quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Adeus, Mama África

Quando o DJ atacava de Pata-Pata, nas discotecas da minha juventude, a moçada ia à loucura. A pista de danças ficava pequena e o “rala-rala” dos corpos em evolução dava o tom da alegria da noitada. Tratava-se de uma música que explodia nas paradas de sucesso do mundo inteiro.
Tempos depois, quando já nem me lembrava, fui ouvi-la na distante África do Sul, nos idos de 1996, quando andei por lá, numa Missão de negócios. Estranhando o sucesso tardio, comentei a um nativo de que a época dessa música, no Brasil, havia ocorrido muitos anos antes. Para minha surpresa, meu interlocutor explicou que Pata-Pata será, para os sul-africanos, um eterno sucesso, por ser da autoria da mais famosa cantora do país, Miriam Makeba, mais conhecida como Mama África, pela sua internacional militância em favor da independência das nações africanas, na segunda metade do século 20.
Intrigado com aquela novidade, fui atrás de discos, digo CDs, da cantora famosa do país que eu visitava pela primeira vez. Mais do que isso quis saber a respeito da vida dela, já que se tratava de uma personalidade política de um povo que experimentava a liberdade, depois da sombria Era do Apartheid. Mandela estava em liberdade e governando a Nação que ajudou a construir. Era uma história que andava me fascinando e me levando a explorar tudo quando estava ao meu alcance, ou seja, lances históricos, personagens e futuro. Foi quando soube que ela, Miriam Mabeka, depois de longos anos no exílio, por insistência de Nelson Mandela havia retornado a África do Sul, sua terra natal, em 1992 e de lá continuava fazendo sucesso no mundo inteiro, enquanto desenvolvia um trabalho social de apoio a adolescentes em situação de risco, nos subúrbios de Johannesburgo.
Não tive o prazer de conhecê-la ou de assistir alguma das suas apresentações.
Hoje (11.11.08), amanheci o dia lendo, nos jornais do Recife, a noticia da sua morte repentina, ontem, na Itália, aos 76 anos de idade. Lamentável. Depois de um show, em favor do escritor Roberto Saviano, ameaçado de morte pela máfia italiana. Morreu quase que cantando, desmaiou, ainda no palco, quando se preparava para um bis, ao som de aplausos dos fans. Talvez, como um dia desejou. Seguramente feliz. Morreu em plena militância política em favor dos oprimidos. Morreu sendo a voz da África. Cantando a verdade, como sempre dizia. “Eu não canto nunca para a política, mas sim para a verdade” esta foi sua declaração mais famosa.
Calou-se, assim, uma voz lendária do Continente Africano, pouco conhecida ou divulgada no Brasil. Não tenho noticias de apresentações por nossas bandas.
Mama África, uma zulu de alma, ficou mais de 30 anos no exílio. Foi como pagou pelo intenso combate que exerceu contra a degradação do seu povo, sob o jugo dos chamados nacionalistas africaners, de origens holandesa e britânica. Correu meio mundo na sua vida de exilada. Inglaterra, Estados Unidos, onde experimentou do maior sucesso e chegou a cantar na Casa Branca, na época de John Kennedy e, por fim, na Guiné. Suas musicas que misturavam ritmos tradicionais africanos com blues, jazz e gospel foram proibidas no seu país natal, devido às denuncias contra o regime racista sul-africano, na ONU, no remoto 1963, quando ela contava com apenas 31 anos de idade.
Pata-Pata, embora sendo de 1956, estourou nas paradas de sucesso do Brasil, se não me falha a memória, nos anos 70. Só pode ser ouvida pelos sul-africanos com o fim do Apartheid.

Nota: As fotos forma colhidas no Google Imagens

3 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Girley,
Artigo maravilhoso.Eu desconhecia a história de Mirian Makeba.Cantei e dancei ao som do seu maior sucesso.Infelizmente,a imprensa não noticiou a sua morte.Um grande abraço,David Leal (Belém)

Corumbá disse...

Caro Girley:
Você conseguiu me deixar mais emocionado do que eu já estava em relação à esta fantástica mulher!
É uma enorme pena que sua morte teve uma repercussão junto ao público brasileiro menor do que a da adolescente Eloá.
Que Deus as tenha!
Grande abraço,
Corumbá

Anônimo disse...

Girley, muito pertinente a sua homenagem a Miriam Mabeka, a Mama Africa. Ela será eternamente lembrada não somente pelas suas canções africanas e pela cantora irreverente que foi mas por sua militância política em favor dos oprimidos do seu país.
Um grande abraço,
Mary

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