sexta-feira, 9 de março de 2018

Desafio das Migrações no século 21

Semana passada, comentei sobre a emigração forçada que sofrem os venezuelanos por conta da calamitosa crise sócio-político-econômica no seu país. A fome, a miséria, a falta de paz e saúde expulsam as pessoas das suas origens e criam dramas tanto para estes que são obrigados a fugir da miséria, assim como os que são levados a abrigá-los. Brasil e Colômbia estão às voltas em receber de modo solidário e humanitário esses venezuelanos.
Mas, não somente os venezuelanos buscam a salvação noutros países. Inúmeros outros casos são registrados em vários pontos do planeta. O maior exemplo neste momento são os sírios que fogem da guerra civil que devasta o país nas mãos do ditador Bashar al-Assad. Outros povos vivem os mesmos conflitos na Ásia Central e menos conhecidos aqui no Ocidente.
As maiores vitimas da Guerra na Síria são crianças
A Europa, por exemplo, vem sendo invadida por povos oriundos da África e do Oriente Médio, regiões onde a paz desapareceu há um bom tempo. Muitos se lançam ao mar, em frágeis embarcações, tangidos de casa pelas guerras fratricidas, pela fome e a miséria que assolam aquelas regiões. Deixam tudo que têm para trás, incluindo patrimônio acumulado, vida profissional e familiar, embarcando em aventuras de migração arriscadas. Muitos morrem na travessia do mar Mediterrâneo consternando o mundo. É uma gente que na grande maioria parte em rumo ao desconhecido se tornando refém da vontade dos europeus e sofrendo das mais cruéis humilhações. O resultado de tudo isso é a mendicância vista nas ruas e praças do Velho Mundo. Estima-se que somente a Alemanha já recebeu, nesses últimos anos, mais de 1 Milhão de refugiados, ao tempo em que apela ajuda a outros países nessa missão humanitária. Isto sem falar no problema do terrorismo que, segundo constatado, vem também na esteira migratória.
Frágil embarcação com imigrantes refugiados cruzando o Mediterrâneo buscando a Europa.
Nas Américas a coisa não é diferente. A fronteira do México com os Estados Unidos é famosa por haver se tornado o passo de entrada de imigrantes ilegais na busca do sonho americano. Por ali passam indivíduos das mais diferentes nacionalidades latino-americanas, incluindo brasileiros. O Presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, promete construir um muro ao longo dessa fronteira, embora enfrente reações de todo o mundo. Caso bem complicado.
O Brasil não está imune as essas ondas de imigrantes. São Paulo é a cidade que atrai o maior número desses, por razões óbvias. São os haitianos que lideram essa corrente migratória, sendo seguidos por bolivianos que vivem em comunidades insalubres e muitos deles realizando trabalho com características de escravo para ganhar a vida. Sem qualquer incentivo governamental o Brasil recebeu, entre 2010 e 2015 cerca de 80.000 haitianos, que buscaram meios dignos de vida, após o terremoto que destruiu aquele país em 2010. Destes, 70 mil continuam no país e 45 mil têm emprego formal. Eles são os estrangeiros mais numerosos no mercado formal brasileiro. Grande número foi engajado nas construções das arenas da Copa e na Vila Olímpica, do Rio. Ou seja, aproveitaram o boom da construção civil. É provável que estejam agora amargando os efeitos da crise que se abateu sobre o país.      
Recentemente inteirei-me da atração que o Chile também está exercendo sobre uma imensa massa de imigrantes, em geral latino-americanos. São muitos que aproveitam a flexibilidade das leis migratórias chilenas e a relativa estabilidade econômica do país andino do cone sul. Lá, igualmente, são os haitianos que lideram em volume a entrada de estrangeiros no país. Já são conhecidos como “chilitianos” e chegam a Santiago em levas significativas, por via aérea, saindo em geral pela Republica Dominicana. Vivem basicamente na periferia da capital chilena, sobretudo no subúrbio de Quilicura. São tantos, estima-se que mais de 100 mil, ao ponto da localidade já se chamar de Haiticura.
 O grande problema dessas correntes migratórias é o fato de que junto com elas vêm também uma série de novos problemas para o país receptor. Além de emprego, habitação, educação e assistência médica, itens básicos para construção de uma nova vida, esses imigrantes trazem hábitos culturais diferentes, dificuldades de comunicação por desconhecer os idiomas locais, doenças erradicadas no país acolhedor e concorrência indesejada no mercado de trabalho receptor. O sarampo, moléstia exterminada em países como Brasil e Chile, volta a assolar as populações nativas exigindo a reedição de antigos programas de saúde pública, e demandando investimentos governamentais onde não havia mais necessidade. Ao mesmo tempo, calcula-se que muitas doenças sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV, estão proliferando e potencializando a partir dessas comunidades de imigrantes. O grande volume de homens imigrantes, em idade sexual ativa, aponta naturalmente para essa inesperada onda de doenças.
Esses mesmos problemas são registrados na Europa, onde a população marginal de imigrantes está provocando grandes transtornos aos países até então pouco preocupados com esse elemento sócio-político.
Eis aí um assustador desafio para os muitos países que exercem o poder de atração dos imigrantes do século 21.  

NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens 

5 comentários:

Anita Dubeux disse...

Parabéns, Girley, pela competente síntese sobre o problema da imigração no mundo, sob a ótica dos países recebedores, certamente um dos grandes desafios do Século XXI. Poucos imigrantes conseguem se inserir na sociedade como um todo, permanecendo em guetos na periferia das cidades. Estudos sociológicos se fazem urgentes, visando melhorar a convivência de pessoas de culturas tão distintas, em busca de um "modus vivendi" mais justo, tanto para os habitantes dos países recebedores, quanto para os que para lá se dirigiram. A dificuldade é que o fenômeno deverá continuar a se verificar, cada vez mais intensamente. A solução estaria em estancar a emigração, unindo esforços da política internacional, carreamento de recursos humanitários em massa, despendidos na origem, sanções econômicas, sociais e jurídicas aos governantes, dentre outras ações. Não é uma solução simples, muito pelo contrário. A ameaça de guerras com armas poderosas talvez seja ainda mais nociva. O exílio, por outro lado, é uma das formas mais cruéis de punição. Populações inteiras estão sendo vítimas desse crime, condenadas a deixar o país onde possuíam suas referências culturais. Sim, Girley, esse é um grande desafio para o Século XXI!

Jose Paulo Cacalcanti disse...

Sempre do bem. E bem informado . Parabéns,
José Paulo Cavalcanti

Nena Sultanum disse...

Meu amigo , seu relato me emocionou . Ao discorrer sobre imigrantes , em especial os"sírios" me deixou amargurada . O tempo passou , cresci ouvindo papai falar como foi sua fuga da Síria devido à guerra , perdeu tudo e veio começar nova vida no Brasil aos 14 anos fugindo com mais dois irmãos, como mascate ... o tempo passou , mas os sírios continuam em guerra . Me recuso a assistir qualquer documentário sobre o país de meus pais , porque me deixa cheia de tristeza recordando o que ele passou . O tempo passou, mas a guerra continua ! Bjs 😘
Nena Sultanum

Adierson Azevedo disse...

Girley
A questão migratória esta se exacerbando no mundo inteiro e vejo uma linha de transmissão que as une num só tom: Os países deixados não passam de locais onde seus líderes políticos agiram sem agenda sócio-econômica alguma. Ou seja, o povo sai de lugares devastados por falta de dever de casa para aqueles países que se sacrificaram e lutaram para serem austeros, sérios, e objetivos.
O prêmio destes últimos é receber levas de imigrantes não planejados e nem convidados para repartirem os frutos de seus esforços internos para chegarem ao status que hoje desfrutam.
É como um coral de cigarras tetando repartir a produção da formiga e, ainda por cima, a formiga é chamada de egoísta e latifundiária por ter trabalhado de sol a sol.
Abraço
Adierson Azevedo

J.Artur disse...

Pela enésima vez atesto meu reconhecimento por suas objetivas abordagens de fatos essenciais ao nosso aprendizado e, nesse caso, à análise geopolítica. O antigo ditado "cada macaco no seu galho" não se aplica aos seres humanos, ditos "homo sapiens"... E, depois da grande afirmação de uma dirigente do Brasil, também para as "mulheres sapiens". Parabéns. Abraço.

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