quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Finda sem deixar saudades

Dentro de poucos dias o tumultuado ano de 2020 finda e, quero crer, dificilmente deixará saudades. A gente costuma ter saudades de coisas prazerosas. A pandemia da Covid-19 desmontou todos os esquemas de administração do planeta, desde os mais altos até o mais simples nível de organização – famílias, por exemplo – acarretando inéditos momentos de estresse coletivo e resultando em imensos prejuízos materiais e pessoais, com dolorosas perdas humanas e empobrecimento geral da humanidade. Este ano vai encerrar deixando a todos perplexos pelos aflitivos momentos vivenciados e desejosos de virar uma página que inesperadamente foi lida. Aprendi nesses meses de reclusão que sentimentos antes experimentados esporadicamente adquiriram dimensões muito mais elásticas e com efeitos muito mais desgastantes. Falo por exemplos de tédio, solidão e medo. Viver retido, por maior que seja o espaço privado, impõe sensação de prisão e isolamento que escorregam pela sempre apressada esteira do tedio aliado ao medo de contrair a moléstia que e alastra. Muitos não se equilibraram e caíram nas malhas da depressão. Ano difícil este que finda. Contudo, como sempre fiz – referencial de vida – procurei tirar lições dessas nefastas experiências tentando fazer algo tal como uma limonada com o ácido limão disponível. Lembro que fiz um post no inicio da pandemia intitulado de “Todo Mal traz um Bem” (http://gbrazileiro.blogspot.com/2020/04/todo-mal-traz-um-bem.html) talvez antecipando o que hoje confiro. Assim, não obstante os sofrimentos, perdas irreparáveis e inúmeros momentos de tristeza, a pandemia apontou-me para aspectos invisíveis do tradicional modus-vivendi nunca antes valorizados e sequer apreciados. Durante este prolongado recolhimento descobri que a minha casa é o lugar mais seguro do mundo; que certos recantos desta mesma casa nunca haviam sido por mim apreciados com olhos mais apurados; que cada obra de arte que coleciono deixou de ser um simples exemplar e passou a “dialogar” comigo contado, cada qual, uma história diferente; que a correta e rigorosa higienização dos objetos, alimentos e ambiente em geral (que eram feitas, claro) resultam numa melhor e mais segura qualidade de vida; que a vida e a energia que me sustenta de pé é mais frágil do que imaginei até agora; que a perda de um amigo ou familiar ceifado pela Covid-19 dói mais doída que qualquer outra dor e, por fim, que a salvação da humanidade reside nas forças que venham ser impulsionadas pela compaixão e pela solidariedade dos povos. Este pode ser o tal novo normal.
Concluo lembrando que vacinas, politicagem barata, disputa do poder, progresso da ciência e da tecnologia, inteligência artificial, entre outros modernismos podem ser importantes e oferecer confortos, mas, nunca substituirão os verdadeiros sentidos da alma do ser humano. Adeus ano velho. Valeu a experiência. Não sentirei saudades. Mas, não te esquecerei. NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens

11 comentários:

José Paulo Cavalcanti disse...

Duro, amigo, é se no próximo fim de ano a gente sentir saudades deste. Deus nos proteja.

Ina Melo disse...

Amigo querido, você que ver o mundo sob outro prisma e que sabe analisa-lo tão bem, deve estar como todos nós habitantes desse Brasil, cansado de “nadar em morrer na praia”. O meu olhar difere um pouco do seu, mas se encontram ao constatar tantas injustiças! Será que haverá salvação? Quem sabe se esse apagão de 2020, não nos entregará 2021, com luz, amor e justiça? Talvez a aproximação dos planetas Júpiter e Saturno, faça com que possamos acreditar no milagre!

Geraldo Pessoa disse...

O texto de hoje mostra uma visão abrangente da pandemia. Como na vida tem dois lados, gostei do bom que enumerou muito bem. PARABÉNS por mais UMA VEZ

Abraão Lyra disse...

Muito bom o texto!👏👏👏

Cristina Carvalho disse...

Oi!!! Um ano que finda sem deixar saudades!!! Um ano em que o mundo parou e confinou as pessoas em casa. Tivemos que nos reoganizarmos e fizemos muitas descobertas. Se vai sem sem deixar saudades. Que venha um novo ano sem as mazelas desse que finda. 🍀

Monica Melo disse...

Bom dia DR Girley. Muita boa a matéria!!! Espero que o senhor esteja bem.

José Artur Paes disse...

Vi estimado amigo. Qdo passar essa danação vamos tentar um papo? Sem compromissos... Abração e sucesso continuado.

Rosanilda Lucena disse...

Muito bom o seu texto vamos rogar Deus por um 2021 menos triste e com o fim da pandemia.

Édson Junqueira disse...

Amigo Girley , sua constatação é um fato que poderia servir de alerta caso os políticos realmente se detiverem a analisar . Mas por certo passará com um acaso do medo do COVID . Girley os políticos não estão envolvidos com o povo . Somente com seus grupos e castas .
O povo que se exploda como dizia o velho Chico .
Para nós reles mortais e pagadores de impostos , resta dizer “ Sou como um Crente agora discrete no inferno a chamar por Jesus”
Estamos caminhando para o descrédito total , até a vontade de ir às ruas está passando . Em resumo tenho receio de me acovardar .

Claudio Targino disse...

A vida inteira ouvi de minha mãe “ há males que vem para o bem”
Mas o mal da reclusão forçada, imposta, nunca virão para o bem.

Anônimo disse...

Não tenho porquë sentir falta desse ano. Jogarei na lata do lixo da historia com o maior prazer.

Haja Cravos

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