segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Fracasso Anunciado

Tenho ouvido, nesses últimos dias, muitas críticas aos organizadores do carnaval do Recife. Faltam incentivos às legítimas e tradicionais manifestações culturais locais. Bailes que animavam o período pré-carnavalesco estão sendo cancelados, concursos de músicas carnavalescas foram esquecidos pelas entidades de fomento à cultura e o carnaval recifense virou um repetido e cansado festival de ritmos variados, muitos deles sem qualquer relação com as origens carnavalescas pernambucanas. Não foi por falta de aviso! Neste humilde espaço, tratei deste assunto com tons críticos desde que vi ser anunciado um tal de Carnaval Multicultural, durante o governo municipal petista. Era, como comentado depois, uma forma de encobrir as manobras comerciais e “arrecadatórias” que acredito rolem até hoje. Trouxeram e continuam trazendo artistas de fora em detrimento dos locais, a preço de ouro e garantindo as “vantagens” por fora. Nessa onda espúria vi até exibições de tango no Cais da Alfândega. Nada contra o tango, nem o rock, o axé ou o carimbó, mas, fazer desses ritmos base do carnaval do Recife! Francamente. Vá à Bahia e veja o que ocorre. Preservação dos valores locais!     
Numa clara conseqüência dessa incompetência cultural, lamento ao notar que as novas gerações não sabem o significado do frevo ou do maracatu. Aliás, detestam esses gêneros de música. Não tardará muito e serão lembranças do passado. Por mais que se entenda que os tempos mudaram e novas idéias e novas formas criativas aparecem é inadmissível que uma ação orquestrada por profissionais desqualificados e alienados, no comando das entidades culturais promotoras, prestem um desserviço social que vem aniquilando o que de precioso foi construído no passado. O fracasso de hoje foi, portanto, um coisa anunciada.  
Observe-se que o que norteia, atualmente, as programações carnavalescas do Recife é pautar valores artísticos de fora, na esteira do sucesso nacional, em lugar da valorosa prata da casa. São interpretes de ritmos alienígenas para iludir os alienados pernambucanos ao som de pagodes, funks, sertanejos, sertanejos universitários, axés, carimbós e rock da pesada, entre outros. Frevo que é bom e pernambucano aparece, quase pra fazer favor e à margem da programação oficial. Pior do que isto é ver que o público assiste tudo de pé numa aglomeração quase sem entusiasmo para pular ou dançar. Portanto, não passa de um festival de músicas e ritmos diversificados. Quem quiser que aprove. 
Multidão parada assistindo a um show carnavalesco no Marco Zero
A salvação do carnaval recifense vem sendo o desfile do Bloco de Máscaras Galo da Madrugada, feliz iniciativa de tradicionais foliões, arrastando no sábado de carnaval uma incalculável multidão pelo centro do Recife. Em moldes atuais o Galo vem honrando as tradições pernambucanas e divulgando o nosso carnaval. Aqui e acolá correndo riscos ao escorregar, também, na leviana ideia de trazer “axeseira” e “carimbozeira”. Mas, Spok responde a altura e mexe com o público. Também, depois do desfile do sábado, quem pode deixa a cidade porque já não encontra nada mais atrativo. Os velhos desfiles de blocos populares – frevo, maracatus e caboclinhos – não despertam mais interesse do público, seja pela pobreza que apresentam e a pouca importância que recebem das autoridades (in)competentes. Faltam apoios da Prefeitura, do Estado e da iniciativa privada. Os grandes patrocinadores comerciais, que podiam aportar recursos, mantêm-se ao largo. E quando o fazem é por meio de algum candidato a cargo eletivo. Aí já viu. Melhor nem comentar.
Fora o Galo, outras poucas agremiações são sustentadas por grupo de famílias da classe média, com poder próprio de bancar fantasias, músicos e flabelos fazendo um carnaval privado, quase sempre em ambientes restritos, relembrando os velhos carnavais, casos dos Bloco da Saudade e Bloco das Flores.
Bloco da Saudade tentando salvar a tradição local 
Muito bem! Mas, resta o Carnaval de Olinda. Bom, este é um capitulo a parte. Tem características anárquicas bem próprias, onde o deboche, a gandaia e a libertinagem dão seus tons. Agrada em cheio a turma jovem que encontra espaço para extravasar seus recalques, mágoas e traumas, além de expungir seus fantasmas. Não falta quem goste!   

NOTA: Fotos obtidas no Google imagens

7 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo texto. Por
Essas e outras o cenário musical de Pernambuco estancou. Ainda estamos limitados a Alceu Valença. Nada se renovou. Veja quantas novidades na Bahia Rio etc

Wirson Santana disse...

Creio que o Carnaval de Pernambuco é mais uma vítima da Globalização e da esquerdização ocorrida no Brasil e também em outros países.
Lembro-me muito bem dos seus passos de frevo no CRUSP. Mas até mesmo você não tem mais a energia para praticá-lo.
Além do que você também internacionalizou e a cultura pernambucana hoje é confundida com a cultura nordestina.
Está desaparecendo as diferenças estaduais e criando uma cultura maior regionalizada é isso vale também para o Carnaval

Adierson Azevedo disse...

Infelizmente, o carnaval do Internacional, do Português, e dos clubes de massas, acabou!! Quando jovem, eu assistia as disputas de lindas fantasias de Mucio Catão, Evandro de Castro Lima, Clóvis Bornay, entre outros!!

Hoje, só tem Jojo Todinho, Pablo Vitar, etc!!

Acabou meu amigo!! 😢

Ina Melo disse...

Amigo o Carnaval é alma do povo, principalmente o pobre, que brinca com sem dinheiro. Por mais que os “crentes”. Queiram que o dinheiro vá para as igrejas, JAMAIS CONSEGUIRÃO 👏👏👏👏👏

Carmem disse...

Os shows nada têm a ver com nosso carnaval, realmente, Girley. Só servem para a juventude.

Carmem disse...

Os shows nada têm a ver com nosso carnaval, realmente, Girley. Só servem para a juventude.

Carmem disse...

Os shows nada têm a ver com nosso carnaval, realmente, Girley. Só servem para a juventude.

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