terça-feira, 24 de maio de 2022

Equivoco Lamentável

Com muita curiosidade e olhar critico de cidadão comum acompanho a tramitação, no Congresso Nacional, do Projeto de Lei PL-2.401/19, que concede aos pais ou responsáveis o direito de educar os próprios filhos no ambiente doméstico – também conhecida como homeschooling – sem que sejam obrigados a enviá-los a uma escola formalmente estabelecida. Justificativas são apontadas, mas, nem sempre convincentes. Ao menos para mim. Lembro-me, de imediato, aqueles ligadas às dificuldades econômicas da família, distanciamento constante de uma unidade educacional (famílias embarcadas, por exemplo, como aquela Família Schurmann), complicação logística de transporte domicilio-escola-domicílio ou, mesmo, principio cultural (obtuso, aliás) da família. O PL já foi aprovado, semana passada, na Câmara Federal e encaminhado ao Senado. O texto básico do PL foi aprovado por 264 deputados a favor, 144 contra e duas abstenções. O sistema é experimentado em outros países (comum nos Estados Unidos) e, segundo avaliam, com sucesso. Tenho imensas dúvidas. Minha curiosidade e critica, como referido no principio, é baseada numa trajetória profissional de logos 40 anos, sempre defendendo princípios de um sistema educacional que proporcione a formação de uma sociedade sólida, participativa e republicana. Fosse eu um representante do povo na Câmara Alta votaria contra a proposta por considerá-la uma tremenda involução e prejudicial ao desenvolvimento social do país. Num Brasil, onde são sempre encontradas brechas para praticar a insensatez e o relaxamento dos caminhos para a formação do cidadão do futuro, um projeto de Lei com esse objetivo devia ser mantido nas gavetas do esquecimento parlamentar. Esta proposta ganhou prioridade, segundo analistas da área, durante a pandemia quando milhões de estudantes, dos menores aos maiores, tiveram que se valer da forma remota de estudar. Ora, meu Deus, foi uma situação extraordinária e maléfica ao bem social global. Quando passar, tudo volta ao normal. Sabe-se hoje que muitos, milhões também, dos casos de jovens que burlavam a prática da aula on-line e sequer acompanhavam o que era oferecido pelo professor ou professora por trás da tela. Meios não faltaram para essa burla. Avaliar os conhecimentos e aplicar graus de aproveitamento tornou-se um desafio para os mestres on-line. Isto, sem falar nos casos dos profissionais de ensino que encararam a situação de modo enfadonho, desestimulantes e pouco prático, em face da cultura original.
Por outro lado, ninguém me venha dizer que seja salutar educar seu filho menor dentro de casa e sob sua reponsabilidade. Duvido da sistematização de um programa de educação doméstica capaz de formar de modo adequado uma base segura para garantir uma competência ao cidadão do futuro. Sem falar da falta que fará ao menino ou menina, das possibilidades de sociabilidade e introjeção no mundo externo no qual, em algum momento, terá que interagir. Sendo mais rigoroso e critico, arrisco dizer que a vulnerabilidade das crianças submetidas a esse fatídico regime de ensino domiciliar será propicio à prática de abusos e malefícios às crianças indefesas. Não tenho dúvidas de que se trata de um equívoco lamentável dos nossos representantes. Espero que haja idas e vindas entre Câmara-Senado-Câmara e essa proposta mofe nas gavetas do Congresso. Para encerrar, mas, por oportuno, pergunto: por que gastar tanto tempo, dinheiro e energia na discussão desse equivocado e polêmico PL e não investigar e propor aperfeiçoamento na Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que, por sinal, sofrerão cortes devido a essa impropria proposta em tela? Mais ainda: por que não discutir as possibilidades maciças de investimentos produtivos nas escolas públicas do país, dotando-as de condições eficientes e eficazes, para que tenhamos adiante uma sociedade mais digna e capaz? NOTA: Foto iustração obtida no Google Imagens.

7 comentários:

JR Produções disse...

Perfeito Girley, as dificuldades sempre vão existir, lembro que na minha infância quando entrei na escola já sabia ler e escrever minha mãe me ensinou, mas a escola é muito mas do isso, é o aprendizado da sociabilidade, da comunidade, da interação humana, ademais como pais que trabalham o dia todo vão ensinar o que as vezes não sabem, além que, o ato de ensinar é um dom também, muitos mesmo dominando todo o conhecimento não conseguem transmitir o seu saber. Aulas online é para situações emergenciais, as relações humanas são imprescindíveis para uma sociedade, bastante acertada suas análise, precisamos de medidas que possibilite a todos uma educação (conhecimento) de qualidade e amplo e não um regresso no padrão de ensino.

Geraldo Magela Pessoa. disse...

Muito feliz a abordagem de hoje. Sua posição no texto clara e objetiva. Nosso país não tem possibilidade de ensino em casa.

José Paulo Cavalcanti disse...

Assino em baixo Mestre.

Regina Da Fonte disse...

Concordo plenamente com vc!!!

Francisco Brito disse...

Este projeto nao deveria existir na atual conjuntura social.
Vejo apenas 2 pontos nele
1, de interesse de reduzir custos e elevar lucros de instituiçoes privadas, que com aulas gravadas, podem abranger com menor custo uma maior qtde de alunos e chegar assim na classe social C, D, e E.

e 2, reduzir custos do Estado (municiios e estados)

Ja do ponto de vista globalizado, os últimos posicionamentos sobre crianças pela UNICEF tem sido vergonhoso. A NOM (existe, creiam ou não, com sua agenda 2030), e ocupa a UN e UNICEF faz tempo, e já vem se pronunciando sobre controle dos filhos pelo Estado e nao pelos pais, "os pais não são donos dos filhos", disse a UNICEF recentemente sobre os educar. Vemos o que ocorreu pelo mundo onde as ideologias prevalesceram nas escolas. Creio q levaremos 20 anos para começar reverter o estrago da Pátria Educadora e o protecionismo exarcebado posto dentro do ECA via Governos fazendo vista grossa ao descaso educacional, basta vermos os dados classificatórios do IDEB e da própria UN e UNESCO sobre educaçao por cá. Imagine q sociedade teremos nos proximos 10 anos...
Tavez isso possa evitar de alguma forma, ainda q mínima, avanços rápidos dos chacais sobre nossas pequenas ovelhas indefesas.

J.Artur disse...

Quem vos fala é uma pessoa que teve pai professor, mãe professora (donos de colégio em Belo Jardim), filha professora e esposa professora. Assim, tenho bases para afirmar que suas exposições aqui expostas, são mais que coerentes com a educação geral, de cima para baixo e de baixo para cima. Parabéns.

Antonia Corinta Lucena disse...

Li seu blog. Achei ótimo. Tenho um bisneto com 10 anos de idade, que durante o forte da pandemia, ficou estudando on-line. Ele, é muito compenetrado, na hora em que as aulas inicia vamos, ele já estava preparado com o computador ligado, prestando atenção a todas as explicações, passou de ano muito bem, seguindo o exemplo de sua mãe, que é professora da PUC, mas sentia falta do convívio com os colegas, e, tão logo, foi possível voltar às aulas presenciais, ele retornou. Foi eleito representante de turma. Ele, é daqueles alunos que não admite tirar uma nota 9. Estudioso e exemplo para essa juventude. No próximo ano, já estará no 6o. ano, ou seja , entrará se não me engano no fundamental.

Haja Cravos

Neste recente 25 de abril lembrei-me demais das minhas andanças em Portugal. Recordo da minha primeira visita, no longínquo verão de 1969, ...