sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Círio de Nazaré

Uma tradição que se repete há mais de dois séculos: o Círio de Nazaré, uma festa secular que movimenta a capital do estado do Pará, no Norte do Brasil, revelando uma arraigada força de fé de um povo católico ao extremo. Todo segundo domingo de Outubro a cidade de Belém para, recebe multidões oriundas de vários cantos do país e do exterior, rendendo louvores e homenagens à Virgem de Nazaré. É, sem dúvida, a maior festa popular do povo paraense e do Norte do Brasil.   
Sempre tive curiosidade de ir ver de perto essa monumental manifestação que leva às ruas, daquela cidade nortista, aproximadamente 2 Milhões de pessoas, ligadas pelo objetivo comum  de cultuar a chamada Rainha da Amazônia, Nossa Senhora de Nazaré. Fiz isto neste ano de 2015 e tive minha esposa e nosso filho mais novo como companheiros. Vide foto acima.
Voltei impressionado com tudo quanto pude assistir. Digo pude porque é impossível, para quem chega de fora, acompanhar tudo que é levado a efeito durante vários dias. A festa dura pelo menos uma quinzena. O ponto alto é o segundo domingo do mês, com a grande procissão do Círio. Mas tem ainda, o Círio Fluvial, foto logo abaixo, do qual participei a bordo de bela embarcação, o Círio das Crianças, o dos caminhoneiros, dos motoqueiros, o da Transladação da Imagem de um canto para outro da cidade e da Região Metropolitana. Tem círios para todos os gostos, idades e hora. Só não vai atrás de um círio quem não quer mesmo.
O evento é de tal magnitude que o paraense, em geral, considera essa festa mais importante do que os festejos natalinos. Aliás, é tal maneira que os paraenses não se cansam de desejar, aos que chegam ou que passam, um cordial Feliz Círio! Tem mais, o domingo do Círio é um sagrado dia de congraçamento familiar com um almoço solene, tal como num almoço de Natal. E, nem precisa lembrar, o cardápio é composto de tacacá, pato no tucupi, pirarucu no molho de camarão no tucupi e a maniçoba. Sem faltar, como adereço especial, as famosas e entorpecentes folhas de jambu.
Esta história remonta do ano 1700, quando um caboclo de nome Plácido José de Souza encontrou perdida no igarapé Murutucu (onde hoje se encontra o grande santuário) uma pequena imagem da Virgem de Nazaré, idêntica a que existe em Portugal que, segundo reza a lenda, foi esculpida por São José, em Nazaré da Judéia. Plácido levou-a para casa, mas, para surpresa de todos, no dia seguinte a imagem havia desaparecido sendo encontrada de volta no citado igarapé. Concluiu-se, de pronto, que se tratava de uma imagem milagrosa. Instalou-se dali em diante a devoção a essa imagem que dura até hoje. É ela a razão dessa festa maior dos paraenses. Foi ela que vi sendo levada de lá para cá e de cá pra lá, em Belém do Pará, nesses dias 10 e 11 de Outubro de 2015. Vide Foto a seguir.
Para falar a verdade e como católico que sou, fiquei impressionado com aquela mobilização descomunal de um povo crente e demonstrando uma fé inabalável. Tudo gira em torno da Santa e, o movimento levado a efeito cada ano, faz girar milhões de Reais na economia local. Os hotéis, restaurantes, comércios formal e ambulante fazem dessas ocasiões um lastro que os beneficia durante grande parte do ano. No final das contas, tudo vira uma festa meio religiosa e meio profana. Na minha visão de pernambucano vi a coisa como sendo um misto de Galo da Madrugada com festa do Morro da Conceição. Houve horas em que fiquei confuso sem saber se assistia uma procissão religiosa ou um desfile carnavalesco, sobretudo quando o público atacava com a dança do carimbó (dança típica paraense).
No meio disso tudo e um capitulo à parte nessa festa é a historia da corda que “arrasta” o andor da procissão, que no Pará recebe a denominação de berlinda. Representando um elo entre a Santa e os fiéis romeiros que cumprem promessas, fazem penitências ou desejam alcançar uma graça, a corda é agarrada, num percurso de 4 quilômetros, e “teoricamente” puxa a berlinda. É de sisal retorcido e oleado, grossa o suficiente para aguentar o repuxo. Pesa em torno de uma tonelada e mede aproximadamente 350 metros. Segundo fui informado é produzida na Paraíba. Mas, a coisa não é muito bem comportada como planejam os organizadores da procissão. Homens e mulheres se perfilam colados uns aos outros segurando a tal corda, produzindo uma imagem estranha e confusa – meio libidinosa aos olhos de muitos – mas, em nome da fé! Curioso, contudo, é que no meio do
caminho aparece sempre alguém que resolve cortar a corda e aí se instala a maior confusão entre os que são a favor da tal amputação e os que desejam a corda inteira até o fim do percurso. Um pedaço de corda vale como relíquia. Ouvi dizer que tem gente faz um chá, com o pedaço que guarda, para curar alguma enfermidade. O calor insuportável, a alta umidade da região e a massa humana agitam os ânimos e, por alguns instantes, a fé e a devoção são aparentemente esquecidas porque o que passa a interessar é ficar com um pedaço da corda. Quer saber mais sobre a corda do Círio de Belém clique em:
https://paesloureiro.wordpress.com/2007/10/19/a-corda-do-cirio/ Vale à pena. No fim do percurso encontrei um cidadão que portava um pedaço que fotografei e de quem recebi um pedaço. Vide foto a seguir. Saí todo contente com meu pedaço de corda.
Termino este post com um conselho: indo ver o Círio de Belém – que é coisa imperdível – procure se organizar de forma bem estruturada. É coisa de gente grande! Reúna forças e coragem. Tente assegurar um bom camarote e um bom barco para o Círio Fluvial, para participar com segurança. Mas, se tiver coragem vá segurando a corda e se entregue a Deus e Nossa Senhora de Nazaré. Mas, não me convide para acompanhá-lo(a). Eu, com meus familiares, escolhemos a primeira opção e contei com apoio de bons anfitriões paraenses.

Notas: 1. As fotos colhidas no Google Imagens, cortesia de Carlos Auad e arquivo pessoal do Blogueiro. 2. Nossos agradecimentos ao amigos Carlos Auad e Gualter Leitão pelas orientações e apoio nessa bela "aventura".

3 comentários:

Susana González disse...

Donde hay un brasileño tiene que haber música, imagínate dos millones, debe ser algo digno de verse, que bonita experiencia, gracias por compartirla.
Susana González (México)

Iracema Leon disse...

Muito clara sua descrição sobre esse evento grandioso! Um prazer inaugurar sua página do face e seu blog!! Muito o que aprender com seu show de cultura! Parabéns!! Abraços pra você e Sonia!!!
Iracema Leon

Wilma Clelia Reis disse...

Amei tudo o que li e pela sua descrição, Girley Brazileiro, me senti em Belém do Pará.
Wilma Clélia Reis

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