sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Treta no Planalto Central

Mesmo que eu fuja, os temas políticos terminam fazendo minha cabeça. Esta semana não deu outra. A queda de braço que se instalou entre Judiciário e Legislativo devida à discussão do Projeto de Lei 2.903/2023, da autoria da Câmara Federal, que trata de estabelecer o Marco Temporal para demarcação das terras dos originários povos indígenas esquentou de modo exponencial, saltando aos olhos da critica e da opinião pública, revelando mais uma treta (como dizem os mais modernos) sem tamanho, na insana e vigente disputa entre os poderes da Republica. O referido PL prevê que as demarcações de territórios indígenas restrinjam-se às ocupações de fato existentes na data de promulgação da Constituição Federal, 05 de outubro de 1988. Entendo, a principio, que se trata de uma iniciativa de estabelecer legalmente um ordenamento adequado e mais favorável aos interesses nacionais sem que prejudique grupos sociais originários nem aos que manifestem interesses em assentamentos ou exploração econômica da terra, observado o que determina a Constituição Federal, no seu Artigo 231 que determina: são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
Contudo, por interesses variados e à mercê das injunções politicas hoje reinantes, o projeto provocou uma disputa ferrenha entre as bancadas governistas – contrários à aprovação do PL – e as chamadas ruralistas, ligadas ao agronegócio. Duas bandas políticas que se digladiam diuturnamente. Uma questão de fundo politico na sua essência e visivelmente prejudicial ao progresso socioeconômico do país. Ora, se a União, por força constitucional, tem o poder de “demarcar, proteger e fazer respeitar todos os bens dos povos originários” o que temer das forças que podem investir e, inclusive, se associar aos próprios indígenas para produção e desenvolvimento moderno das suas comunidades? A treta começou a rolar quando a Câmara Federal aprovou, em maio passado, a proposta do Marco Temporal. O Projeto seguiu a forma processual e encaminhado ao Senado, onde ficou aguardando entrar em pauta de discussão na Comissão especifica e no plenário da Casa. Antes que isso ocorresse, porém, o tema foi levado, para surpresa de meio mundo, a debate no Supremo Tribunal Federal que por 9 votos a 2 considerou o PL como inconstitucional. Aí, a coisa esquentou e a pressão politica aumentou, na Praça dos Três Poderes. O Senado, neste caso o Congresso Nacional, ressentiu-se pelo desrespeito às suas atribuições constitucionais e resolveu dar uma resposta taxativa ao Poder Judiciário. O Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG) pautou a discussão – em regime de urgência – com vistas a dar uma resposta adequada ao Supremo. Ora, o Congresso Nacional, coberto de razão, acusa o Tribunal de usurpar as competências do Poder Legislativo. Numa votação em plenário, na última quarta-feira, os senadores aprovaram o projeto num escore folgado de 43 a 21, dando uma “pancada certeira” no STF. O Projeto vai agora à sanção presidencial e já se dá como certo o veto de Lula. A coisa terá que voltar ao Legislativo para um novo “tratamento” e a treta promete muitas outras emoções. Independente do mérito da questão - que carece, sim, de rigorosas considerações legais - o que destaco nisso tudo é a vergonhosa disputa do Poder que se trava desbragadamente entre os três pilares institucionais da Republica. Então, pergunto: até quando essa gente vai desrespeitar a Ordem da Nação em detrimento do Progresso? Falta muito para que nossos governantes entendam de modo adequado e correto a admirável estrutura institucional que dispomos neste país. Quando isso ocorrer a coisa vai fluir de modo respeitoso, democrático e republicano. Tenho dito. NOTA: Foto obtida no Google Imagens

11 comentários:

José Paulo Cavalcanti disse...

Assino em baixo.

Nininha Brasileiro disse...

Girley você é demais mesmo.

Geraldo Magela Pessoa disse...

Contextualização perfeita. Parabéns!

Carlo Sarti disse...

Vamos experar que seja o inizio do cambiamento para os povo indio.

Tereza Cristina Souza disse...

Caríssimo Girley !
A guerra pelo PODER está muito grande.
Sem freios.
E o pior de todos é o STF.
Tem alguma coisa embaixo destes panos…,.

Adolfo Ledebour disse...

Excelente.

Jorge Fernando de Ssntana disse...

Para onde estamos indo, Girley? Hoje li que o Congresso já reuniu adesões mais do que suficientes para derrubar eventuais vetos do Presidente da República a esse Projeto do Marco Temporal... Pior ainda é a perspectiva de um Projeto de Reforma Constitucional atribuindo ao Poder Legislativo desfazer decisões do Judiciário e, mais especificamente, do STF. Creio que a bagunça estará sacramentada, em definitivo. Ou, então, teremos de inventar um "poder moderador", uma espécie de "deus ex machina" do teatro greco-romano.
Patriotismo, republicanismo, interesse nacional genuíno por onde andam? Como não temer pelo futuro dos nossos filhos e netos?

Luís Montenegro disse...

Ótimo artigo. Acho que tem mais um imbróglio nesse angu, as terras que foram ocupadas e hj algumas viraram até cidades.

Girley Brazileiro disse...

Luís Montenegro, pensando bem e sem Marco Temporal, conforme decisão do SUPREMO, teoricamente qualquer local do Brasil pode ser reivindicado como território indígena e sujeito a demarcação de reserva. Com pouco mais, os descendentes Caetés podem vir aqui tomar nosso prédio alegando ser local originário da sua tribo. Vai ser engraçado.

Leonardo Sampaio disse...

Impressionante, preclaro Irmão, não se saber nem querer Administrar democrática e participativamente.

Ana Menezes disse...

Girley não vou poder te responder porque estou sem tempo e sem cabeça para pensar. São muitas opiniões. Eu particularmente defendo os índios e me horrorizo em pensar que esses miseráveis dos ruralistas poderão destruir os indígenas seja diretamente a bala ou por outros meios maquiavélicos.

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