aqui. Naturalmente que compreendi a apreensão da amiga e, logo, considerei duas variáveis a pautar nossa conversa: a distância e a placidez do local onde ela vive e a proliferação das chamadas fakenews nas redes sociais brasileiras. Tentando acalmá-la garanti que, embora tantos percalços sócio-políticos a situação não pode ser tomada como uma guerra civil. Contudo, como a conversa bateu forte na minha cabeça, venho revendo minhas opiniões a respeito da situação reinante Brasil afora, admitindo que, com tantos focos de violência urbana e a impotência do Estado para estabelecer a ordem e a tranquilidade social, muitos são aqueles que enxergam a conjuntura como sendo de pura convulsão social. O recente episódio que resultou na morte – por engano – dos três médicos, de passagem pelo Rio de Janeiro, onde participavam de um congresso internacional configura uma verdadeira falência do Estado e a vitória do paralelo “estado” do crime organizado. É assustador o fato de que a mando dos chefões, quatro atiradores encapuzados executaram a “queima-roupa” quatro inocentes profissionais de alto nível, numa roda de conversa em aprazível quiosque na região da Barra da Tijuca. Os assassinos saíram crentes de que haviam eliminando um rival traficante, com o qual disputam o domínio de área de atuação. Um dos médicos era visivelmente parecido com o alvo da ação para a qual foram incumbidos. Ora, meu Deus, onde estamos? Em que mundo vivemos? Morreram sem ter ideia do motivo que foram vítimas. Inocentemente. Revoltante para os que ficam e que restam com o desafio de sobreviver ao clima tão pesado que se experimenta nos dias atuais. Mais curioso, ainda, foi o fato de que os próprios chefões traficantes, instalaram, dia seguinte, um “gabinete de justiça próprio” e decidiram pela eliminação dos suspeitos assassinos, depois encontrados mortos. O argumento noticiado é de que foram incompetentes ao executar a “encomenda” e, tão somente, buscaram evitar uma perda de tempo em ter de enfrentar embates com a Polícia na busca de investigar os motivos e os autores do crime. Assim. Simplesmente. Parece mentira. Aí, eu pergunto, com que cara fica o Estado Brasileiro e, particularmente, o do Rio de Janeiro diante desse Poder Paralelo que manda, desmanda e executa ao bel-prazer? Calcula-se que 25% da população do Rio de Janeiro vive sob as ordens dessas facínoras comandantes de territórios controlados pelo crime organizado. É um verdadeiro Rio Sangrento. Triste é saber que com o passar dos últimos tempos, outras grandes capitais ou cidades de médio porte no restante do país estão sendo alvos de fixação de gangs criminosas que fazem do tráfico de drogas a mola mestra das suas ações perversas e que deterioram o tecido social brasileiro a passos largos. Onde iremos parar? Estados do Nordeste, entre os quais Ceará, Pernambuco e Bahia já são locais onde o crime organizado têm praças estabelecidas e vêm tirando o sossego das populações. Nesses últimos dias ouvi falar em investimentos do Governo Federal em programas na área de segurança publico do país, setor onde o Poder vem sofrendo amargas derrotas.
Por curiosidade fui investigar no quanto andam os valores aplicados pelo Governo nesta seara. Para minha surpresa descobri que as despesas com a segurança publica correspondem a cerca de 1,38% do PIB, que, em 2022, beirou a marca dos R$ 10,0 Trilhões. Se esses bilhões aplicados são suficientes é uma questão a se examinar, mas, o que não resta dúvida é o fato de que na origem o problema da insegurança nacional reside na falha estrutura social que temos. O Estado não vem dando a devida atenção aos setores de base, sobretudo na Educação. Grande parte dos hoje marginais, que atuam nas hostes do crime organizado, são oriundos de uma parcela da sociedade que vive esquecida pelo Poder Público e, por isso mesmo, não tiveram oportunidade de se qualificar para se integrar à força de trabalho. Pesquisas recentes dão conta de que 35% dos jovens entre 18 e 15 anos não estudam e nem trabalham. É o Grupo dos Nem-Nem. Triste situação. Sem oportunidade de vencer na vida, são presas fáceis dos chefões milicianos que crescem em número. É assunto para muitas postagens. Lamentável.NOTA: Charge Ilustração obtida no Google Imagens.

8 comentários:

José Paulo Cavalcanti disse...

E ainda tem um problema, mestre Girley. A imprensa ideologizada. Quando você decide enfrentar, caso de São Paulo, onde o governador pode ser candidato contra Lula, a imprensa não perdoa. Diz que foi “ chacina “ . E por aí vai. Literalmente do lado do crime. Acredite se quiser. Abraços fraternos.

Vanja Nunes disse...

Lamentável e triste a nossa situação!!!
e assim continuamos nós !!!!

Leonardo Sampaio disse...

Aliada da insegurança jurídica

Guadalupe MenDonça disse...

Verdade infeliz.

Nininha Brasileiro disse...

Eu também estou preocupada com números de mortes por enganos quê está acontecendo em nosso país primo girley.

Antonia Corinta de Lucena disse...

O assunto desse blog, é por demais interessante e rico em seu conteúdo. Nós brasileiros, temos mania de fazer críticas, a todas as ações do governo. Acho lamentável todos esses crimes, todas as perdas de vidas de pessoas inocentes. Até o presente momento, nenhum governo conseguiu acabar com o tráfico de drogas, no dia em que isto acontecer, acabar-se-ao essas guerras. Existem interesses mais altos, para que as drogas continuem a fazer parte da vida do brasileiro e até do mundo. Precisamos saber onde está esse poderio? Ele está bem escondido. Creio que não existe interesse em mexer com ele. A própria polícia que combate os traficantes, se deixa envolver no tráfico de drogas. E um erro atrás do outro. Temos que pedir a Deus, para iluminar alguém capaz de assumir o comando de ações mais eficazes contra os crimes em seu todo.

Girley Brazileiro disse...

Li no Jornal O Globo de hoje:
Quando o médico baiano Perseu Ribeiro de Almeida conversou com a esposa, Verônica Gomes Almeida, sobre a viagem ao Rio para um congresso, o casal fez um acordo: ele evitaria se deslocar pela cidade, que ainda não conhecia, para não ficar exposto aos perigos a que assistia no noticiário. Verônica diz que foi “quase como um pressentimento”. Perseu cumpriu o que prometeu. Foi com amigos a um quiosque a poucos passos do hotel onde estava hospedado, na Barra da Tijuca. Mas a violência atravessou o caminho da família: o médico de 33 anos e outros dois ortopedistas foram executados na madrugada da última quinta-feira. E a partir dali a vida da representante farmacêutica Verônica, de 37, mudaria para sempre. “Terei que me ressignificar, porque tenho uma filha 3 anos que fica perguntando pelo papai dela”, diz a viúva.

Jorge Santana disse...

Sabe, Girley, certa vez, eu estava num elevador e o comentário dos passageiros era de estranheza e revolta com um crime bárbaro, ocorrido horas antes, no Recife. Caí na besteira de dizer (o que, aliás, você disse no texto): "Onde vamos parar?" Alguém reagiu quase aos berros: "Olha um otimista aqui, gente!" (admitindo que esse quadro de barbárie vai ter fim). Gargalhada geral (como costumamos reagir às piadas que substituem as soluções). Num ambiente de Democracia autêntica, a solução é mesmo difícil e morosa, admito. Mas, não haveremos de sucumbir à tentação de qualquer forma de ditadura.

Lição para não Esquecer

Durante a semana passada acompanhei com interesse de quem viveu a historia, as manifestações que relembraram o golpe militar de 1964. Com um...