É bem comum
que admiremos mais os lugares distantes e esqueçamos o belo que temos por
perto. Parece que o simples fato de saber que determinada atração turística se
encontra à mão, termina sendo sempre deixada para depois. Cariocas que nunca
subiram ao Corcovado e pernambucanos que nunca assistiram à encenação da Paixão
de Cristo em Nova Jerusalém é fato bem mais comum do que se imagina.
Estes
últimos dias, andei pensando sobre essa coisa, ao visitar por duas vezes um
mundo que, embora fazendo parte da minha história de vida, vem sempre me
surpreendendo e se renovando com sua paisagem peculiar de Agreste Semiárido.
Refiro-me às plagas pernambucanas de Fazenda Nova – terra dos meus ancestrais –
e Brejo da Madre de Deus, localidades situadas na Região do Agreste Central de Pernambuco.
Muitos são
os pernambucanos que não têm ideia da riqueza natural daquele mundo mesclado de
aridez e brejo, de serras e vales formando um ecossistema que pode deslumbrar
um visitante.
Em Fazenda
Nova, além da Nova Jerusalém, o visitante não pode deixar de visitar um museu a
céu aberto, o Parque das Esculturas Nilo Coelho, para admirar as obras de arte
esculpidas e cinzeladas no granito bruto da região, por artistas da terra,
formados pelos admiráveis mentores, Diva e Plínio Pacheco, durante a construção
da cidade teatro. Foi muito suor e sangue nas veias para extrair a pedra,
tratá-la e transformá-la numa permanente exposição de figuras populares do povo
nordestino. Vide fotos a seguir.
Num ambiente
onde arte cênica abunda, a Mãe Natureza parece aderir ao movimento e se
engalana para deslumbrar o visitante. Não é à toa que muitas companhias e
produtores de cinema escolhem a região para locação das suas produções.
Outra
característica local é a afabilidade da gente local. Antenados e atualizados,
no tempo e no espaço, o homem brejense de Fazenda Nova ou da sede do município
mantém sinergias diferenciadas capazes de nivelá-los aos hábitos e costumes dos
grandes centros. Aliás, percebo que já não existe mais o antigo caipira, nosso
tradicional matuto. A programação de TV chega aos mais escondidos grotões dos
nossos interiores. Nas brenhas do Brejo da Madre de Deus (PE) é bem comum avistar uma tremenda
antena parabólica sobre uma tênue casinha que inacreditavelmente consegue sustentar aquele moderno estrupício.
Estimulado
pela turma jovem (filho e sobrinhos) fiz, semana passada, um programa que nunca
me atrevi, quando jovem, ao enveredar pela mata agreste recheada de cactos dos
mais diversos, facheiro, coroas de frade e mandacaru, agaves, muitas cercas de avelós
(Euphorbia tirucalli) e frondosos juazeiros (Zizyphus joazeiro), entre outras
espécies, para alcançar o alto de uma serra, denominada de Caiana. Trata-se de um lugar remoto, inacessível no
passado e somente agora com uma trilha aberta. Nos meus tempos de menino devia
ser um lugar para os caçadores mais atrevidos da região. Rara beleza é a forma
que encontro para descrever. Quase tudo preservado. O homem poucas vezes andou
por lá. A vegetação é de beleza indescritível e totalmente silvestre. Belo
programa. (Vide Fotos a seguir)
O cume da
Serra é uma belíssima formação rochosa, com coloração ferrugem, denunciando, quem sabe,
a presença de elementos ferrosos na sua constituição. No alto daquela montanha,
admirando meio mundo do meu universo e respirando puro ar da natureza,
impossível não pensar: Deus existe!
Pois é.
Vendo tudo aquilo me ocorre a ideia de como seria bom um maior aproveitamento
turístico de áreas como a que acabo de descrever. Um teleférico ligando Fazenda
Nova ao alto da Caiana, por exemplo. Faltam empreendedores, falta poupança, falta
um inventário acurado das atrações turísticas no estado. Faltam... muitas coisas. Mas, a velha
Fazenda Nova se revela sempre nova.
NOTA: Fotos do Blogueiro
16 comentários:
Girley,
Eu li e adorei. De vez em quando viro meus arquivos de memórias e lembro de um tempo bom , uma trilha que fizemos de Toyota, na qual atolamos por diversas vezes e quem tirava a Toyota da lama era o Prefeito Roberto Asfora, do Brejo da Madre de Deus.
Temos uma foto na cachoeira que foi publicada no Diário de Pernambuco eu e Gil....Êita faz muito tempo!
Um beijo Girley pra vc com meu carinho e amizade.
Marta Santos
Pois é Marta. Aquilo lá é um paraiso...
Eu lembro da nossa ida à Serra do Bitury. Inclusive à cachoeira. Foi muito bom. Uma verdadeira aventura. Acho que foi em 2005.
Obrigado por visitar o Blog e participar da conversa.
Volte sempre. Um beijo.
Girley
O problema é que, no Brasil, a gente está acostumada à politicagem cartorial, barata, torpe, por isso nos sentimos infernizados...
Giovanni Bosco
Você tem razão Girley ,são lugares lindos que nós não damos o devido valor ...
Adorei! Me reportei as vezes que por lá passei! Maravilhosa a sua maneira de descrever os lugares! Parabéns !
Ieda de Queiroz Freitas
Sou avessa a política. És um grande contador de histórias de família, viagens...uma pena não poder comentar como gostaria.
Mary Caldas
Mas, a politica faz parte das nossas vidas, Mary Caldas.
Parabéns pela sua postagem. É importante visitar o mundo exterior mais podemos esquecer o que é nosso. Santo de casa não faz milagres. Mai o dolar alto contribue para o processo de mudança. Valorização do turismo interno e regional.
Wirson Bento de Santana
Muito bom, lugar ótimo para relaxar!!!
Artur Reis
A minha experiência com a Pedra do Reino foi trágicakkkkkkkkkMas a viagem valeu a pena!
Ina Melo
Maravilhosa experiência Girley. Atentar para os aspecto de nossa terra é fundamental, descobrindo as riquezas naturais e a cultura de nosso povo!!! Isso é fazer a diferença em um mundo globalizado e efêmero! Bravo!!!!!!!!!
Anne Elizabeth Valladares
Que bonita experiencia, pero créeme solo alguien sensible la percibe tan claramente. Seguro es un lugar que debe visitarse. Besos
Susana Gonzalez
Boa Tarde Girley,
Como é prazeroso lê um bom texto, onde o autor interage plenamente com a natureza e com Deus.
Um bom final de semana
Vanja
Obrigado Vanja. Bom ver vc interagindo com o Blog. Volte sempre.
GB
Prezado Girley,
Este seu texto deveria ser publicado também nos Jornais de circulação. Vibrei com o seu entusiasmo diante das proezas feitas. Grande e verdadeira exaltação do nosso mundo, esquecido no longo dos tempos.
Leve e suave, você nos leva a uma viagem um tanto desconhecida, quando esquecemos de valorizar o que é nosso...
A atração pelo texto já se faz presente no título. Você não perde para ninguém....
Abraços, Eliana Pereira
Obrigado Eliana. Vc me faz lembrar seu irmão, meu amigo Geraldo, com suas gentilezas. Ele era meu leitor e gostava demais desses textos, quando eu resgatava imagens do interior pernambucano.
Meu afetuoso abraço
Girley
Postar um comentário