sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Defendendo nossa Cultura

“Quem é de fato um bom pernambucano/espera um ano/e se mete na brincadeira/ esquece tudo/quando cai no frevo/e no melhor de festa/chega a quarta-feira”. Isto é verdade, quando dito e cantado ao som de uma bela orquestra de frevo, pernambucana da gema.  É parte do frevo canção de Luís Bandeira, de saudosa memória. Lembro disto nesses dias que antecedem o carnaval, coisa que mexe com todo bom pernambucano. Já fui um grande folião. Quando os clarins soavam à distância anunciando a chegada de Rei Momo, muitos antes de Zé Pereira, eu já estava a postos para curtir a folia que reinava na minha cidade. Era bem dentro do espírito do “entra na cabeça/depois toma o corpo/ e acaba nos pés”, imortalizados versos de Capiba, no frevo canção “Voltei Recife”. Bons tempos, os dessas canções, que já não voltam mais.
Luis Bandeira e Capiba ladeando Claudionor Germano, o maior interprete das canções dos dois
Desde os anos 60 do século passado  e inicio deste século 21 os festejos carnavalescos do Recife têm passado por fortes transformações suscitando muitas controvérsias dos estudiosos das manifestações culturais locais. Nos anos 60, a tradicional forma de festejo popular, no Recife, foi aos poucos perdendo a forma espontânea e tradicional, com o re-surgimento do entrudo que se instalou – lançamento de água, gomas, talcos, graxas, tintas etc – provocando muita violência e anarquia. Tudo em substituição ao belo e tradicional corso, com batalhas de confete e serpentinas, lança perfume e águas de cheiro. Os foliões fugiram das ruas, os blocos históricos se afastaram daquele mela-mela e o chamado carnaval de rua perdeu em muito sua beleza. Foi aí que os bailes de clubes dominaram até que o entrudo veio a ser proibido. Por longo período rolaram quatro noites de estrondosos bailes em salões fechados.
Contudo, como cultura é coisa enraizada na mente popular, o carnaval de rua voltou com força, em tons civilizados e fiéis à alegria geral. Isto a partir dos anos 80. Foi em Olinda que a coisa ganhou mais espaço. Surgiram blocos carnavalescos bem estruturados e hoje estamos experimentando novos tempos, embora que, muita coisa, ainda, mereça retoques. Tenho sido muito critico, nesses últimos tempos.
Infelizmente, quando o carnaval de rua voltou com força, alguns erros imperdoáveis foram cometidos. O governo municipal petista, por exemplo, na sua conhecida estratégia de faturar “por fora”, resolveu promover um tal de Carnaval Multicultural introduzindo atrações alienígenas – sem qualquer vínculo com a cultura pernambucana – para “animar” os festejos. Cachês altíssimos eram pagos em detrimento dos valores locais, seguramente, muito mais adequados à cultura do nosso povo. Dos ditos cachês altíssimos rolava uma boa grana por “debaixo do pano”, conforme se soube depois. Foi desse modo que empurraram, no ingênuo público, uma salada indigesta de achés, pagodes, boleros, funks e  rock, em pleno carnaval da terra do frevo e do maracatu. Por conta disso criou-se uma geração que abomina o frevo, o maracatu e os cabocolinhos. Um desastre irreparável.
Acompanhando de perto os festejos deste ano – ficarei por aqui – já observo algumas iniciativas louváveis. A Prefeitura do Recife está empenhada em contratar somente valores artísticos locais, a exceção de Elba Ramalho (a paraibana mais pernambucana que se tem noticia). Corretíssimo! 

A "pernambucana" Elba Ramalho.
Nada melhor do que pernambucanos para animar o carnaval de Pernambuco. Será assim nas ruas e foi desse modo no Baile Municipal, realizado na semana passada. Estou aplaudindo e me sentido feliz com essa atitude. De alguma forma e criticando os erros cometidos, dei minha contribuição para essa restauração. Estou encantado com a belíssima iniciativa de promover no espaço do Aeroporto dos Guararapes uma recepção deslumbrante para os que desembarcam nesta semana de carnaval. Clique em:  https://www.facebook.com/girley.brazileiro/videos/1516893591742836/ . Com muito frevo, passistas, trapezistas, orquestra de frevo, sobrinhas coloridas e muita alegria. São provas concretas do compromisso com a cultura local de quem, atualmente, governa o município e o estado.       
Porém (sempre tem um porém!), como nem tudo foi corrigido, não posso deixar de criticar o que ocorre, ainda, em certos pontos, que insistem trazer artistas de fora para alegrar nossas festas. A propósito disto, registro a infeliz atitude, recente, da direção do Clube Internacional do Recife de transformar seu famoso Bal Masquê (a mais antiga e tradicional prévia de gala do Carnaval do Brasil!) num mero show de baixíssima categoria com “artistas” inexpressivos no nosso meio social.

Jojo Toddynho e seus airbags. Cantar que é bom, não sai nada que preste.
Pensar em animar um público, que foi atrás de carnaval, com coisas patéticas e grotescas – Jojo Toddynho, Preta Gil e um outro funkeiro – foi de mau gosto e infeliz. Mesmo tendo incluído outro nome de respeito na programação a coisa desandou. Soube que rolou a maior vaia. Acho é pouco. O motorista de um casal amigo foi com a namorada (secretária domestica do mesmo casal) e achou um despropósito as apresentações e as pornografias declamadas.
Mas, ainda é tempo de salvar nossa cultura. Vamos aguardar com paciência porque o desmonte foi arrasador e exige tempo para resgatar. Tem jeito. Vamos brincar defendendo nossa tradicional cultura.    

NOTA: Fotos obtidas no Google Imagens.    

11 comentários:

JR Produções disse...

Muito bom Girley, como sempre tem escrito e fechou de forma grandiosa em criticar as péssimas escolhas que alguns ainda fazem em busca de dim dim.

Corumbá Guimarães disse...

Gostei e concordo com você!
Corumbá Guimarães

Vanja Nunes disse...

👏👏👏👏👏👏👏👏👏
Muito bom
Concordo em gênero e número
Rsrsrs
Bom carnaval
Vanja Nunes

Romero Marques disse...

Ótimas lembranças eu concordo com a nossa tradição dos nossos ancestrais prarabens e ótimo Carnaval!
Romero Marques

Nena Sultanum disse...

Girley querido e velho amigo que tanto prezo, meu abraço ! Você fez um relato completo , com elogios e também críticas que também concordo , parabéns ! Descreveu o carnaval da nossa juventude e mais iniciando com as músicas de Capiba e de Luís Bandeira. . Talvez esteja equivocada , mas quem é de fato um bom pernambucano é de Capiba , seu relato mexeu com minha memória ! Voltei Recife é de Bandeira . Mil desculpas !!!!
Nena Sultanum

Girley Brazileiro disse...

Eita Nena Sultanum! Obrigado pela observação.

Nena Sultanum disse...

Ambas as musicas são de Luiz Bandeira
Nena Sultanum

Girley Brazileiro disse...

Beleza Nena! Obrigado. Tomara q todos leiam estas observações.
GB

José Mário Galvão disse...

Primo me senti no túnel do tempo. Além de todas estas coisas boas de quebra, como a cereja do bolo, havia o “nosso” maravilhoso Corso. Te lembras?
José Mário Galvão

Edna Claudina disse...

Como sempre, supimpa!!!
Bom Carnaval, amigo!
Edna Claudina

Susana Gonzalez disse...

Me gusto tu artículo, en lo único q yo haría una crítica, es que no se trata de partidos, sino de personas. Estoy segura q no fue el partido el q dio la linea, sino el gusto de la persona, como el ejemplo que das de la presentación de artistas vulgares. Eso está en gusto de quien la invito. Pero aquí lo acertado es el regreso a la cultura Pernambucano, eso me encanta.
Susana Gonzalez

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