sábado, 5 de abril de 2014

Pobre Astrogildo

Há poucos dias encontrei um amigo que, alguns anos atrás, comemorava os lucros que estava auferindo pelo investimento que fez em ações da Petrobrás. Usou dinheiro que tinha no FGTS. Petista de carteirinha, além de elogiar o aumento exponencial dos lucros registrados a seu favor, teceu loas ao Governo e, àquela época, ao Lula. Confesso que senti uma pontinha de inveja do cara. Quem não gosta de ganhar um dinheirinho, sem fazer força?
Nesse recente encontro com Astrogildo Buarque (nome fictício) a conversa foi bem diferente. Tive pena do meu amigo. O cidadão estava desencantado com a queda vertiginosa das ações da Petrobrás. Sem entender, ou sem querer entender muito bem, como essa coisa podia acontecer. Danado da vida com as trapalhadas do Governo e furioso com Dona Dilma. Perder, sem mais nem menos, uma nota preta. Não sei quanto, mas, acho que não se tratava de tão preta assim... embora que para ele representasse  um senhor “pé de meia”.  Como sou Economista e ex-Professor de Economia Brasileira, ele foi chegando e, de cara, pedindo minha opinião sobre a situação, sobre o mercado de ações e em particular sobre as perspectivas dos papéis da Petrobrás. Pense na dificuldade que tive de emitir essa opinião. Nessas horas tenho o maior cuidado de não baixar mais ainda o ânimo do sujeito, principalmente de pessoa que prezo e que se encontra em estresse. Explicar ao meu amigo, de modo sucinto e o mais didático possível, o funcionamento do mercado de ações e concluir dizendo que é um investimento de risco, por vezes alto risco, deu trabalho. Não que ele não soubesse de tudo. Até que sabia. Mas, quando o cara percebe seu dinheiro ir pra um buraco... fica mais difícil assimilar.
Assim como Astrogildo, que já perdeu muito e, sequer, tem o quanto investiu, muitos são os que arriscaram em ações da Petrobrás e que estão perplexos diante da desvalorização dos papéis da Empresa.
Tenho acompanhado os debates de especialistas sobre o caso Petrobrás e, sinceramente, lamento o que vem acontecendo. Como pode uma empresa desse porte, solidez  e importância internacional cair em tantos desatinos? Como pode uma equipe técnica de alto nível deixar acontecer tantos desmandos? Propinas, investimentos indevidos e mal fundamentados, como o caso da Refinaria de Pasadena, no Texas (USA), US$ 1,18 Bilhão pelo ralo, e projetos mal formulados, como o da Refinaria Abreu e Lima, aqui em Pernambuco, cujo investimento foi subdimensionado, tendo demandado, até agora, quase 10 vezes o valor total projetado que era de US$ 2,3 Bilhões – sem falar no blefe do tresloucado Hugo Chávez – e hoje se revela como escandaloso e lançado na vala dos desmandos da Empresa. Que horror. Essa é uma Petrobrás que os brasileiros não conheciam. Sempre me orgulhei de falar dessa empresa nas minhas andanças pelo exterior. Junto com a Embraer representava o que de mais eficiente e promissor do Brasil Moderno e aspirante a uma vaga no Clube do Primeiro Mundo. Esses recentes episódios, contudo, a mancham de modo surpreendente e indefensáveis. Observem, caros leitores, quantos erros esse Governo vem cometendo, capazes de matar nossa “galinha dos ovos de ouro”.   
É voz geral, para quem acompanha o caso, no que eu concordo, que a nossa Petrobrás vem sendo usada de forma espúria e sem pudor, a favor dos interesses políticos mais absurdos que se tem noticia na história econômica recente deste país. Nunca devia ter sido o instrumento de política para controle da inflação, que no final das contas tem claro caráter eleitoreiro. Ao controlar demasiadamente e por longo período os preços dos combustíveis a empresa vem enfrentando perdas expressivas na sua receita operacional. E pior, na sua programação de investimentos. O remédio tem sido contrair empréstimos e ficar altamente endividada. Mais do que isso, nossa petroleira tem tido necessidade de importar gasolina e óleo diesel para atender a demanda crescente nos postos de serviço, decorrente, inclusive, da própria política de incentivo à industria automobilística, reduzindo o IPI dos veículos, o que contribuiu para o aumento da frota e, automaticamente, para o consumo. Fala-se que o volume importado subiu quase cinco vezes (470%) de 2010 para 2013. E com esse Dólar Americano sendo apreciado frequentemente face ao Real, “a vaca vai direto pro brejo”. Difícil mesmo vai ser quem tiver de corrigir esses preços. E nem a produção do Pré-Sal tem salvo a situação.
Mas, não fica por aí. A Empresa tem sido também o vetor principal de um dispositivo de política de desenvolvimento industrial complicado ao exigir conteúdo local mínimo aos seus fornecedores, particularmente no segmento da Indústria Naval, hoje retomada no país. Isso tem sido difícil. Não existem empresas brasileiras que possam cumprir as exigências determinadas pela política desse Governo. Resultado é que fica difícil concorrer com os players internacionais e as construtoras de navios têm que rebolar, para oferecer um produto dentro dos conformes exigidos pela Petrobrás.
E todo dia surgem novas denuncias.
Voltando ao caso do meu amigo Astrogildo, meu conselho foi que esperasse alguns anos, cinco ou seis, para que tivesse suas ações revalorizadas, porque a Petrobrás é uma empresa sólida, bem estruturada – não será uma administração desastrada que vai acabar com ela – para ele voltar a sorrir. Ele acreditou, na Petrobrás e fez certo. Mas, ao acreditar neste Governo, caiu numa esparrela. Pobre Astrogildo.

NOTA: Ilustrações obtidas no Google Imagens.
 

2 comentários:

Susana Gonzalez disse...

Lo voy a compartir y dar difusión porque los mexicanos deben estar atentos a esto. Por certo, además de que me gusto reflexión me pregunto porq ese nombre tan raro para tu amigo????
Susana Gonzalez

Girley Brazileiro disse...

Ah! Mi amiga Susana, es um nombre fictício, aunque sea nombre, mas o menos, comum por acá. El nombre real del amigo, no lo quiero publicar.
Girley Brazileiro

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