domingo, 29 de julho de 2012

Petrolina, nossa California

... e durante, aproximadamente, sessenta minutos sobrevoamos Pernambuco no sentido Leste-Oeste, rumo à cidade de Petrolina, Sertão do São Francisco. A paisagem, vista do alto, na grande maioria era de seca, devido à estiagem que assola a região. Quando, porém, o comandante da aeronave anunciou a descida, apareceu – como num passe de mágica – um cenário de verde luxuriante, resultante de uma intervenção inteligente do homem, que, aproveitando a abundancia de água do Velho Chico, irrigou a terra, plantou e vem colhendo os mais ricos e doces frutos, nunca dantes imaginado.
À frente de um grupo de amigos – associados do The British Country Club do Recife – visitei, no fim de semana passado, a cidade de Petrolina e sua área de influencia econômica. O objetivo foi de fazer uma visita de cunho cultural. A hipótese referencial  foi a de que vale à pena conhecer de perto o que ocorre naquele Pernambuco do oeste. Observar o progresso que se respira, a forma citadina como vive a gente local, a gastronomia e, enfim, os hábitos gerais dos ribeirinhos do chamado rio da integração nacional.
O desembarque em Petrolina chega a causar alguma surpresa ao mais desavisado, pelas instalações da estação de passageiros e o fato de ser um aeroporto internacional de cargas. Na seqüência, o desavisado tem novas surpresas com a estrutura urbana da cidade, com largas e bem tratadas avenidas, edifícios residenciais de grande porte, conferindo um aspecto de cidade grande. O rio marca, é claro, sua presença de imediato e chama a atenção pela sua cor verde-azulada, margeado por notável urbanização, que garante a humanização da urbe. A Orla de Petrolina é orgulho da gente local, com pistas de Cooper, parques de ginásticas e playground, bares e restaurantes. Inclusive um rent-a-bike, vide fotos acima, como Paris e Rio de Janeiro. Brinque! Beleza esteticamente planejada. E, no outro lado, uma visão do estado da Bahia, a cidade de Juazeiro, com seu feitio mais antigo que a vizinha pernambucana, mas exercendo muita influencia na cultura local. O nosso guia garantiu-me que é baianbucano, o que é fácil de entender. Acontece que nascem muitos baianos em maternidades de Petrolina ou vice-versa. As duas cidades com suas áreas urbanas e rural formam um aglomerado de aproximadamente 500 Mil habitantes.
Mas, certamente, o que mais seduz o visitante, como no nosso caso, é o chamado Enoturismo, isto é, turismo em torno do tema uva-vinho. E foi nesse domínio que mergulhamos. Saímos do aeroporto direto para visitar a Vinícola Miolo, a única situada no estado da Bahia, no município de Casanova. Filial de importante produtora do Rio G. do Sul, planta uvas e produz vinhos da melhor qualidade, em pleno semi-árido nordestino. Atraídos pelas condições climáticas e de solos, não apenas os gaúchos, mas alguns estrangeiros já se instalaram e tiram proveito dessa região do Paralelo 8. Pudera, enquanto no Sul do Brasil e em países de outras latitudes só se consegue uma colheita por ano, no sertão nordestino isso pode ocorrer até três vezes em doze meses. A visita à Miolo é de alto nível. Uma enóloga mostra o processo de produção, partindo da uva colhida e armazenada, seguindo pelas instalações de produção em tonéis de aço inox e envelhecimento em tonéis de carvalho, até o engarrafamento e distribuição. O gran finale da visita se dá com uma degustação, que, na pratica, é uma grande aula de saborear a única bebida que é citada na Bíblia Sagrada.  A aula inclui recomendações de harmonização gastronômica, bem como as formas corretas de portar o cálice e de abrir um espumante, inclusive à la Napoleão, com um sabre. Mise-en-scène especial, aplaudidíssimo pelo público. 
Nossa segunda parada foi numa fazenda produtora de uvas de mesa e mangas. Estas, por sinal, outra grande vedete da produção local. De qualidade diferenciada são exportadas para o mundo inteiro. Isto ocorreu na ensolarada manhã do sábado (21.07.2012). Nosso grupo se deslumbrou com o mar de uvas e mangas. O proprietário da fazenda (*) nos recebeu em grande estilo e eu diria que com “pompas e circunstâncias”. Para inicio de conversa nos deu boné de trabalho, tesoura e bandeja de colheita das uvas. O parreiral escolhido não podia ser melhor: uvas Thompson, ou seja, uvas sem sementes. Nosso pessoal se deslumbrou com tudo que viu e colheu. De fato, é de encantar a qualquer visitante. No final da visita uma degustação de frutas e sucos, fechando com um bom espumante local.
A terceira parada, na tarde do sábado, foi na Vinícola Santa Maria, no município de Lagoa Grande, Pernambuco. Pertence ao Grupo Dão Sul, de Portugal, que produz premiadíssimos vinhos, de alta categoria e gozando de prestigio internacional. Ali foi dada outra extraordinária aula sobre a produção de vinhos finos, além da exibição, em pleno campo, de parreiras das uvas mais conhecidas do público visitante. Vimos e saboreamos uvas Shiraz, Cabernet-Sauvignon, Tempranilho, Carmenère, Moscato Canelli, entre outras. Uma festa para os olhos e para o paladar. Fim da visita com uma degustação ilimitada de vinhos. Não se bebeu mais porque não havia tempo hábil.
O fim do nosso passeio foi navegando nas águas do São Francisco, no domingo. Embarcamos num tour fluvial, em barca especial, ao som das músicas regionais e acepipes sertanejos, como, filé de carne de sol, cabrito assado e baião-de-dois. Tudo regado por um bom espumante regional. E, no meio do passeio, que dura cinco horas, uma estratégica parada para um banho de rio, numa prainha convidativa. (Foto acima)
O que se constata, no final de um passeio desses, é que providências honestas de intervenções governamentais e usando tecnologia específica, nosso semi-árido – sempre fragilizado com as estiagens – pode se transformar num paraíso econômico e solução de vida digna para as populações interioranas do estado. Esperemos pelos 2T: Transposição e Transnordestina.          

(*) Leonardo Renda, dono da Frutirenda, gentilíssimo e sofisticado ao nos receber. Também sócio do Country Club. A ele, nossos especiais agradecimentos. 
Nossos agradecimentos, também, à Marta Santos (Taruman Turismo) pela competência profissional ao organizar a excursão.
Nota: Fotos de autoria do Blogueiro

4 comentários:

Edvaldo Arlego disse...

Caro companheiro. Adorei refazer o tour em Petrolina, onde tenho um "Hotel Cinco Estrelas" (isto é, Uma filha, um genro, quatro netos e um bisneto), aliás, esse bisneto, o Pedro é coprinocultor de peso, ajudando o avô por parte de mãe. O companheiro Inácio Cavalcanti, EGD, disse em seu livro que "avô é aquele bicho que o filho amansou para o neto montar". O quê dizer, então, do bisneto? Abraços, Arlégo.

Ina melo disse...

Amigo Girley,
Estou pensando em fazer este passeio...
Ina Melo

Fernando Pinheiro disse...

Prezado Girley,fiquei maravilhado com o seu relato (conheco Petrolina)se não tivessimos tantos politicos marginais,nem impostos presisavamos pagar neste pais maravilhoso.Um grande abraço.
Fernando Pinheiro
ETT.Va conhecer Barreiras

J.Artur disse...

Girley, o Blog do Josué Nogueira no DP de hoje (30/07), mostra o outro lado da moeda petrolinense, reflexo do momento. Políticos se engalfinham disputando a Califórnia do Sertão do São Francisco. E, como sempre, seu foco foi objetivo e educador, servindo também de alerta para a escolha dos futuros dirigentes deste Oasis Feito de Vinho, onde, com todo respeito, repete-se o milagre da transformação da água (do S. Francisco) em Vinho. Parabéns.
José Artur Paes

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