sábado, 16 de junho de 2018

A Ver Navios

Há pouco mais de dez anos, Pernambuco viveu momentos de euforia econômica com grandes investimentos estruturadores sendo implantados e perspectivas de tempos alvissareiros, não apenas local, com rebatimentos regionais de grande monta. Foi quando começaram a se implantar os estaleiros Atlântico Sul e Vard Promar, a Refinaria de Petróleo da Petrobrás (RENEST), a Petroquímica Suape e logo em seguida o Polo Automobilístico da FCA (Fiat /Chrysler), entre outras iniciativas de menores portes.
Tudo esteve na mais perfeita ordem de implantações até que eclodisse a crise político-econômica que se estende até a atualidade, consequência da Operação Lavajato – expondo de modo arrasador os imensos crimes de corrupção na esfera política nacional – interrompendo, dessa forma, o processo virtuoso de desenvolvimento econômico do estado.
Com a Petrobrás posicionada no “olho do furacão” da crise, devido ao grande foco de corrupções ali instalado, os projetos pernambucanos começaram a minguar e até o momento amargam quadros de indefinição e com perspectivas nefastas. A Refinaria em fase de implantação teve suas obras paralisadas e vive à espera de novos bons tempos. A Petroquimica já foi vendida a um grupo multinacional, que promete tocar o projeto, e os estaleiros, embora em funcionamento, vislumbram momentos de dificuldades por motivo de cancelamentos de encomendas ou falta de novas. Trata-se de ameaça, com um duro golpe, ao estado que se destacava no cenário nacional como um polo industrial de grande perspectiva econômica. O único projeto que se apresenta, hoje, a pleno vapor e vislumbrando crescimento é a montadora Fiat/Chrysler (FCA) na Zona da Mata Norte, cuja produção tem tido constante crescimento.
Mas, tratando objetivamente do caso dos estaleiros, é duro perceber que a situação se revela mais complexa e chama maior atenção. A história recente mostra que o Brasil já foi, nas décadas de 70 e 80, o segundo maior construtor naval do mundo. Com o avanço competitivo das produções no Japão e na Coréia do Sul os estaleiros brasileiros (concentrados à época no estado do Rio de Janeiro) foram perdendo competitividade, inclusive no mercado nacional. Tornou-se mais barato comprar embarcações dos asiáticos (com custos de construção muitíssimo mais baixos) do que dos estaleiros nacionais, ocasionando um desmonte do setor, em proporções incomensuráveis.
Entretanto, o espírito nacionalista do ex-Presidente Lula e as descobertas das novas ocorrências de petróleo, inclusive as do pré-sal, apontou para um potencial mercado de embarcações no ambiente doméstico, levando a que o Governo criasse o Programa da Modernização e Expansão da Frota - PROMEF, visando particularmente ampliar de forma mais ampla a frota de petroleiros da Transpetro, braço de logística da Petrobrás com embarcações construídas no Brasil. Soerguia-se, assim, consequência desta decisão politica, a  Indústria Naval nacional tomando forma com implantações de vários estaleiros no país.
Estaleiro Atlântico Sul - EAS, Suape, Pernambuco, Brasil
Numa iniciativa incentivada – pela SUDENE e pelo Governo do Estado – grupo de empresas experientes no mercado da construção civil pesada, instalou em Pernambuco, o maior desses estaleiros, o Atlântico Sul – EAS, no Complexo Industrial Portuário de Suape que se tornou um dos mais demandados pelo Programa, com encomenda imediata de 22 navios. O empreendimento pelas suas dimensões, condições tecnológicas e localização geográfica foi de pronto considerado o mais competitivo e, inclusive, reconhecido como o maior do Hemisfério Sul. Posso garantir de que se trata mesmo de uma fantástica planta, que acompanhei a implantação desde os momentos de decisão da localização. Foi investido um total de R$ 2,2 Bilhões com uma capacidade instalada de processar 100 Mil Toneladas de aço por ano. No pico das contratações o EAS contou com 11.000 empregados diretos, número vem aos poucos caindo e atualmente conta com 3.600. Considerando o efeito pra frente, pelo menos 33.000 pessoas se beneficiaram com o empreendimento. Estimei um multiplicador de 3 para cada ocupado direto.
Ao longo dos últimos dez anos o EAS acumulou experiência e hoje ostenta um desempenho comparável aos observados em plantas da Coreia do Sul, maior construtor mundial. Ganhou competitividade e suas embarcações se destacam pela qualidade da produção no mercado.
Dependente, porém, de um único cliente (Transpetro) e sofrendo das consequências das restrições de investimentos desse cliente, o EAS se encontra diante de um colossal desafio para manter a dinâmica de produção e sua própria sustentabilidade. Das 22 embarcações inicialmente encomendadas 7 foram canceladas (4 Suezmax e 3 Aframax). Nestes dias o EAS está iniciando a construção do último navio a ser entregue à Transpetro, o que deve ocorrer até junho de 2019. Depois disso, ninguém sabe o que poderá acontecer.              
Lideranças politicas e governamentais locais se mobilizam, no momento, para acudir a Empresa que sofre com uma sequencia de prejuízos e, o pior, teme sua inviabilidade, caso não conquiste novas encomendas. Pernambuco corre o risco de sofrer amarga perda na composição do seu atual PIB Industrial que, nos últimos três anos, teve uma contribuição media de R$ 800,0 Milhões. Somente de desempregados serão 3.500.
Esta infausta história leva a crer que, ao invés de construir navios, ao estado restará a triste situação de “a ver navios”.
NOTA: Foto obtida no Google Imagens   
 

 

4 comentários:

Cristina Carvalho disse...

Excelente!!! Porém, considero que as autoridades políticas e os empresários tenham demorado demais para tentar uma solução que permita recuperar o EAS. Deus permita que eu esteja errada. ����

Mário Mawad disse...

Excelente texto Girley. Aprendi um pouco mais sobre a Indústria Naval e a situação do nosso estado neste embroglio do EAS.

José Paulo Cavalcanti disse...

Pior é que você tem razão, amigo. Sugiro já um próximo assunto. O American Buy Act. Uma consequência natural deste artigo. Abraços.

Adierson Azevedo disse...


O EAS vai fechar assim como os demais pois não se abre um indústria pra fornecer para apenas um cliente.
Infelizmente amigo e Guru Girley, o processo de "desfazimento" do EAS, na minha opinião, é irreversível. Ele e os demais "novos" estaleiros brasileiros não têm a menor chance de existência no tempo.
Basta olhar que indústrias navais muito mais sofisticadas dos EUA e do Japão, por exemplo!! Como Lula e sua turma foram burros em pensar que poderíamos superar americanos e japoneses com um sorriso ou teclando 13 e confirmando!!!???

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