terça-feira, 24 de outubro de 2023

Cheiro de Conflagração

Quem, como eu, faz parte da geração pós 2ª. Guerra Mundial sabe bem o significado de uma grande Conflito Global. Cresci e muito ouvi falar dos horrores e das imensas dificuldades às quais a humanidade atravessou durante aqueles anos passados. O assunto era bem comum nas reuniões de família e encontros sociais pelo que, nós os mais novos, nos mantínhamos informados sobre o significado de uma conflagração global. Durante muito tempo tomei pavor de ouvir falar da Alemanha e dos alemães, do Japão e dos japoneses e, apesar de uma figura formidável de italiano, Seu Constantino, nosso vizinho de saudosa memória, guardei muitas reservas quanto a cidadãos dessa nacionalidade. Pra completar, por volta dos meus dez anos, escutei de muitos judeus, que faziam estação d’água no hotel do meu avô, em Fazenda Nova, interior de Pernambuco, relatos bárbaros sobre os horrores da Guerra e, claro, sobre o Holocausto. Aquilo na minha cabeça de criança era um verdadeiro pesadelo. Horripilante. Jogar as pessoas vivas num grande forno? Fiquei na dúvida por muitas vezes e, muitas vezes também, fui proibido pelos meus pais de ficar escutando as histórias contadas pelos judeus russos, poloneses, ucranianos, entre outros, refugiados de guerra que viviam no Recife e passavam temporada no Hotel Familiar de Seu Epaminondas e Dona Sebastiana Mendonça. Recordo, também, que o bairro da Boa Vista, área das ruas da Gloria, Velha e São Gonçalo e Praça Maciel Pinheiro concentrava, à época, a colônia de refugiados. Ainda hoje há muitos sinais dessa colônia e muitos são os descendentes judeus no Recife. A famosa escritora ucraniana, naturalizada brasileira e filha de judeus, Clarice Lispector, chegou pelas bandasdo Recife numa das primeiras levas de refugiados que, no caso dela, fugiram do seu país devido à perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa. Lembro-me disso tudo na atual conjuntura internacional, com violentos focos de guerra, que resultam no avivamento da minha ojeriza a tudo que se refira a conflitos entre povos e nações. O mundo avançou e mudou muitíssimo. Ao longo dos tempos e com a maturidade perdi o medo que alimentei, desde criança, e minhas aversões aos velhos provocadores de conflitos e das grandes guerras da primeira metade do século passado, muito embora, a avalanche de filmes de Hollywood sobre a temática da guerra, que eu adorava assistir. Era curioso notar sempre que nessas fitas, os alemães, italianos e japoneses eram sempre mostrados como elementos malignos e belicosos natos. Quem não se lembra de Platoon e do meloso Suplicio de uma Saudade? (Vide fotos a seguir)
Melhor de tudo é que, ao longo da vida, estive varias vezes na Itália e na Alemanha e vi de perto danosos resultados, cuidadosamente preservados, dos conflitos e que ajudaram a tirar conclusoes nas minhas analises. Estive também no Japão, por duas vezes, onde tive a oportunidade de visitar Hiroshima. Confesso que chorei diante do chocante acervo do Museu Memorial da Paz (vide foto a seguir), que exibe principalmente artefatos que sobraram ao bombardeio atômico, destinados a ilustrar a realidade severa daquele momento e os perigos das armes nucleares que, com alguma frequência, vêm sendo lembradas e pensadas como possíveis estratégias de combates na Guerra da Ucrânia.
Assistir, hoje, ao noticiário da TV do Brasil e do exterior, a pauta constate tem sido a de guerra. Ora, como se não bastassem as imagens dolorosas provocadas pela Rússia, de Putin, sobre a Ucrânia invadida, somos surpreendidos com um conflito de dimensões bem mais elásticas, entre judeus e palestinos, reacendendo, ademais, um conflito de contornos históricos bem mais complexos se comparados com aquele do leste europeu. Se os combates entre russos e ucranianos soavam preocupantes, em pleno Século 21, o que pensar sobre o que vem sendo travado entre os israelenses e os terroristas do Hamas de Gaza? Quantas vidas ceifadas! Quantos inocentes mortos! Quanto sofrimento! E se o mundo árabe e islâmico resolver entrar de vez no conflito.
Fico temeroso e lamentando ver muitos jovens, meus filhos inclusive, prevendo uma conflagração mundial. Falam com alguma “naturalidade” que estamos às portas de uma 3ª. Grande Guerra. Não podem imaginar ao certo o real significado da coisa. Torço e peço a Deus que os nossos representantes políticos saibam discernir melhor, abandonar suas paixões e seus absurdos interesses políticos e negociarem um Acordo de Paz para salvar o mundo. No mais No mais, resto inquieto ao ver as reuniões da ONU - Organização das Nações “Unidas” resultarem em impasses desconcertantes e que não levam adiante o cumprimento da Missão que a ela foi reservado. Mais inquieto ainda ao ver a insistência das duas partes diretamente envolvidas no conflito do Oriente Médio. E o pior é que, hoje em dia, nem precisamos de Hollywood para termos melhor ideia do que seja uma guerra de verdade. Sem romantismo de jovens soldados apaixonados ou lindas enfermeiras apaixonadas chorando a morte ou a partida do combatente sendo repatriado. Agora é na dureza. A guerra é ao vivo e a cores na TV da sala ou do seu quarto. É assustador e tem cheiro de conflagração global, mesmo. Deus nos salve!

6 comentários:

Francisco Campelo disse...

Girlei
Vivi o pós guerra , como você, tendo meu pai combatido na Itália, integrando a FEB- Força Expedicionária Brasileira.
Morava em São Paulo, convivi com japoneses e seus filhos nisseis - meus pais eram padrinhos de uma nissei; estudei em colégio em que , diariamente, estavamos todos, os filhos de judeus, dos japoneses e de italianos.
Meu pai dizia que o que aconteceu na guerra, as atrocidades, tinham que ficar longe de nossos amigos. Ele era um exemplo disso.
Eu, como militar, fui para um país em guerra, Angola, e vivi tempos de horror, vendo pessoas mutiladas pelas minas e pelos conflitos entre duas forças angolanas, na luta pelo poder.
Li o seu post e concordo : temos que ter discernimento para que sempre prevaleça a paz.
Vale lembrar a velha máxima dos estadistas
" A guerra é a continuidade da política por e com outros meios".
Espero deles o dissenimento para buscar a convivência pacífica entre os povos.

José Paulo CavalcantI disse...

Deus queira que esteja errado nesse medo, amigo Girley.

Nininha Brasileiro disse...

👏nunca deveria existir guerra é muito triste ver o sofrimento dos povos adulto e criança misericórdia só maldade infelizmente

Regina da Fonte disse...

Que momento é esse,heim, Girley?Como vc,sou menina nascida durante a segunda Guerra e agora,estou temendo que meu neto nasça durante a terceira!
Que Deus nos proteja,e guarde principalmente essas crianças que estão chegando a esse mundo, agora,em um momento tão difícil.
Adorei o blog.

Anônimo disse...

O pecado atual, é que estivemos de alguma forma bem proximos a uma guerra e de atos terroristas nos anos de 70 a 90. A atual geraçao desconhece tudo isso e sequer buscam se informar, são meros papagaios que repetem aquilo q ouvem sem perceber que são uma linha de combate que causam perdas enormes em nosso planeta. São mísseis direcionados por grandes grupos de interesses, e a preguiça da pesquisa os torna vulneráveis, julgam pelo q ouvem, pelas influências de pessoas famosas e de interesses e/ou saberes duvidosos. Não aferem as notícias e as ações baseado em valores (extirpado pelo modelo de patria grande), sequer lembram os valores éticos de uma sociedade ao avaliar as questões, diria que estes possuem sua bússola moral quebrada, desajustada atualmente, mas já começo a crer que, nem bússula mais possue a maioriados nascidos na década de 90 em diante, salvo raros dentre eles

José Artur Paes disse...

Amigo Girley, CHEIRO DE CONFLAGRAÇÃO é uma grande análise do comportamento mundial, posto que deixa claro que a guerra nunca é uma necessidade humana, mas uma exploração do poder de “pseudos” líderes que detém a autoridade de “mandar matar”. Fiz algumas “andanças” pela Europa e em Cracóvia que é o segundo mais belo recanto da Polônia, visitei o maior campo de concentração instalado em seus arredores, o Auschwitz-Birkenau, onde, por cima do portão de entrada e de uma forma extremamente contraditória à realidade da época, vê-se o slogan: “ARBEIT MACHT FREI”, ou seja: “O TRABALHO LIBERTA”.
Esses contrastes são agressivos, principalmente para nós brasileiros que, em se tratando de conflitos bélicos, só conhecemos a Guerra das Espadas no São João, em Cruz das Almas (BA). 😀
Parabéns por mais uma postagem de elevado conteúdo de cultura e críticas construtivas.

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