Foi passando na emblemática Cinelândia, que me dei conta dessa moderna estratégia de mercado. Deve ter sentido na cabeça dos especialistas em marketing.
Pois é, já não existe mais os majestosos cinemas cariocas. A Cinelândia já pode até mudar de nome porque lá não tem um cinema sequer! Circulando pela cidade, andei catando os cinemas que freqüentei na minha juventude. Cadê o cinema Metro de Copacabana? E o fantástico Odeon, na Cinelândia? Segundo um motorista de táxi, não sobrou nada. “Na Praça Sanz Peña, na Tijuca, quando eu era rapazola, havia mais de quinze, não resta nada, Doutor” disse o taxista. O imenso Roxy, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, ainda está por lá porque, para sobreviver, desmontou sua imensa tela de cinerama e se desdobrou em três, ao estilo dos modernos cinemas.
Era muito bom ir a cinema no Rio de Janeiro da década de 60. Engraçado era que o cidadão assistia aos lançamentos cinematográficos, que só vinham a ser exibidos, no Recife, dois ou três anos depois e, quando isso acontecia, o tal cidadão enchia a boca e dizia que já havia assistido a tal película há muuuiiiito tempo, numa das idas ao Sul. Pense na boçalidade. E tinha gente que “morriiiia” de inveja. O cara, para se mostrar ainda mais, contava para “atentas platéias” detalhes do “velho” lançamento.
Foi-se o tempo em que ir ao cinema era motivo de frisson. Era razão para colocar roupa especial. As salas de exibição de hoje são muito diferentes das dos anos 60,70 e 80. É impressionante como, aqui no Recife, desapareceram nossos cinemas, depois da estratégia dos conglomerados dos Shoppings Centers. O Recife perdeu todas suas salas de cinema comuns nas principais praças e vias da cidade
Sou dos tempos em que assistir a um filme exigia-se estar enfatiotado, metido num terno e “enforcado” por uma gravata. Para entrar nos antigos cinemas do centro da cidade – São Luis, Moderno, Art-Palácio e Trianon – o neguinho tinha que estar elegante. As moças usavam roupas toaletes e não dispensavam um par de luvas. Pensem numa gente alinhada... Nos trinques!
Indumentárias à parte, é de se considerar que sem a forte concorrência da moderna TV por assinatura, dos vídeo-tapes, DVDs e locadores de filmes da vida moderna a coisa se revestia do maior clima. Pré-estréias de gala, sessão da meia-noite e matinais infantis. As matinês eram sensacionais. Acho que a turma de hoje nem sabe o que significam os termos matinal, matinée e soirée, tirados do francês para encantar a sociedade tupiniquim.

Hoje a coisa é diferente. O espectador corre num shopping, sofre para estacionar seu veículo, normalmente atravessa longos corredores apinhados de gente, tem dificuldades de escolher o filme que deseja dada a oferta elástica de títulos e gêneros, elege um, compra um quilo de pipocas e um litro de refrigerante, entra, se espalha numa poltrona espaçosa e embarca no mundo da fantasia, enquanto vai sujando o salão. Ao final de cada sessão a turma da limpeza sofre...
Não que isto seja ruim... Nada disso! Até porque as modernas tecnologias – de som e imagem digital, efeitos especiais etc. – transformam a arte cinematográfica em espetáculo de primeira grandeza. Mas, que dá saudade do passado, isso dá.
Mesmo transformado e sofrendo fortes concorrências, cinema é a melhor diversão. Êita, que frase original!
Nota: Foto da belissima sala de exibição cinema São Luiz, no Recife, hoje fechado e entregue às baratas. Obtida no Google Imagens