terça-feira, 8 de agosto de 2023

O Disparate Zema

A semana começa com um rebuliço politico dos menos esperados. O cara com todas as possibilidades de pavimentar um bom caminho de nova liderança nacional deixa-se levar pela velha cultura do preconceito contra as regiões Norte e Nordeste. Prestou não! Um legitimo “tiro-no-pé”. Um verdadeiro disparate. Com um pé baleado ele vai pastar para conseguir emplacar o sonhado sucesso nacional. Para as regiões Norte e Nordeste ele desenhou o quadro mais detestado. Refiro-me ao Senhor Romeu Zema, governador do estado de Minas Gerais, que numa infeliz declaração dada ao jornal O Estado de São Paulo, no último fim de semana, expôs sem cerimonias sem modo de ver o Brasil e o referencial de montagem do Consórcio Sul-Sudeste de Governadores. Pelo visto de entrada, nada que possa lembrar o existente no Nordeste, cuja filosofia é de união e nunca separatista. A explicação dada é de que as regiões Norte e Nordeste conseguem sempre mais vantagens devido ao tamanho das suas representações no Congresso Nacional. O Governador Ratinho Junior, do Paraná, reforça a ideia afirmando que há sempre “perdas econômicas” para os estados do sul e o governador gaúcho, Eduardo Leite, que preside o PSDB, engrossou, de algum modo, o coro na mesma linha de pensamento. Na sua fala Zema frisou que o Bloco Suldestino (ocorre-me, agora, esta denominação) irá desenvolver esforços junto aos seus senadores com vistas a mudanças no texto da reforma tributária que venham garantir maiores benefícios (!) às duas regiões mais meridionais. “Regiões do Brasil com estados bem menores, em termos econômicos e populacionais, se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós que representamos 56% dos brasileiros ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal e perdemos”, lacrou o mandatário mineiro.
Fica claro que esse cidadão não faz a menor ideia das dificuldades socioeconômicas renitentes que campeiam no Brasil setentrional. Sem curriculum politico apreciável – ele é neófito na praia politica – o cara que vinha despontando como uma liderança em ascensão “queimou o próprio filme” e dificilmente o reeditará. E ainda fez piada de mau-gosto ao dizer que “o Nordeste é uma vaca que dá pouco leite e que os estados sulistas precisam se unir, uma vez que produzem a riqueza do país”. A declaração de Zema está visivelmente ligada às possibilidades que se abrem de benefícios às regiões menos favorecidas com a implantação da reforma fiscal que tramita no Congresso Nacional. Estão com medo da luta acirrada que pode ser travada no âmbito do Conselho Federativo, para distribuição das receitas tributárias previsto na referida reforma. Obviamente que as lideranças politicas – e haja raposas velhas – das duas regiões agredidas se mobilizaram num protesto justo e uníssono. A Governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), entre outros governantes, foi taxativa ao lembrar que “o Nordeste é parte da solução do País e deve receber atenção nas discussões federativas por tanto descaso e indiferença”. E acrescentou: “não construiremos o Brasil que sonhamos com mais desigualdades”. Infelizmente, prevejo disputas fraticidas e que, no final das contas, apontam para mais um movimento separatista. As manchetes dos jornais regionais, nestes primeiros dias da semana, trazem lições certeiras e dirigidas ao aprendiz de politica, que hoje governa Minas Gerias. Aliás, exemplos para os demais governadores dos Sul e Sudeste.
São situações desse tipo que me levam a recordar os bons tempos da antiga SUDENE, de tão grata memoria. Como faz falta a existência daquele organismo regional, politicamente forte e atuante, hoje, substituído por um de “faz-de-conta” e de denominação homônima. Numa hora dessas, o antigo Conselho Deliberativo seria convocado e, em peso, governadores regionais se manifestariam contra tamanha agressão. Aliás, e curioso, é importante lembrar que o estado de Minas Gerais fazia (ou faz?) parte desse respeitado Conselho e de lá reivindicava benefícios para sua região (Norte de Minas Gerais), incluída na jurisdição da Agência Regional de Desenvolvimento. Vi Tancredo Neves usar a tribuna da velha SUDENE defendendo o quinhão mineiro e sempre se saindo vitorioso. Ou seja, em principio, Zema não precisava recorrer a um colegiado nas suas bandas. Se a convocação fosse atualmente, ele teria o “prazer” de assistir aulas de democracia e politica, tão necessárias a quem postula um cargo tão alto como o de Presidente da Republica. Ele pretende. Deus nos livre desse disparate. NOTA: Fotos ilustrativas obtidas no Google Imagens

7 comentários:

zmvg disse...

Me parece que o “volume avantajado” de fundos perdidos para o NE, vem beneficiando mais a classe política do que aos nordestinos.
Não gosto de políticas clientelistas/protecionistas. O correto é criar empregos para quem precisa e não ajeitar “bolsas, pacotes e PMs”. Isso com o tempo já nos prejudicou demais. Por outro lado, o Zema, não teve o cuidado necessário com a verbalização dos seus pensamentos, o que nos prejudicou também por ter reduzido as chances de um terceiro nome para o próximo certame nacional. Mais uma infelicidade para nós nordestinos.

Abraços meu primo.

Adolfo Ledebour disse...

Li , mas discordo da sua visão a respeito , Zema não falou nada além da verdade , abraço

José Paulo Cavalcanti disse...

O Estadão primeiro disse que ele disse. Depois pediu desculpas, e reconheceu que não disse. Reconheceu que mentiu, pois Na versão eldigital. Só que ninguém lê essa. E acontece o que aconteceu. Todos leem o papel. Inclusive o mestre Girley. E acontece. A desconstrução, estilo PT, contra um possível candidato contra Lula. Isso não é imprensa decente, mestre. Abraços.

Geraldo Pessoa disse...

Amigo seu elucidativo texto. deixa claro a grande a incoerência da desativação da SUDENE, exemplo magnífico de um órgão especialista em desenvolvimento regional . A manutenção do nome SUDENE com às atribuições atuais, é uma desonra para quem vivenciou e contribuiu para desenvolver o Nordeste ,em todos seguimentos de infraestrutura econômica e social.

Jorge Castro disse...

Quando foi criado o “consórcio do nordeste” (esquerda) e um dos ítens (10) diz que objetiva defender os interesses políticos/econômicos dos Estados do Nordeste e não houve toda esse debate. Vivemos a síndrome do coitadismo. Nem tudo que a gente ouve, houve.

Ricardo Rego Barros disse...

Meu amigo Girley, meu respeito com a máxima vênia ao seu raciocínio, mas, vejo de outra forma...
Primeiramente todos sabem o viés ideológico do jornal em tela, como não o leio, fui buscar na Internet a fonte primária da notícia e vídeos sobre o assunto, soube o "jornalista" já se desculpou pela "distorção" entre o que foi falado e o que foi escrito, em vídeos do governador ele desmente e enfoca a força que o nordeste brasileiro tem no senado, haja vista, que são 3 senadores por Estado, portanto, o nordeste tem 27 senadores, contra 12 senadores do sudeste, e 9 senadores da região sul, é fácil entender que estão em desvantagens na aprovação de projetos e trazer verbas para seus estados, com a reforma tributária pretendida, do Governo Federal vai ainda concentrar a arrecadação e distribuir conforme seu alinhamento político, não sejamos inocentes ao ponto de achar que seja por merecimento ou necessidade. Por outro lado vemos o consórcio nordeste que não causou tanto burburinho na imprensa "paga", e não vi produzir desenvolvimento ou melhoria ao povo por conta de qualquer ação em seu favor, o dinheiro destinado ao povo e sua região simplesmente evapora como num passe de mágica do Mister M, indo apareceu Deus sabe onde. Por fim a frase que vi pela Internet o governador dizer foi a seguinte, "Está na hora dos estados do sul e sudeste trabalhar juntos para trazer soluções para ao nosso país", ele nao fala em separação.
Forte abraço.

Édson Junqueira disse...

Amigo Girley , boa noite . Nesta matéria sobre o Zema , particularmente entendo que ele está a defender seu estado
Ora se o nordeste pode ter um consórcio para se proteger , porque os outros não podem
Não vi nada de errado com a defesa dele

Haja Cravos

Neste recente 25 de abril lembrei-me demais das minhas andanças em Portugal. Recordo da minha primeira visita, no longínquo verão de 1969, ...