terça-feira, 25 de março de 2008

DOIS DESAFIOS PARA UM BRASIL

Dois assuntos me ocorrem comentar nesta ocasião. Ambos de fundamental importância para o futuro sócio-econômico do País.
O primeiro diz respeito a atual política social assistencialista praticada pelo Governo Brasileiro, ao distribuir renda através do programa Bolsa Família, que reúne sob um “guarda-chuva”, os anteriores Bolsa Escola, Auxilio-Gás, Bolsa Alimentação e Cartão Alimentação. Lula juntou tudo através de uma Medida Provisória, que virou a Lei No. 2.836, de 09.01.2004, sob a égide do Fome Zero.
Lembro que, desde o primeiro momento, aplaudi o Bolsa Escola, de FHC, à medida que, promovendo a manutenção de crianças numa escola de ensino básico, tirava, da rua e do trabalho forçado, contingentes de menores, muitos com menos de 10 anos de idade.
O Bolsa Família assiste dois tipos de família: a primeira, que vive em extrema pobreza e a ela é garantido um fixo de R$ 50,00, mais um móvel de R$ 15,00, por filho na escola, limitado ao número de três, perfazendo, assim, um total de R$ 95,00 e, a segunda, que tem renda per capita mensal inferior a R$ 100,00, com crianças em idade escolar (6 a 15 anos) e garanta que essas crianças estejam freqüentando uma escola, para a qual é concedida uma ajuda de R$ 15,00 por criança estudando, com o limite, também, de R$ 45,00, isto é, três crianças por família.
De fato, com essa injeção de renda, muitas crianças saíram da rua ou do trabalho forçado, na roça ou na cidade, e recebem uma formação escolar básica. Isto é uma indiscutível vitória. O valor doado, per capita, pode parecer pouco, mas o que mais surpreende é que, segundo apurado, essas crianças ganhavam nos biscates ou trabalhos forçados, de antes, qualquer coisa a menos. Coitadas, eram duplamente exploradas: cassadas do direito de cidadania, conferida pela educação, e ganhando recompensas financeiras aviltadas.
Se por um lado, esses programas assistencialistas têm méritos indiscutíveis e marcam administrações voltadas para o social, por outro lado apontam para situações cruciais para qualquer futuro governante.
Pesquisas e avaliações mostram que os condicionantes para a concessão ou manutenção da Bolsa Família, têm se revelado ainda insuficiente para a formação, a longo prazo, de um cidadão economicamente independente. Eric Maskin, Nobel de Economia, em entrevista a Veja desta semana, faz um alerta para os riscos desse tipo de assistencialismo.
Ocorre que, se essa bolsa pode ser pouco para ajudar no sustento de uma família numa cidade como o Recife, é suficiente para a manutenção de uma família na área rural. Com essa quantia no bolso e sua roçinha particular de subsistência, o cidadão do interior passa muito bem obrigado, ao ponto de não buscar emprego – que começa a sobrar – fazendo, digamos, “corpo mole” para não perder o beneficio do Bolsa Família. É isto, exatamente, que vem acontecendo nas regiões do Agreste e Sertão do São Francisco de Pernambuco, onde empresários se ressentem da falta de mão-de-obra.
Dias atrás, ouvi falar numa modificação quanto à limitação do tempo de concessão da Bolsa. Não conheço, ainda, os detalhes. Mas, é preciso que isto aconteça. Caso contrário vamos formar uma sociedade viciada na dependência – na prática, parasita – num caminho de difícil retorno. O governante que ousar rever ou acabar com o Programa, vai provocar uma explosão de protestos, sem precedentes e socialmente perigoso. Eis aí um desafio colossal.


Mudando para o segundo assunto, refiro-me a outro tema divulgado na Veja desta semana, que expõe, de modo lamentável, a ausência de cientistas ou pesquisadores nas empresas privadas brasileiras. A Universidade de Brasília - UNB publicou um interessante dado sobre o assunto. A maior parte dos cientistas dos paises ricos trabalha nas empresas privadas. No Brasil, é o inverso. Eles se fecham, na maior parte, nas Universidades Federais e são mantidos com dinheiro público.
Há muito tempo ouço falar das dificuldades que são enfrentadas pelos que tentam construir uma relação Universidade-Empresa. As entidades disso encarregadas estão sempre às voltas com obstáculos muitas vezes intransponíveis. Na prática, existe uma cultura difícil de ser mudada. Pesquisadores acomodados enclausuram-se nos laboratórios das universidades, vibram com suas descobertas e deixam de socializá-las ou vendê-las no mercado, perdendo as chances de se projetar profissionalmente e contribuir para o progresso do país.
Ao mesmo tempo, empresários sem a devida sensibilidade de criar, nas respectivas empresas, departamentos de pesquisa e inovação, deixam de contratar especialistas para ampliar as chances de melhoria ou diversificação da produção, descobrimento de novos produtos e aumento da competitividade, num mundo cada vez mais exigente.
Fecha-se, portanto, um círculo vicioso, cujo resultado é um imenso prejuízo para o desenvolvimento do país.
Ilustrando a coisa, destaco alguns dados da citada pesquisa da UNB: 80% dos cientistas norte-americanos trabalham nas empresas privadas. No Brasil este percentual é de somente 27%. Lá, apenas 13% se encontram nas Universidades. Aqui, o percentual é de 66%. Muito alto. Estes cientistas têm que sair da clausura dos laboratórios acadêmicos e ganhar o mundo empresarial, dando uma chance ao pragmatismo.
Países que antes sofriam dessa paralisia acadêmica, reagem e se mostram mais atentos ao problema. A Coréia do Sul, por exemplo, já ostenta percentuais bem próximos aos dos Estados Unidos. Lá, segundo a mesma UNB, são 77% dos cientistas atuando nas empresas e apenas 16% nas academias. Vá conferir o progresso dos sul-coreanos.
Eis aí, dois desafios para o Brasil. Aguardemos o que vai acontecer.
Nota: As fotos foram obtidas no Google Imagens

2 comentários:

Anônimo disse...

Girley:
Desnecessário se faz dizer o quanto gosto do que você escreve.
Lendo o seu artigo sobre o bolsa família, devo dizer que a acomodação das pessoas beneficiadas é uma realidade. Futuramente teremos os reais
desdobramentos desse benefício. Nosso povo, infelizmente, não está preparado para receber esse e outros tipos de benefícios. Logo, logo arranja um "jeitinho" de destorcer a real finalidade do projeto.
O mesmo acontece com o seguro desemprego. Muitos operários vivem pendurados nesse seguro. Trabalho com seleção de pessoas e observo, com muita frequência, que inúmeras pessoas só permanecem no emprego o tempo necessário para obter o seguro desemprego. Abusam no trabalho para serem demitidas.
Umas ficam sem fazer nada, outras ficam fazendo biscaites e esquecem de
pagar a previdência. Quando chegam aos cinquenta anos é que percebem a
besteira que fizeram e aí já é tarde...
Apesar de tudo isso, os governantes não podem deixar de fazer algo pelos
carentes. Imagine só, R$ 15,00 (quinze reais) sendo a salvação. Tão pouco
para uns e valendo tanto para outros.
Nesta parte voltamos ao seu artigo sobre educação. Necessitamos fazer tudo
que se tem feito, mas se não educarmos nosso povo, os resultados dos
investimentos serão sempre inferiores ao esperado.
Desculpe a imensidão deste e-mail. Fiquei empolgada.
Um abraço,
Rinalva Figueiredo da Silveira

Anônimo disse...

Girley:
Desnecessário se faz dizer o quanto gosto do que você escreve.
Lendo o seu artigo sobre o bolsa família, devo dizer que a acomodação das pessoas beneficiadas é uma realidade. Futuramente teremos os reais
desdobramentos desse benefício. Nosso povo, infelizmente, não está preparado para receber esse e outros tipos de benefícios. Logo, logo arranja um "jeitinho" de destorcer a real finalidade do projeto.
O mesmo acontece com o seguro desemprego. Muitos operários vivem pendurados
nesse seguro. Trabalho com seleção de pessoas e observo, com muita
frequência, que inúmeras pessoas só permanecem no emprego o tempo necessário
para obter o seguro desemprego. Abusam no trabalho para serem demitidas.
Umas ficam sem fazer nada, outras ficam fazendo biscaites e esquecem de
pagar a previdência. Quando chegam aos cinquenta anos é que percebem a
besteira que fizeram e aí já é tarde...
Apesar de tudo isso, os governantes não podem deixar de fazer algo pelos carentes. Imagine só, R$ 15,00 (quinze reais) sendo a salvação. Tão pouco
para uns e valendo tanto para outros.
Nesta parte voltamos ao seu artigo sobre educação. Necessitamos fazer tudo que se tem feito, mas se não educarmos nosso povo, os resultados dos investimentos serão sempre inferiores ao esperado.
Desculpe a imensidão deste e-mail. Fiquei empolgada.
Um abraço,
Rinalva Figueiredo da Silveira

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