sábado, 16 de setembro de 2023

BOTERO

O mundo das artes chega neste fim de semana mais pobre e lamentando a morte do grande pintor e escultor colombiano Fernando Botero, uma das maiores expressões artísticas latino-americanas do século 20. Faleceu, ontem, 15 de setembro de 2023, aos 91 anos na sua casa de temporadas, no principado de Mônaco, vitima de uma pneumonia que o atacou nos últimos cinco dias de vida. Portador do mal de Parkinson nos últimos tempos Botero viveu seu final terreno de modo tranquilo, como tranquilo foi seu passamento, segundo familiares. Partiu para eternidade deixando um legado artístico dos mais notáveis e administrado de forma inteligente. Recordo que meu primeiro contato com a arte de Botero se deu numa tarde de domingo, em Lisboa, quando perambulando pela Praça do Comercio dei de cara com uma monumental exposição de suas estupendas esculturas a céu aberto. Decorriam os anos 80 do século passado. Não posso precisar, de logo, o ano exato. Fiquei impressionado com aquela coleção. Figuras humanas imensas e rotundas aparentemente contestando, de modo claro, a ordem internacional de beleza torneada das figuras, sobremodo nas passarelas da moda internacional. Não sei se com este propósito, mas sei que as imagens gordas dominavam o imaginário do pintor e escultor e que terminaram marcando seu estilo. Fantástico. Depois daquela tarde em Portugal, nunca mais deixei de admirar e procurar conhecer melhor a arte de Botero. Tive a sorte de visitar, por duas vezes, em Bogotá, capital da Colômbia, seu país de origem, o Museu Botero, situado no bairro da Candelária, zona histórica da cidade, no qual pude admirar boa parte das suas originais obras (Vide fotos abaixo), todas elas – pinturas ou esculturas – permeadas de traços característicos de um mestre centrado, inteligente, talentoso e senhor do seu tempo. A entrada do Museu o visitante é recebido por uma das suas mais notáveis esculturas, denominada de Mano (Mão), junto a qual posei para a foto a seguir.
Botero nasceu em 1932, em Medellin, importante cidade da região central da Colômbia, onde deu seus primeiros passos na arte do desenho e da pintura, aos 15 anos, contra a vontade dos seus pais, que não viam futuro naquele oficio. Era uma família de origem humilde e esperava dele mais do que ser simples desenhista. Não tardou muito e o menino Fernando se tornou no artista latino-americano mais vendido em vida. Como bom exemplo do seu progresso na arte, registre-se o valor que alcançou sua escultura “Hombre a Caballo” (tenho uma reprodução em miniatura na minha coleção) que alcançou, em 2022, a bagatela de US$ 4,3 Milhões (aproximadamente R$25,0 Milhões) num leilão da Agência Chistie’s. Penso com meus botões, no que diriam seus pais se vivos fossem? Eis aí uma prova do prestigio que a obra de Botero alcançou mundo afora e que podem ser vistas em museus e praças públicas do mundo inteiro do ocidente ao oriente. Ele fazia questão de expor a céu aberto por ser a “forma de aproximar a arte do público”. Nessa maneira de pensar fez questão de doar 20 de suas enormes esculturas de bronze à cidade e Medellín, sua cidade natal, expostas ao ar livre numa praça denominada de Praça Botero, em justa homenagem feita pela municipalidade. A praça se tornou num dos mais importantes pontos de atração turística da cidade. No mais, estima-se que Botero deixou algo em torno de 3.000 pinturas e 300 esculturas. É uma fantástica produção. Nos últimos anos, com a saúde bastante debilitada deixou de lado a pintura a óleo e produziu incontáveis aquarelas que agora, seguramente, serão disputadas por marchands e colecionadores a preço de ouro.
Outra coisa formidável que notei e descobri, numa das minhas visitas ao Museu Botero, foi da existência de inúmeras obras de pintores clássicos e famosos, dos séculos 19 e 20, afora os do próprio Botero. Fui informado que ele e seus organizadores estabeleceram uma estratégia de troca, com museus do exterior, galerias de arte ou famílias de pintores, de suas obras pelas dos congêneres clássicos e contemporâneos buscando enriquecer as galerias do Museu de Bogotá. Assim, além das 125 obras do próprio Botero, existem 85 obras de arte de artistas famosos, entre os quais, lembro os nomes de Monet, Renoir, Picasso, Degas, Sisley, Toulouse-Lautrec e Matisse. É, portanto, uma Casa rica de obras de famosos e que aconselho uma visita para quem estiver praquelas bandas andinas. O Museu é mantido e dirigido pelo Banco da Republica da Colombia. NOTA: Fotos ilustrações da autoria e coleção particular do Blogueiro, feitas com cãmeras de celular.

17 comentários:

Luís Montenegro disse...

Ir a Bogotá e não ir ao museu Botero chega ser um sacrilégio. É a maior identidade artística do país. Ótimo e oportuno artigo.

Ivonete Sultanum disse...

Ah querido GIRLEY , sempre é agradável compartilhar seu post . Seu relato reativa nossa memória , parabéns !

Geraldo Magela Pessoa disse...

Obrigado pela aula.

Castro Alves disse...

Meu amigo, seu post enriquece-me de cultura.
Muito obrigado.

Chico Brito disse...

Nao sabia q aqueles qdros eram dele, nem quem era ele.

Ina Melo disse...

Parabéns pelo artigo! Ele foi o Renoir moderno! Deu força e beleza as gordinhas.

José Paulo Cavalcsnti disse...

Como tenho quadro dele, amigo Girley, não foi tão ruim. Ao menos economicamente. Abraços.

Ana Maria Menezes disse...

Amigo por mais que esforce não gosto dos “gordinhos” de Botero. Complexo??? Claro que sim. O que admiro nele é justamente a impetuosidade de enfrentar o protótipo de mulher silfide e diáfana ainda hoje como o ideal de beleza. Ana maria

J.Artur disse...

Uma gordona derrubou qualquer preconceito contra a arte do Fernando Botero, ao afirmar: Eu me acho maravilhosa, linda e gostosa. Os padrões que lutem para se encaixarem a mim. E a sua postagem, Girley, globalizou o assunto. Parabéns.

Dina Jorge Correa disse...

Lamentável a morte de Botero. Felizmente suas obras perenizam sua presença entre nós.

Romer Marques disse...

É triste perder uma pessoa tão especial como Botero, meus sentimentos a todos os amigos e familiares

Adolfo Ledebour disse...

No Museu de Toronto, existe uma escultura de um demônio, esculpida há mais de 2000 anos atrás. Será que a semelhança é mera coincidência?

Ana Maria Miranda disse...

Adorei seu blog Girley . Por que não continua nesse ramo ? Acho muito interessante. Eu não sabia nada sobre Botero , além de que era escultor , pintor e latino

Dulce Nadruz disse...

Amigo , está primorosos esse seu comentário sobre o grande Botero , que tive o prazer de conhecer no museu em Bogotá .

Édson Junqueira disse...

Amigo Girley . Excente matéria , precisamos
Mesmo falar de arte, de história , na política já está tudo definido . Parabéns

Maria Zuleide disse...

Botero " GRANDE " artista ! Parabéns pelo artigo,como sempre perfeito.

José Otávio de carvalho disse...

Amigo, o artista encontrou seu tom e espaço na arte pictórica mundial. Estive no Museu Botero em Bogotá onde adquiri uma pequena obra sua. Construiu sua arte no confronto com a estética predominante.

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