sábado, 5 de novembro de 2016

Diversidade Cultural

Matéria publicada, esta semana (03.11.16), num jornal do Recife, chamou-me a atenção pelo inusitado, pelo menos no Brasil, e que diz “mortos-vivos invadem ruas de São Paulo”. Pois bem, pela 11ª. vez aconteceu na capital paulista um desfile denominado “Zombie Walk” (Marcha Zumbi). Pessoas caracterizadas de mortos-vivos, bruxas, esqueletos, múmias, vampiros, matadores, entre outras figuras, prestam uma homenagem aos mortos, no dia de finados. Segundo os organizadores do evento, essa macabra caminhada se realiza em outras cidades do mundo, sendo que a primeira ocorreu na Califórnia em 2001.
Sinceramente, acho insólita essa forma de homenagem aos mortos. Lembro que, quando criança, achava enfadonha a comemoração do dia de Finados, aos moldes da época e cultura local. Mas, antes assim... Naquela época, desde o dia anterior, as rádios só levavam ao ar músicas clássicas, pelas quais eu não me interessava até então, e que se dizia serem músicas fúnebres. Na minha inocência infantil, batia-me uma tristeza inexplicável. Outra coisa, o dia de Finados era dia santo, com obrigação do preceito de ir à missa e tudo mais. Recordando o passado me admira como hoje a coisa é diferente. Prá começo de conversa, deixou de ser dia santo e virou feriado. Isso! Simplesmente feriado! E a ordem geral é aproveitar a folga. Praia, campo, balada, shows e, sempre que possível, fazendo “uma ponte de folga” ao juntar com o fim de semana. Quem morreu, morreu e que descanse em paz. Custa-me assimilar essa “nova ordem” social e, conforme fui educado, não deixo de homenagear meus mortos acendendo uma vela e orando, no cemitério.           
Mas, curioso como sou e por principio, fui atrás de saber como essa coisa acontece noutras sociedades e descobri coisas bem interessantes.
No Japão, o dia de Finados é comemorado em agosto, após o 15º dia do sétimo mês lunar. Geralmente cai no entorno do dia 15.  É uma tradição antiga, de origem Budista, e data de antes do país adotar o calendário gregoriano, no século 19. Denomina-se de Obon, é um longo feriado, quando as famílias costumam viajar aos locais de origem da família e juntas fazem oferendas, dançam e contam histórias dos mortos e de fantasmas. Nessas ocasiões eles fazem faxina no mausoléu, adornam e colocam frutas e comidas favoritas do falecido, acreditando que eles saem das cinzas para a visita anual à família.
Já na China a coisa é muito engraçada e até polêmica. As pessoas prestam homenagens com oferendas. Geralmente preparam ou compram (há um comércio rentável) reproduções, em papelão ou similar, de produtos de consumo admirados pelo falecido e que ao fim das homenagens são queimados. A idéia é que o homenageado irá precisar daquele produto lá na eternidade. Recentemente, devido a onda capitalista que invadiu a China, são ofertadas réplicas de produtos de grifes de luxo entre as quais a Dior, Gucci e Chanel, que logo protestaram em defesa das suas respectivas marcas. Esse negócio vem dando o maior rolo para os chineses. Além desses artigos, são ofertados cigarros, carros, celulares, entre outros itens.
Artigos femininos em papelão com a marca Gucci, vendidos em Hong Kong
Os mexicanos não ficam atrás. Conversando com minha amiga Susana Gonzalez, da cidade do México, fiquei inteirado que eles realizam um festival prá lá de divertido. Saem em carros alegóricos pelas avenidas, acompanhados de bandas e caracterizados com fantasias de mortos, caveiras – a famosa Catrina, ícone mexicano – vampiros, fantasmas e outras figuras do gênero. É um verdadeiro carnaval. O povo vai às ruas e curte adoidado. Insólito para nós brasileiros, mas divertidíssimo para os mexicanos. Sugiro que abra o link a seguir e veja que coisa curiosa. https://www.mexicodesconocido.com.mx/lo-mejor-del-desfile-de-dia-de-muertos-en-la-cdmx.html
Se nas ruas a coisa acontece desse modo, nos ambientes domésticos, cada família monta um altar em homenagem aos mortos, crentes de que os homenageados vêm visitá-los no dia de finados e esperam encontrar tudo que “têm direito”. Nesse altar doméstico, além da foto dos mortos lembrados, são 
Altar de Susana González
colocados: água, comida – os pratos favoritos dos falecidos –, pão do morto, velas, incensos, sal, mini-abóboras e flores que, geralmente, são os conhecidos cravos de defunto, aqui no Brasil. No México se denomina de Flores de Cempasúchil. Há, inclusive, uma lenda muito interessante sobre essa flor. Sugiro consultar o Professor Google. É interessante, quando dizem que os mortos precisam se alimentar e beber para se restabelecer da longa caminhada da vinda e se preparar para a viagem de volta. Em alguns casos são deixadas uma lapada de tequila e um cachimbo, no caso de haverem sido preferências de um homenageado durante a vida terrena. A minha amiga Susana monta anualmente um desses altares em casa. Vide foto acima.
Êita mundo velho e multicultural.
       

 Nota: A foto da China foi  obtida no Google Imagens e a foto ao lado referente à tradição mexicana foi gentilmente cedida por Susana González, minha amiga mexicana.




5 comentários:

Adierson Azevedo disse...

Amigo Girley,
Concordo 100% com suas observações e me atrevo a adicionar o fato de que não é a primeira vez que customizamos valores, festas, e crenças estranhas à nossa origem cultural. Parece que, o que vem de fora, é seletivamente escolhido pelas pessoas desse país.
Poderiam importar a ética escandinava, por exemplo. Mas isso, pelo visto, não interessa. Poderiam importar o sistema de eleição distrital dos EUA, Reino Unido, Japão, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, França, Alemanha. Mas, como nossos corrompidos políticos iriam sobreviver sem uma boquinha para sustentá-los??
Enfim, sugiro você ver 007 contra Spectre para ver como o dia dos mortos é celebrado no México, país que o amigo já deve conhecer de sobra!!! Veja essa cópia que peguei no Youtube!!! kkkkkkkkkkkkkk Caso não seja chegado às aventuras de James Bond, basta ver o inicio do filme.

https://www.youtube.com/watch?v=5v3kcSCuZlE

Abraços,
Adierson

Cristina Henriques disse...

Girley:
Acompanhei meu avô Orlando de Miranda Henriques ao cemitério de Sto.Amaro na infância,acompanhei meu pai depois que ele faleceu.Temos jazigo lá.As pessoas perderam o respeito por costumes cristãos.Vi num filme com Shirley Mac Laine esse costume mexicano.Vovô não levava lanche mas via familias aqui em Recife virem de longe e trazerem a cesta como se fosse um piquenique.Dia de limpar os tumulos,capianar,etc.Podiam importar o respeito às tradições milenares.

Susana Gonzalez disse...

Muy lindo tu reportaje, el próximo año voy a un cementerio saco video para darte una idea de cómo es la fiesta en esos lugares.

Ana Maria Miranda disse...

Cunhado li o blog , realmente são costumes muito diversos dos nossos, aqui por exemplo é dia de "farrear"e "imprensar",Para alguns não para todos .beijo

Thereza Leal disse...

Amigo Girley, adorei seu novo blog sobre Diversidade Cultural. NÃO CONHECIA os costumes destes países e fiquei comentando com Umberto como. O mundo tem valores diferentes do nosso país Na nossa família continuamos a homenagear nossos mortos indo ao cemitério no dia de Finados enfeitando com flores e velas pois tenho um Mausoléu de. Família onde estão nossos ancestrais desde meu bisavó que. Naquela época era o Barão de Uricuri onde existe o Brasão da nossa família. Hoje com a modernidade não gostaria de ser enterrada lá e sim Cremada para não. Dar trabalho para os que ficam.
Thereza Leal

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