segunda-feira, 15 de julho de 2013

Nativismo Puro

Sempre me surpreende o fato de que na maioria dos estados do Norte e Nordeste são encontrados torcedores fanáticos de times de futebol do eixo Rio-S.Paulo. Não é sem razão que se diz que o Flamengo tem a maior torcida do Brasil. Acho que a maioria está por estas bandas. Camisas e acessórios com escudo deste e dos grandes clubes sudestinos (com licença Regina Dubeux) dominam as lojas de material esportivo das grandes capitais e pequenas cidades interioranas. Vestindo camisas dos times preferidos e correndo para bares ou locais similares para assistir em telões as partidas que se desenrolam em algum local do Sudeste, nordestinos se aglomeram e comemoram cada lance. “Coisa mais estranha, gente! Será que por aqui não tem times locais?” comentei com um amigo, no interior do Nordeste. “Rapaz é que essa gente aqui só usa a parabólica e as estações sintonizadas são todas do Sul”. Mas, não é isso não... Depois observei que o futebol nessas localidades é coisa recente, os times são tecnicamente fracos e nunca disputam as series A ou B do campeonato Nacional. Ou seja, não empolgam os torcedores locais.
Semana passada comentou-se demais, aqui em Pernambuco, o fato de que uma partida valida pela serie A, entre Fluminense e Botafogo – clássico carioca – disputado na Arena Pernambuco, por falta de cancha no Rio de Janeiro, teve um mísero público pagante de 7.882 pessoas e causou um prejuízo de R$ 41 Mil no borderô. Além do prejuízo arrastaram “uma mala pesada com excesso de peso de decepção”. Mais surpresos ainda ao saberem que os referidos pagantes eram quase todos torcedores alagoanos, potiguares e paraibanos que correram para o Recife para ver de perto seus ídolos.  
Esse pessoal do Sudeste tem uma ideia completamente errada a respeito dos pernambucanos. Não sabem que aqui se joga futebol por mais de cem anos. Que no Recife existem clubes centenários. Que nossa gente entende e gosta de futebol e que só torce pelos times locais. Faz parte da nossa cultura. E cultura em Pernambuco é coisa que se leva a sério. Ninguém troca Sport, Náutico, Salgueiro ou Santa Cruz por qualquer Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama ou Santos. Quando esses times baixam por aqui e nos enfrentam dentro de casa, o “pau come”. Nem sempre se ganha... Cá prá nós, perde-se mais do que se ganha. Mas, não se perde o ânimo, nem a pose. O amor nativista às coisas da terra é um traço muito especial dos pernambucanos.
É preciso que o resto do Brasil entenda melhor o nosso povo a nossa história. Fala-se muito que pernambucano é bairrista. Coisa nenhuma! O que fazemos – com naturalidade – é valorizar e dar realce à nossa bagagem de tradições culturais: nossas lutas políticas, nossas vitórias, nossa música e ritmos, nosso patrimônio arquitetônico, nossa culinária, nosso cancioneiro, poetas e escritores, nossas paisagens, nosso artesanato, nossa bela bandeira e nosso hino e, naturalmente, nosso futebol centenário. Mas, ninguém liga nossas manifestações às raízes históricas que temos. Fazem vista grossa e ignoram que Pernambuco é o Leão do Norte.
Que o episódio da semana passada sirva de exemplo para outros times e que ninguém venha prá cá, dando uma de bam-bam-bam, esperando que os pernambucanos venham render-lhes homenagens. Que percam as esperanças. Na mesma Arena Pernambuco, quando fui assistir o embate entre Espanha e Uruguai, pela Copa das Confederações (mês de junho passado) as torcidas de Náutico, Sport e Santa Cruz ocuparam a Arena vestindo suas camisas e empunhando bandeiras, Mais do que isso “arrasaram” com seus “gritos de guerra”. O “casá-casá” do Sport e o N-A-U-T-I-C-O do Náutico abalaram a Arena e chamou a atenção dos estrangeiros em campo. Arrepiante. Isso sim que é amor nativista. Sinto orgulho da minha gente.
Muito bem, já sabem: quando escolherem locais extra Rio para jogar mudem o rumo. Escolham outras praças e esqueçam o Recife. Voltem somente para disputar o Campeonato Nacional e venham preparados. Pena que os profissionais dos nossos times não são todos pernambucanos. Ai se fossem...   
NOTA: Foto obtida no Google Imagens.

9 comentários:

Celso Cavalcanti disse...

Caro Girley,

Este caráter diferenciado do torcedor pernambucano é um fato e tem raízes históricas. Tem ligações, por exemplo, com o glorioso time do Náutico que na década de 60, além de hegemônico em Pernambuco (o hexacampeonato é e sempre será, o pesadelo obsessivo dos rubro-negros e tricolores), fez campanhas nacionais brilhantes, tendo por exemplo, vencido o Santos com Pelé e tudo, dentro da Vila Belmiro. Depois o Santinha, que chegou a ser pentacampeão local e disputava o Campeonato Brasileiro até as últimas rodadas. Por fim o Sport que, chegou também a ser pentacampeão estadual e campeão da Taça Brasil, salvo engano. Nenhum outro estado fora do eixo Rio-SP, nem mesmo MG, tem sempre três times com grandes torcidas, aptos a disputar firmemente o título estadual.
Quanto ao fato da Arena ser palco de jogos entre times grandes de outros estados, não vejo qualquer inconveniente. Se atrairmos torcedores vizinhos a estes espetáculos, estaremos incentivando o turismo interno e gerando renda local.
Não se esqueça de que o nosso bolso está na reta. Se as crianças da Odebrecht não atingirem as suas metas de Ebtida com a Arena, quem vai pôr a mão na carteira seremos todos nós, pernambucanos.

Um abraço.

J.Artur disse...

Oxente Girley, tás incitando a Guerra da Secessão Tupiniquim? Vou na linha de frente. Em viagem internacional, formamos pequeno grupo e no melhor da festa um Curitibabaca afirmou que "o melhor de Curitiba é que não tem nordestinos"... Ficou o resto da viagem só, pois o resto do grupo passou a evitá-lo. Abraço cordial.

Regina Dubeux disse...

Meu comentário é a transcrição do atual texto de Girley no meu Facebook. E explico: Minimim é uma bibliotecária e amiga dileta, baiana e trabalha da Odebretch - ou Odebrecht. Falei no comentarista e amigo Celso Cavalcanti, a quem solicito me explicar o que seja Ebtida, eu que não manjo de futebol, a não ser quando a bola cai no fundo (interno) da rede. Fico até surpresa pelo fato de que, nem sempre quando isso ocorre é caso de Gol, porque às vezes tem um tal de impedimento.
"Regi Dubeux escreveu no Facebook:
Lis Santos, de Salvador-Bahia, e demais amiguinhas baianas! Divulgo o texto do blog de meu amigo Girley Brazileiro, pernambucano arretado, economista e empresário bem sucedido, por três motivos: 1) Gostei do texto, apesar de não ligar muito pra essa coisa de futebol; 2) por conter, no comentário de Celso Cavalcanti, alusão à Odebrecht (essa é pra Minimim, a quem aproveito pra tirar uma dúvida: Não é Odebretch?), embora não tenha entendido bem o argumento de Celso, pois não sei o que é Ebtida; 3) finalmente, porque Girley tem uma prosa, só aparentemente, simples (que ele não é de exibir toda a complexidade de seus conhecimentos, em vários segmentos do saber), inteligente, discreta e muito, muito agradável. Quanto à referência ao Regi Dubeux, Minimim já sabe: É sempre assim que me refiro aos habitantes daquela região, onde tenho parentes nascidos lá, embora, em geral, sudestinos não se reconheçam na regionalidade a que pertencem, preferindo status das Unidades Federais de cada qual. Quem assim fala (escreve) é uma pernambucana (UF: Pernambuco), satisfeita de ser nordestina (Região do Nordeste brasileiro).
http://gbrazileiro.blogspot.com.br/2013/07/nativismo-puro.html

Blog do GB: Nativismo Puro
gbrazileiro.blogspot.com
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Celso Cavalcanti disse...

Prezada Regina,

A Arena Pernambuco, que as boas línguas dizem que pertence ao glorioso hexacampeão pernambucano (primeiro e único), na realidade é uma PPP (Parceria Público-Privada) entre o Governo do Estado (ou seja nós), e a Odebrecht. Os termos deste acordo de longo prazo que o Governador atual assinou em nosso nome, estabelece que se a Arena não atingir determinados níveis de receita ou rentabilidade pré-estabelecidos, nós seremos convidados a comparecer com o nosso suado dinheirinho. Contrato é contrato e tem que ser cumprido. As PPP´s são instrumentos excelentes para trazer recursos e gestão privada para empreendimentos que de outra maneira seriam tocadas com recursos públicos nossos e gestão pública (o perigo está aí). Ebtida é a sigla em inglês para earning before taxes, interests, depreciation and amortization, o mesmo que Lajida, lucro antes de juros, impostos, depreciações e depreciações, em português claro, o que sobra depois de tudo.

Um abraço.

Celso Cavalcanti

Re disse...

Oxente, Gitley! Aqui eu aprendo é coisa. Ex.: A explicação dada por Celso Cavalcanti para o termo que usou, no final do comentário do seu texto atual, tornou mais clara, para mim, o argumento dele. Obrigada, Celso.
Outra coisa, essa eu já sabia, mas comento assim mesmo: O 'oxente' de J. Artur é a exclamação mais apropriada, mais rica de significados, mais cheia de graça dentre as exclamações do nosso vernáculo. Por que cabe para expressas alegria, tristeza, raiva, amor, estranhamento, perplexidade... O curitibabaca bem que merecia um estrondoso OXENTE. Para o limbo aonde foi levado, pelo grupo da viagem internacional referida, o tal sulista deve ter lamentado à beça o fato de na dita viagem só ter nordestino. "Ma minino"!

Girley Brazileiro disse...

Regina,
Fico satisfeito com a sua satisfação. Gostou do arranjo de palavras. O Blog do GB cumpre assim com um papel de informar além do que apresenta escrito.
Não posso deixar de agradecer seus elogios. Acho que não mereço tanto e atribuo tudo isto à uma pura emoção de amiga.
Volte sempre e debata dentro do Blog. Com sua vivacidade e inteligência.
GB

Cristina Henriques disse...

Girley:Na FENNEARTE um expositor de SC trazia imagem de times mas NENHUM DE PE para montar relogios em garrafas de cerveja amassadas.perguntei,ele saiu-se com a desculpa de que tinha acabado.Pois sim...Viajamos pelo interior de outros estados e não vemos nossos times em lembrancinhas.É despeito do sudeste e sul mesmo.A gente é que deveria tomar vergonha na cara e também só vender lembrancinha de nossos times.Dos deles,que tragam de lá.Falta-nos AMOR À camisa.E somos uma 'raça desunida.Fôssemos em bloco,torcendo contra os de fora se jogasse contra os de dentro,ganhávamos mais do que perdíamos.Parabéns pelo tema.SEMPRE reclamo disso aqu - é parabólica não,É abestagem mesmo.Lembrança de time de fora?Só por encomenda e vaid emorar 10 dias para chegar.

Mauro Gomes disse...

A verdade é que não somos Paraibacas.

Mauro Gomes

Christin disse...

This is gorgeous!

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