domingo, 20 de agosto de 2023

Tango fora do Compasso

A semana que findou foi, Indiscutivelmente, tumultuada no mundo politico latino-americano. E não falo dos “riquififes” das joias que Bolsonaro recebeu e não devolveu, vendeu e embolsou o que resultou das vendas, nem tampouco das contínuas repercussões do discurso preconceituoso – até dito por não dito – do governador mineiro Romeu Zema, contra o Norte e o Nordeste. Nada dessas futricas domésticas se comparam aos graves problemas que espocaram no ambiente além-fronteiras a começar pelo assassinato, a tiros, do virtual candidato vencedor das eleições à presidência da república do Equador, Fernando Villavicencio. (Foto abaixo). O crime foi cometido após um comício numa unidade educativa nos arredores de Quito, capital do país. Segundo investigações e prisões de suspeitos trata-se de um atentado cometido por um grupo de colombianos, ligados ao narcotráfico e a mando de interessados em estabelecer trilhas seguras de domínio do mercado equatoriano de drogas. O pecado de Vilavicencio foi, enquanto parlamentar, haver sido um grande combatente do crime organizado e da corrupção reinante no país, por ele classificado como sendo um narcoestado. As eleições foram mantidas para este domingo 20 de agosto, sob forte regime de segurança e o jornalista Christian Zurita o substituirá na chapa do Partido Construye. Zurita vem sendo seguro de forma radical e sequer participa de comícios ou debates. O clima de insegurança politica no país é de expressiva gravidade, com assassinatos em série. O resultado dessa eleição é esperado com grandes expectativas na região.
Se este episódio, no pequeno Equador, preocupa a comunidade latino-americana, muito mais preocupante se revela o resultado das previas eleitorais (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias – PASO) ocorridas na Argentina no domingo passado (13/08), que deram vitória ao novato Javier Milei (Fopto abaixo),um obscuro parlamentar que abriu uma oportuna brecha e se lançou candidato com um partido novo, La Libertad Avanza, por ele criado e um discurso populista. Com perfil revolucionário, se autodenominando de anárco-capitalista e libertário, vem conquistando eleitores nas camadas mais sofridas da atual sociedade argentina. O resultado saído das urnas, na realidade, traduzem a insatisfação dos argentinos ao atual momento que atravessa o país, saturados pelos desmandos e corrupções das recentes administrações politicas. A Argentina amarga hoje uma Inflação galopante, acima dos 110% ao ano, empobrecimento crescente – estima-se que 40% da população está abaixo da linha de pobreza e 8,9% vivem na pobreza absoluta – num ambiente de profunda e contínua crise econômica, politica e social. O candidato Milei, que “aplicou” uma acachapante derrota ao candidato peronista, Sergio Massa, no domingo passado, terminou em primeiro lugar, seguido pelos integrantes da velha Aliança opositora, a ex-Ministra Patrícia Bullrich e o prefeito de Buenos Aires, Horácio Larreta. Detalhe importante é que esta Aliança é comandada pelo ex-presidente Maurício Macri. Foi, definitivamente, um resultado surpreendente. Pouco esperado. Acontece que Milei vem agradando a população com sua proposta antissistema e de direita que responde aos anseios da população decepcionada com o flagrante fracasso das lideranças politicas das ultimas décadas, que indiscutivelmente só fizeram afundar a economia do país. “Acabaremos com o kirchnerismo e a casta politica parasitária que afunda o país”. É o que Javier Milei brada a todos e agrada em cheio o argentino insatisfeito da vida. Conheço relativamente bem o país vizinho, por onde já andei por muitas vezes e a vários propósitos. Recordo bem dos episódios que marcaram essa debaque que hoje se configura. A Argentina foi, na primeira metade do século passado, uma das nações mais bem situadas no cenário político-econômico internacional e, sem dúvidas, o mais bem posto no continente sul-americano. Era de tal modo próspero e desenvolvido que forjou uma cultura de superioridade em face das nações vizinhas. Minha primeira visita a Buenos Aires foi impactante. Como já conhecia a Europa, confesso que me impressionei com a semelhança da capital portenha com metrópoles do velho continente, particularmente Paris. A cidade de vida intensa parecia nunca parar naqueles anos 70. Jovem, entrei no ritmo portenho de corpo e alma e me apaixonei pela cidade até hoje. Tive o prazer de conhecer outras regiões e cidades importantes, entre outras Mendoza, Rosário e Bariloche. Volto por lá sempre que posso. Nestes últimos 50 anos pude acompanhar o desenrolar de marcantes episódios que conduziram ao deteriorado estado de pobreza que hoje domina o país. Lembro do horror sangrento da Ditadura Militar, a desvalorização frequente da Moeda, a época do Austral, os desastres das politicas econômicas inócuas, a loucura da Guerra das Malvinas, a alucinante fase da Hiperinflação, a Dolarização do Governo Menen, além das negociações estressantes com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e por fim as desastradas administrações Kirchnistas. É doloroso assistir tantos naufrágios político-econômicos do país Hermano.
Agora, os argentinos voltam a encarar um novo e monumental desafio, ao ter que escolher um novo mandatário. Não acredito que esse Javier Milei traga as soluções para o drama que se vivencia na Argentina, deste inicio de século. Suas ideias resultam num emaranhado de novas loucuras que somente Deus pode dar solução. Dolarizar a economia, acabar com um importante ministério como o da Educação e sair do Mercosul são projetos estarrecedores. Para mim ele está dançando um “tango fora do compasso”. Fico na expectativa de que os eleitores sejam parcimoniosos nessa próxima escolha e consigam vencer essa nova fase da sua História. Por sorte, pretendo baixar em Buenos Aires às vésperas de 22 de Outubro quando ocorrerá o primeiro turno das eleições. Verei de perto o que acontecerá e darei minha opinião aqui no Blog. NOTA: Fotos ilustrativas obtidas no Google Imagens

7 comentários:

Adolfo Ledebour disse...

Lo que Milet deseja cortar relações com a China , por causa do socialismo /comunismo , não sei onde está com a cabeça .

Teresa Cristina Souza disse...

Como sempre, uma análise ponderada, equilibrada e com conhecimento técnico. Parabéns!

José Paulo Cabalcanti disse...

. É que na Grande Mídia brasileira só se fala no candidato conservador. Sem uma palavra em quem levou a Argentina a isso. Abraços fraternos.

Manoel Quintas disse...

Sua análise, como sempre, retrata com a competência técnica e a sensibilidade de um humanista, a triste realidade de um país tão bonito quanto caloroso sempre encantando a todos que tiveram a ventura de o conhecer e se apaixonar no embalo de seus tangos maviosos ! Aqui, no nosso torrão, o calvário continua e a manada prossegue a caminho do abismo e nem se toca com o exemplo do país hermano !!!

Júlio Silva Torres disse...

Caro Girley, muy buena tu última columna.
Efectivamente nuestros países latinoamericanos van de mal en peor: increíble que se utilice el asesinato político para resolver una importante elección (Ecuador). O se desaten niveles de corrupción nunca antes vistos (Chile) cómo lo que está pasando con el gobierno de Boric, cuyos dirigentes se promovieron con el slogan de su “superioridad moral” sobre los partidos que gobernaron con anterioridad a ellos, y que han resultado ser absolutamente ineptos y ladrones.
Por su parte, lo de Argentina se explica frente a la enorme corrupción y a la pretensión del cartel de los Kirchner de continuar en el poder, después de haber hundido al país en su peor crisis socioeconómica de los últimos 30 años.
A todo ello se adiciona la izquierdizacion de los gobiernos en la mayoría de nuestros países con ofertas fracasadas en todas partes.

J.Artur disse...

Como sempre Girley, fizestes uma análise profunda de uma situação degradante para "los irmanos". Estive por lá em viagem turística, sem compromissos, e gostaria de aqui destacar o espetacular SENOR TANGO... Um show "Roliudiano"...
Parabéns pela postagem. Um abração.

Restony disse...

“Muita gente diz: Um país como a Argentina não deveria tentar uma medida dramática como a dolarização,” disse Ocampo. “Não faz sentido. O que é dramático é que não temos uma moeda. O que é dramático é que, nos últimos quatro anos, o peso perdeu 90% de seu valor. É ilógico darmos ao Estado o monopólio sobre a emissão de dinheiro se o Estado é governado por políticos que nunca podem operar dentro do orçamento.”

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