Participar de uma Missão, como a que o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Pernambuco - SIMMEPE promoveu e, em parte, comentei no artigo anterior (Rio de Janeiro – Primeiro Tempo), resulta numa excelente oportunidade de se estabelecer referenciais para novos projetos industriais. Neste caso específico, pistas que levem a identificar oportunidades de novos negócios, nas novas cadeias produtivas que se formam em torno dos grandes projetos estruturadores do Estaleiro Atlântico Sul e da Refinaria Abreu e Lima.
A expectativa que se tem, na conjuntura atual, é a de que, em Pernambuco, terá que surgir um pólo para a produção de componentes e prestação de serviços, para atender aos referidos empreendimentos.
Foi nessa intenção que a referida missão foi montada e foi com este objetivo que os “missionários” embarcaram no projeto.
Visitando um a um, cada estaleiro, muita coisa foi se aclarando para os integrantes da Missão, que logo perceberam os desafios que têm pela frente. Isto se, de fato, querem participar dessas novas cadeias produtivas, antes que alienígenas tomem conta do pedaço. Vejamos algumas observações:
Um primeiro desafio bate logo de frente: capital humano. Pernambuco não dispõe de pessoal qualificado o bastante para atender essa nova onda. As empresas do segmento metal-mecânico, hoje existentes, já andam as voltas com a escassez de soldadores, fresadores, especialistas em corte, em usinagem, em tratamento de superfícies metálicas, inclusive pintura (pintura naval, pelo que vimos, é coisa complexa), ferramenteiros entre outros. Os que existem são poucos e, a maioria, mal qualificados, carecendo de treinamento. E treinamento custa caro para as empresas. Os profissionais recém-saídos das agencias formadoras de mão-de-obra não atendem a contento e treinar em serviço, que pode ser uma estratégia, pode representar um risco.
Além disto, já se registra a falta de profissionais de nível superior para ocupar postos abertos nesses novos projetos. Em Pernambuco somente agora (antes não faria sentido) começam a surgir cursos de engenharia naval e tecnologia de petróleo e gás. E, ao que parece, somente em nível de pós-graduação. Nem é bom pensar no tamanho da carência.
Observei, num estaleiro do Rio, “juntas” de operários interpretando esquemas gráficos complexos, parte um projeto naval, sobre chapas de cortes diversos, exigindo, visivelmente, perícia cognitiva dos agentes. Foi inevitável perguntar, aos meus botões, se haveria recursos humanos dessa ordem, entre os nossos.
Este quadro leva a uma conclusão, aparentemente precipitada, mas, só aparentemente, porque a realidade é, digamos, inexorável. A necessidade premente de mão-de-obra qualificada vai levar à “importação” de profissionais, de outros estados ou, quem sabe, do exterior. Numa região em que as oportunidades de emprego são raras e o desemprego é grande, isto pode se converter numa grande frustração.
Contudo, isto parece ser um problema de dimensão nacional, à medida que nos estaleiros do Rio ouvimos queixas da falta de pessoal qualificado. Os antigos empregados (os da década perdida e quebra da indústria naval) tomaram outros rumos, se aposentaram ou faleceram levando consigo a memória da produção naval anterior. E agora, o que resta é formar novas gerações de especialistas.
Ah! Antes que me esqueça, por falar em importação de profissionais, um precedente já foi aberto num projeto no estado do Rio, o da Siderúrgica do Atlântico, do Grupo Thyssen/Krupp, em construção no Distrito Industrial de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, próximo ao Porto de Sepetiba, que está importando profissionais da China! Em outubro passado, o Ministério do Trabalho já havia deferido o visto de 48 pedidos da Siderúrgica. Eles falam em trazer 600! Olha aí que “rolo compressor”!
Pois é, esse problema de mão-de-obra é mesmo um grande desafio.
Coincidentemente, o Jornal do Comércio, do Recife, neste domingo, 2 de março, foi taxativa ao bradar, no Caderno de Economia que “Sobra vaga. Falta Experiência”. A reportagem focou os problemas pelos quais passam os setores da construção civil, refrigeração, vestuário e da produção de esquadria de alumínio. Não apurou a situação noutros setores, entre os quais o da metal-mecânica.
O mais dificil é que a coisa não pára por aí, porque outro desafio é o da produção com qualidade, preço competitivo e certificação. A indústria naval é regulada por normas de fabricação internacionais rigorosas. A exigência de um selo de qualidade é para a grande maioria dos componentes. Existem certificadoras próprias para este setor. Olha aí! E agora?
Acontece que boa parte das nossas indústrias – não necessariamente as que se fizeram representar na Missão aos estaleiros cariocas – somente agora está dando importância a uma simples certificação do tipo Serie ISO 9000. Imagino o que vai ser o ajuste às exigências impostas à indústria naval, que, de alguma forma, e em algum momento, recai sobre os fornecedores.
A propósito, uma das coisas que muito se ouviu no meio naval do Rio de Janeiro, foi a recomendação de se dar especial atenção quanto às exigências da Petrobrás, que, além de ter um esquema próprio e rigoroso, faz sempre uma auditoria/fiscalização draconiana.
Ora, se no Estaleiro Atlântico Sul o cliente, até agora, é a Transpetro, braço logístico da Petrobrás, e a Refinaria é propriedade dela, a prioridade do empresariado pernambucano tem que passar pela obtenção das adequadas certificações, seguindo a cartilha de quem compra e gosta de mandar.
Com mão-de-obra satisfatória, qualidade do produto e preço adequado, nosso empresário terá chances de se tornar fornecedor.
Mas, o que produzir? O que será que o EAS vai comprar aqui em Pernambuco? Como chegar a esta informação? Como se habilitar à fornecedora? E a Refinaria?
Eis aí um colossal desafio para esses empresários. Tenho para mim, que vai ser uma parada dura.
Terão eles condições de competir? Tomara que sim. Só não quero é que fiquem “a ver navios”.
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Para saber mais sobre este tema, clique no link a seguir:
http://gbrazileiro.blogspot.com/2008/02/rio-de-janeiro-2008-primeiro-tempo.html
Nota: Foto de um soldador, no Estaleiro da Ilha S. A.(Niterói) – Autoria do próprio GB.
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3 comentários:
Prezado Girley ,sempre aprecio muito suas narrativas ,pois refletem de forma clara a dinâmica do mercado e indústria do nordeste.
Como sugestão ,penso que você poderia ter uma coluna fixa em nosso news impresso do Simmepe ,chamada de panorama nordeste ,trazendo a cada edição uma radiografia dos fatos e acontecimentos que estão sob a zona de influencia do Sindicato e sempre fazendo uma referência ao seu Blog .
Pense nesta possibilidade.
Forte abraço
André Mozetik
Girley:
Não saberia dizer se a falta de mão de obra qualificada é um problema da nossa região ou do nosso país. Mas, a verdade é que temos muita dificuldade de encontrar pessoas capacitadas. Selecionar pessoas é um grande desafio. Títulos, diplomas, certificados já não dizem muita coisa. É um vexame quando comparamos certificados com os reais conhecimentos das pessoas.Para muitos "profissionais", ter diploma é tudo.
E, se for nível superior, melhor ainda. E o interesse de aprender realmente?!
Um abração,
Rinalva Silveira
Girley:
Você deveria sim, aproveitar o Jornal do Simmepe para fazer comentários a
respeito dos problemas da nossa região. Você é sempre tão atualizado e se
comunica tão bem, porque não passar para um número maior de pessoas os seus
conhecimentos? O sr. Mozetick tem razão. Todos iríamos lucrar. Aproveite o
jornal para divulgar o seu Blog, é uma "boa".
Beijos,
Rinalva Figueiredo da Silveira
(81) 3339-3166
rinalva@hotlink.com.br
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