sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Emoções pouco republicanas



Faz algum tempo que venho comparando o Brasil de hoje a uma corrida num trem fantasma do Playcenter. Um susto a cada dia como um susto a cada curva no tal trem. Estes últimos dias, por exemplo, têm sido pródigos neste clima.
Acompanhei, dias passados, o debate e a luta do Governo para aprovar a necessária reforma da previdência social. Quando a coisa parecia chegar aos finalmente, o Presidente da República decreta, repentinamente, uma intervenção militar na segurança do Rio de Janeiro, mesmo sabendo que, conforme determina a Constituição Federal, inviabilizaria a continuidade da tramitação do projeto de reforma no Congresso Nacional. Foi oportunismo do Temer? Anteviu a derrota no Congresso? Era mesmo necessária essa medida extrema no Rio? São muitas as controvérsias, o assunto está rolando e, pelo visto, vai durar muito. Como a dita intervenção pode durar até 31 de dezembro, já imagino como será durante a campanha eleitoral. Como era de se esperar, virou-se a página e eclodiu um novo bate-boca no país inteiro. Mas, vejamos por parte.
Somente a oposição ao Governo e seus asseclas são contrários ao projeto da reforma previdenciária, embora que seja um tema que vem sendo “empurrado com a barriga” há muitos anos. Perde-se de vista o ano em que se começou a falar disto. Aliás, o programa das reformas gerais está pairando sobre Brasília há muito tempo. Entra governo, sai governo, independente da coloração partidária e o assunto do déficit previdenciário, das reformas trabalhista, fiscal e eleitoral, do custo Brasil, entre outros correlatos, não saem de pauta. Mas, cadê coragem para enfrentar a “onda”? Mesmo sabendo que sobram razões lógicas, as autoridades de plantão fogem da raia e só se preocupam em defender seus interesses, isto é, faturar votos nas urnas, manter-se com fórum privilegiado, dinheiro fácil no bolso, mordomias dispensáveis e outras cositas más.
No caso de uma reforma previdenciária, o mundo inteiro já percebeu o quanto isto se faz necessário. Países mais avançados já trataram disso, ainda que enfrentado oposições e dificuldade políticas. Ora meu Deus, o mundo mudou, vive-se muito mais, enquanto a atual legislação está anacrônica. Se não for revista, vai remeter a sociedade a um caos iminente. Pensando seriamente, estamos caminhando de modo célere para uma organização social com poucos produzindo para sustentar milhões de aposentados. A “curva fechada” dada pelo nosso trem, nesta semana, provocou um retrocesso significativo no programa das reformas. Estamos perdendo uma valiosa chance de emplacar essa mudança. Infelizmente tornou-se inviável, devido ao atual clima político e dada a ausência de uma coalizão política para viabilizar o projeto. Ficou para o próximo presidente. Dependendo da vontade e da coragem política dele.
E a intervenção no Rio de Janeiro? Eis aí outra questão delicada a ser entendida. Seria mesmo necessária? Mais uma vez a sociedade se divide e discute com curiosidade o significado da coisa. Alguns acreditam que sim devido a difícil situação dos cariocas. Estado quebrado, salários atrasados, políticos presos por corrupção, conselheiros do Tribunal de Contas do estado presos, o crime organizando mandando e desmandando, balas perdidas a toda hora, miséria geral. Nunca se viu tanta insegurança na cidade cartão-postal do país. Até que faz sentido a intervenção, visto por esse prisma, diante da incapacidade do estado fluminense. Mas, estamos falando de intervenção das forças armadas para exercer papel de policia. Que não é papel delas. Corre-se o risco de insucesso e resultar numa desmoralização da instituição ainda respeitada pela sociedade. Será que Temer fez certo? Só Deus sabe! Além disso, uma pergunta não tem resposta imediata: é somente lá? Parece que não. Estados como Rio Grande do Norte, Amazonas, Ceará, até o distante e sempre tranquilo Acre veem-se em situações concretas de insegurança. Caberia intervenção nesses estados? Desafio dos pesados. E pensar que aqui em Pernambuco a coisa não é diferente e a Estado não está dando conta do recado. Somente nesses primeiros dois meses do ano já foram assassinados quase duas centenas de indivíduos.
Em meio a isto tudo, há também lances digamos que cômicos, nesta semana: a nomeada Ministra do Trabalho, Dep. Cristiane Brasil, desistiu de assumir o cargo, depois de ficar mais do que provado sua falta de lisura na condução de questões trabalhistas com seus próprios empregados. E por ultimo, hoje (23.02.18), explode uma bombinha engraçada que foi a denuncia de que o Ministro interino da pasta do Trabalho responde processo por praticar roubo de energia elétrica. Usou de um “macaco” como se diz aqui em Pernambuco ou de um “gato” lá pelo Sul. Parece brincadeira. Mas, será possível, que todo mundo é ladrão? É rir pra não chorar. Haja emoções, para cada dia ou cada curva do trem.
O cidadão brasileiro está refém desse desarranjo social e sem esperança imediata de como se safar. Tudo isto como fruto de governos irresponsáveis que não souberam estabelecer politicas governamentais voltadas para o bem-estar social deixando o povo sem digna assistência à saúde, sem educação, sem emprego, sem habitação, sem nada! O tráfico de drogas rola solto e se revela para muitos – crianças, jovens e adultos – como meios de vida fáceis e rentáveis. Abastecem os viciados das altas rodas, inclusive políticos de renome. Na mesma esteira prosperaram a prostituição, o crime organizado e a corrupção. Também pudera, ao invés de investimentos com vistas à elevação da qualidade de vida do cidadão comum, investiram-se milhões e bilhões de Reais em realizar dois megaeventos mundiais – Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas – coisas mais próprias para países ricos e sem pobreza que nem o Brasil. Quanta irresponsabilidade. Circo para um povo faminto, sustentado pelo Bolsa Família, que não foi aos jogos da Copa e nem às competições olímpicas. E nem lucraram com esses eventos. Assistiram tudo à distancia e não perceberam que os gastos astronômicos aplicados pelos governantes irresponsáveis foram em detrimento do seu bem-estar social. Agora, o que resta é chorar pelo leite derramado.
Tomara que a intervenção no Rio dê certo. Tenho dúvidas. Mas, é preciso para que dê exemplo. O Brasil precisa virar esta página e parar de vez o trem fantasma. Não às emoções pouco republicanas.       

Nota: Foto obtida no Google Imagens


10 comentários:

Claudio Targino disse...

Bem comparado.
Além das curvas bruscas, o susto dos fantasmas.
Claudio Targino

JR Produções disse...

Parabéns amigo Girley, mas texto muito bem redigido, atual e comparado. As únicas diferenças entre o trem fantasma dos parques de diversões e o nosso país são que como o nome diz, um é para nossa diversão e o outro para nos matar (seja a forma que for) e o trem fantasma depois de toda a sorte de surpresas e sustos, chegamos intactos no mesmo lugar de onde partimos, o que parece que não vai acontecer o Brasil, lamentavelmente.

Jose Paulo Cavalcanti disse...

Tem calma, amigo. No fim, vai dar tudo certo. Como? Nem Deus sabe. Abraços.
José Paulo

Julio Torres Silva disse...

Caro Hermano, el problema del aumento de la delincuencia y la incapacidad policial para controlarla parece ser comun en países en que ha gobernado el populismo. Acá ha venido ocurriendo lo mismo que allá. Pero incluso es peor que en Brasil, porque hay zonas con claras acciones terroristas que Bachelet y compañía dicen que son meros actos delictuales. Con ello protegen a sus actores y cumplen su expectativas de generar el caos del cual solo se benefician los partidos de izquierda mas dura. Aquí no existía el crimen organizado como en Mexico, Colombia o Argentina. Ahora empezamos a tenerlo mientras el gobierno saliente pretende ignorarlo. A ello se agrega la inmigración indiscriminada y sin control de nada. Así han reaparecido enfermedades que estaban erradicadas como la tuberculosis, colera, sarampion, sifilis, polio, etc. Mas la llegada de delincuentes aun mas violentos que los originarios de Chile... como los sicarios que vienen de Colombia y que matan por encargo. Esto y mucho mas sera el legado de Bachelet, que al igual que Dilma y Cristina K dañaron irreversiblementa a Argentina Brasil y Chile. Un abrazo.
Julio Torres Silva

Waldo Pinto disse...

Isso, colega e amigo, lucido, preciso, muito bem relatada essa triste situação em que restam aos brasileiros. Abraço
Waldo Pinto

António José Melo disse...

É impossível identificar um incendiário, quando este somos nós mesmos. No Brasil, os políticos em sua maioria, legislam em causa própria. O projeto é o que menos importa, o importante é o quórum político que ele possa dar. A intervenção agora, é fruto de uma dessas cartadas. Espero que mesmo assim, uma delas emplaque e dê certo.
António José Melo

Leony Muniz disse...

Em 24.02.2018 22:58, Girley Brazileiro escreveu:

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23.02.2018
Girley

O trem nem precisa das curvas para descortinar uma tragédia patrocinada por esses ladrões. Os endividados do INSS foram perdoados e a conta ficou para nós. Quanto à intervenção do Rio acho patético se acreditar que tudo será resolvido. Talvez melhore um pouco se a limpeza no sistema penitenciário for feito de verdade. Ali está a grande metástase, sem esquecer o cancro principal (governo de Sergio Cabral. O Pezão escapou de levar o pezão no traseiro, mas o que é dele está guardado. A novidade é que o themeroso agora quer ser candidato à presidência, achando que com essa intervenção ganhou a simpatia do povo. Cada dia é uma novidade às avessas, mas um dia teremos boas novas, só depende de nós. Muito se tem que comentar, mas por hoje é só.
Leony Muniz


Newton Melo disse...

Caro amigo Girley,

Enquanto a política econômica continuar imaginando que o neoliberalismo puro e o regime de completa abertura à concorrência internacional resolverão nossos problemas endêmicos de corrupção, de desindustrialização e de flagrantes desigualdades sociais, o Brasil não caminhará para um futuro melhor. O Brasil precisa de uma re-industrialização consciente, com adequada proteção aos produtos nacionais, o Brasil precisa de uma renovada classe política que pense mais nos interesses nacionais, econômicos e sociais, do que em discussões vazias entre direita e esquerda, o Brasil precisa sim de estímulos fiscais para o desenvolvimento da regiões menos favorecidas, o Brasil precisa enfim, acabar de vez por todas com a impunidade, que como um câncer social torna admiráveis os corruptos, os ladrões e os lesa-pátria.

Abraços,

Newton de Mello

Thereza Leal disse...

formidável Girley seu novo Blog parabéns tudo verdade e ficamos nas decisões desses vagabundos de mãos atadas só Jesus para nos salvar sempre passamos os seus Blogs para os nossos amigos.
Thereza Leal

Olbiano Silveira disse...

Amigo, vi suas ponderações sobre essa precipitada intervenção no Rio. Gostei muito da sua análise. Não creio que será bem sucedida porque as improvisações não dão certo. Só se for milagre, mas como o amigo sabe é todos sabemos, os milagres...
Olbiano Silveira

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