quarta-feira, 25 de abril de 2012

Preconceito Renitente

O Brasil cresceu rapidamente no passado recente, graças aos esforços desenvolvidos internamente e, ao mesmo tempo, aos avanços tecnológicos que se ofertam em nível mundial. As telecomunicações, os transportes aéreos, os avanços na área da saúde e da educação e, enfim, a globalização econômica foram fatores propulsores dessa transformação. Como resultante, nota-se, hoje, uma integração bem maior entre os brasileiros das diferentes regiões. Belém, Recife, Fortaleza, Salvador e Porto Alegre são metrópoles vibrantes pouco devendo aos tradicionais polos do Rio e São Paulo, guardando, é claro, as proporções de tamanho. Fico muito entusiasmado em testemunhar tudo isto.
Contudo, há coisas que você não consegue entender. Passei o fim de semana passado em São Paulo. Eu gosto muito daquela cidade. O movimento cultural, o comércio as opções gastronômicas, entre outros atrativos, fazem a minha cabeça. Morei algum tempo por lá e sei encontrar tudo que quero com facilidade. Sinto-me em casa.
Mas, tem uma coisa que não consigo engolir dos paulistas, que é o preconceito que historicamente alimentam, em relação aos nordestinos. Eu pensava que o referido processo de integração podia diluir essa praga e, pelo visto, não acontece. Os paulistas adoram vir às praias do Nordeste e se refestelar nos luxuosos resortes e pratos típicos regionais. Dançam, comem e, se pudessem, não saiam das águas quentes dos mares nordestinos. Voltam com saudades. Tadinhos... Com razão, porque lá não tem nada igual ou parecido. Porém, contudo, todavia, via de regra, não conseguem abandonar as teias do preconceito. Só eles fazem tudo melhor, só eles são educados e somente eles podem dominar a cena nacional.
Não, eu não fui maltratado durante o fim de semana, quando da minha passagem pela cidade. Ao contrario, fui bem recebido por onde andei e passei bem com minha família. Minha revolta foi ao procurar – na Folha de São Paulo On line – noticias sobre o show de Paul McCartney no estádio do Arruda, no Recife, na noite anterior (sábado, 21.04.12) e dei de cara com uma reportagem lamentável, depondo contra a plateia e mesmo o ex-Beatle. O cidadão – editor assistente da Folha Ilustrada, de nome Rodrigo Levino – reduziu, com poucas palavras, o espetáculo como sendo uma coisa sem propósito, devido ao publico e o local. Afirmou que a plateia, na maior parte do tempo, se dividiu entre a apatia e a dispersão. Dessintonizada do artista, somente se ligando por três vezes durante a execução de algumas músicas clássicas do grupo britânico e, certamente, deslumbrados com a simultânea queima de fogos. Ou seja, reduziu os nordestinos a reles analfabetos culturais. Continuou dizendo que “...houve um descompasso visível que prejudicou o bom andamento do show”. E concluiu desafiando os recifenses a reaver o tempo perdido, no segundo show, realizado na noite do domingo. MacCartney fez duas apresentações no Recife, atraindo publico do Brasil inteiro, principalmente da Região Nordeste.
Aquela reportagem me deixou lamentando profundamente o insucesso que se registrava. Insatisfeito, acessei os jornais do Recife e encontrei outra forma de relato. Mesmo sendo jornais pernambucanos – que, por óbvias razões, poderiam incensar a promoção – cheguei à conclusão de que não foi bem aquilo lá divulgado pela Folha. Ao invés de apatia havia ocorrido uma sinergia coletiva, uma vibração sem tamanho e o cantor se mostrou, várias vezes, satisfeito com as reações do publico, de quase 60 mil pessoas. O editor da Folha diminuiu o publico para 40 mil. Fiquei sabendo que durante o show, McCartney ensaiou algumas palavras em português e fez tremer o Mundão do Arruda ao chamar o pernambucano de “povo arretado” e para terminar se despediu desfraldando a bela bandeira de Pernambuco (vide foto). Soube de nego que despencou no choro. Enfim, foi o maior sucesso.
Acho que a Folha de São Paulo, para ser honesta, devia ter posto uma manchete de capa noticiando o show do Recife – foi uma estreia nacional da turnê – como faz quando acontece em São Paulo. Mas, não! E sabe qual foi a capa da Folha impressa? A atriz Adriana Esteves (com foto imensa) elogiando o “bom” caráter da vilã que desempenha na novela da Globo. Tenha dó... Voltei ao site da Folha e fui ler as reações dos leitores. O tal do Levino – que está mais para leviano – editor assistente estava sendo descascado. Só não foi chamado de jornalista. Mas, foi chamado de tudo que não presta. Os depoimentos dos que assistiram ao show – pernambucanos e forasteiros, inclusive paulistas – são testemunhos do sucesso. Tenho prá mim, que uma coisa que pegou foi o fato de que McCartney teve que fazer duas apresentações no Recife, para atender a demanda do publico. Isto, até hoje, só se registra normalmente na Paulicéa tamporosa. É chato...
Agora, me digam mesmo, não é uma vergonha? Temos que lutar contra o preconceito escancarado e publicado, por quem faz a opinião publica nacional, porque sendo a Folha uma jornal lido no país inteiro, estamos roubados! Se esses dois shows fossem no Morumbi, a Folha teria pauta para uma semana. Mas, como foi no Nordeste, não se constituiu num acontecimento. Dá-lhe Recife! Abaixo os editores desonestos para com o povo brasileiro e o preconceito renitente.

NOTAS: 1. A foto foi obtida no Google Imagens. 2. Lamentei por não haver ido ao Show, por motivo de compromisso em São Paulo. Uma besteira... 3. A postagem foi encaminhada para o Ombudsman da Folha. A recepção foi registrada.

15 comentários:

Anônimo disse...

Coisas de quem incomoda.

Igualzinho a quando o vizinho troca de carro e compra um zero km.

Mas a repercussão lá pelo sul já estava sendo evitada há muito tempo, desde que noticiaram os shows, a visibilidade na grande imprensa (exceto o Fantástico) era zero ou zero virgula um.

O povo do sul está mal acostumado, com raiva e enciumado a sempre ter show na terra deles.

Não têm o costume de pagar passagem de avião, hotel, táxi e ingresso pra ir pra Recife assistir show. Acham isso um disparate, se sentem aviltados com algo que achamos normalíssimo, pois sempre foi assim para nós, nordestinos, "pernambucanos, 'recifianos', povo arretado, da terra de Luiz Gonzaga" como bem disse Paul McCartney, em alto e bom som, comprovado em vários vídeos no Youtube.

Pior (melhor) ainda, o único lugar em que ele levantou a bandeira de um estado, e não do país, foi aqui, na nação pernambucana, imortal!
Morram de inveja sulistas, pois quem foi pro show viu a realidade bem diferente.

Aliás, o Guitarrista de Paul McCartney, o senhor Rusty Anderson, postou em sua página no Facebook que a audiência na primeira noite em Recife foi "estelar".

Quem tiver dúvidas, basta acessar o link aqui ao lado e verificar:

"getting ready for soundcheck - 2nd show in recife, brazil. last nights' audience was stellar!"

https://www.facebook.com/rustyandersonmusic

Assinado,
Um 'Recifiano', Pernambucano, da terra de Luiz Gonzaga, membro da nação do povo arretado

Prof. Artur Reis disse...

Meu amigo Girley, concordo com você sobre a importância de se fazer uma crítica que seja verdadeira e honesta. O que define o fracasso de um show: 1 - A falta de público? Isso não aconteceu, tivemos um grande público pagante no sábado e um pouquinho menor no domingo. 2 - Desinteresse do Público? Com certeza todos os fãns que estavam na fila desde o dia anterior, e mesmo os demais que estiveram presentes no show, mostraram-se altamente interessados e motivados em assistir um show inédito aqui no NE. Basta ver as cenas do show e da multidão que estava presente para comprovar que o que foi escrito é distante da realidade.

Portanto, talvez possa ser apenas inveja do NE estar sendo a bola da vez. Pode ser que esse jornalista tenha apenas transcrito a crítica infundada feita por outro cidadão da revista Rolling Stones. Ou por fim, pode ser mesmo discriminação, mas eu reluto em admitir esse fato nesses tempos modernos. Precisamos mesmo investir um pouco mais em publicidade e propaganda institucional, para reverter esse quadro e tornar Pernambuco um lugar atrativo e interessante, além praia e além frevo.

Corumbá disse...

Caro Girley:

Sabe o que eu sinto, vendo uma coisa dessas? Pena! Pena dos paulistas que tem que ler um "jornalista" bem informado desses e acreditar no fracasso da apresentação.
Além dos nordestinos - a maioria presente -, também Paul McCartney não merecia isso. Assim se formam alienados, como o povo americano, por exemplo (nó e eles)
Que pena!

Baiano disse...

Amigo Girley,
Essa praga chamada preconceito, na minha opinião, vai continuar existindo por muito tempo. Isso é algo que nós só podemos lamentar porém, jamais, diminuir (ou extinguir) algo que está dentro dos outros.
O que tem me alegrado recentemente é a redução do complexo de vira-lata que os pernambucanos tinham de si mesmos... Por exemplo, nas obas públicas, ou algo acontecia dentro do mandato de um sujeito, ou o seguinte parava tudo. Veja a Via Mangue que estava ha 20 anos no papel e só agora vai sair da prateleira das idéias...
Pernambuco vive um momento mágico, Girley. E não deve isso a ninguém a, não ser, aos seus filhos...
É hora de avançar, atrair investimentos, treinar nossos jovens e nossa força de trabalho e buscar sozinhos, o nosso destino.
Mostramos que ninguém vai chegar na Presidencia sem o nosso voto.
O que nos faltava era autoestima.... Ainda não chegamos lá, mas considero estarmos no caminho certo...rsrs
Abraços
Baiano

Angela Cunha Barreto disse...

Alô, Girley!!!
Mesmo não tendo tido a felicidade de ter assistido aos megashows do ETERNO EX-BEATLE - PAUL McCartney -me informei do estrondoso sucesso pela Imprensa, assim como pelos infinitos amigos que estiveram no Arrudão, nas noites de 21 e 22 de abril de 2012.
Mais uma vez, mesmo estando em São Paulo no inesquecível final de semana vivido pelos pernambucanos, que foram ao delírio com as duas apresentações de McCartney, no Recife,você foi perfeito nas suas críticas e ainda benevolente com mais um leviano e preconceituoso paulista, que se prevaleceu - na sua condição de jornalista da Folha, para tentar OFENDER AO SOFRIDO, MAS HERÓICO, CULTO E DIGNO POVO NORDESTINO.
PAUL SE DESPEDIU DA MULTIDÃO COM A BANDEIRA DE PERNAMBUCO, O QUE NÃO HAVIA FEITO EM NENHUM ESTADO ATÉ ENTÃO.
E O INGLÊS FAMOSO, NA SUA IMENSA SIMPLICIDADE ACOSTUMADO AS GRANDES PLATEIAS DO MUNDO INTEIRO, FEZ QUESTÃO DE SAUDAR A TODOS COM UM SONORO "POVO ARRETADO!!!", ALÉM DE LOUVAR O NOSSO REI DO BAIÃO.
O RESTO É RESTO, AMIGO GIRLEY!!!
ALIÁS... PREFIRO ESCREVER... É LIXO!!!
ÂNGELA CUNHA BARRETO

Ilo disse...

Mestre:
Para o jornalista "informado". Falam, a boca pequena que o próximo será o U2. Ai, nós convidamos o ilustre jornalista da ilustre FDSP, para um camarote VIP. Talvez, ele quisesse, um jabá.Ou não sabe o que é um ex-Beatles com uma Banda azeitada e 60.000 pessoas vibrado. É, São Paulo ... Carro chefe da nação... Até quando???
Um grande abraço, mestre.
Ilo

Liliana Falangola disse...

GIRLEY
Ótimo que você enviou o seu comentário para a Folha!
Chega a ser ridículo este preconceito que historicamente alimentam, em relação aos nordestinos.
Já passou da hora de pararem com isto!
O tal do Levino – que está mais para leviano – editor assistente estava sendo descascado. Só não foi chamado de jornalista.
Tragam-no pra cá mesmo, para ele fazer o teste de São Tomé.
Que coisa deselegante tudo aquilo que ele falou!
Liliana Falangola

Luiz Figueiredo disse...

CARO GIRLEY
É vergonhoso este preconceito rasteiro e mesquinho dos “paulistas” .Viajo muito a S. Paulo e concordo com tudo que você exalta daquela cidade.Ocorre porém que muito me irrita quando voce percebe a existência deste tipo de preconceito e para minha maior tristeza ele é mais exarcebado naquelas pessoas de origem nordestina e que se transformaram em “paulistas”.Me parece que através desta reação imbecil ,eles querem transmitir para os da mesma origem que” mudaram de patamar”e se tornaram seres superiores.
Abraços
Luiz Figueiredo

Newton de Mello disse...

Prezado Girley,
Muito bons e apropriados os seus comentários sobre a matéria da Folha de S. Paulo a respeito do show de Paul MacCartney em Recife. Esse Rodrigo Levino envergonha a classe dos jornalistas escrevendo essas inverdades preconceituosas. Como descendente, pelo lado da minha avó paterna, de nordestinos, e principalmente como brasileiro fico envergonhado que um paulista, representante de um Estado famoso pela hospitalidade às pessoas mais variadas de todo o mundo, ainda manifeste-se preconceituosamente contra outros brasileiros e ainda mais contra Pernambuco que deu e continuará dando tanto ao Brasil.
Abraços
Newton de Mello
(Empresário em São Paulo)

Simone Lustosa Landen disse...

Amigo Girley,
Fomos todos em família assistir a esse maravilhoso show, não só de música, mas também de simpatia de Sir Paul com nosso povo "arretado. Eu meu marido e filha, meus três irmãos que você tanto conhece, com os respectivos pares e sobrinhos. Uma festa de várias gerações de fãs do começo ao fim. Um dos meus irmãos levou até a sogra (apaixonada pelas músicas). Não foi em vão, valeu cada centavo e cada minuto de espera na fila. Todos em estado de graça com o espetáculo de show que assistimos, e você bem sabe que não falo dos fogos, que por sinal foi um dos vários momentos mágicos, mas da emoção coletiva e do carinho com o qual Paul McCartney e sua simpática e talentosa banda nos trataram nos dois dias. O respeito as nossas tradições e o cuidado em aprender palavras e citar o nosso rei do baião e segurar a NOSSA bandeira no lugar da bandeira do Brasil como ele faz normalmente. Não sei de onde esse tal "jornalista" (se é que podemos chamar isso de jornalismo) assistiu ao show, mas acredito que não foi do Estádio do Arruda. Preconceito brabo esse! E digo isso com pesar, infelizmente foi o que lemos na matéria tanto da Folha de SP como na Revista RolinStones.
Abraços,
Simone Wanderley Lustosa Landen

Isabel Ibarra disse...

Hola Girley,
Se ve que estuvo padrisimo….
Lo que es cierto es que yo no puedo ir aquí en México, pero si voy te platico. Viva Paul
Isabel Badillo Ibarra
(Mexico)

Hugo Caldas disse...

Liga não, Girley
Esses paulistas sempre foram superiores mesmo. Estão aí, O Quércia, o Maluf, o Ademar de Barros e o Pitta que não me deixam mentir. Hugão

Girley Brazileiro disse...

Amigos e Amigas,

Os comentários que recebi são ótimos e testemunham a verdade. Agora, o comentário de Hugo foi hilário, além de verdadeiro. Essas coisas não registradas no nosso Pernambuco, quie é terra de gente ilibada e honesta.KKKKKKKKKK

Girley Brazileiro

Francy disse...

Eu fui ao show no domingo.... foi de arrazar de maravilhoso!!!
E mais, ele disse inúmeras vezes: Viva o povo de Pernambuco!!! Viva Pernambuco!!!
Mas aquele "jornalistazinho de meia tigela" estava era com "dor de cotovelo", inveja meu povo, inveja...
abs,

Regina Dubeux disse...

Que bom que você me mandou esse post do seu blog, amigo Girley! Não tinha lido. O comentarista Illo, aí em cima, está certo quando sugere a hipótese de o tal Leviano/ou Levino querer um jabá. Desse um jabá a esse jornalicóide (criei esse neologismo para o dito) e ele diria o contrário do que disse. Ou seja: Não merece crédito no que notifica.
Só uma coisa me deixa cismada. Por que mais pessoas, do seu nível, cultura e honra não se pronunciam sobre esses ataques de preconceito vindos dos herdeiros dos 'serial keeelers' conhecidos como Bandeirantes? Que seus bons amigos paulistas esclarecidos me desculpem, mas não resisto. Depois te mando a nota que o Jornal do Commercio veiculou sobre meu desabafo contra o preconceito da juíza em recente caso da pernambucana ultrajada pelo jovem paulista que lhe aplicou sucessivos bullyngs idiotas. PARABÉNS, GIRLEY. Cada vez mais admiro este Blog.

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