sábado, 17 de agosto de 2013

FIQUE ATENTO

A questão regional do Nordeste brasileiro vem se tornando, ultimamente, assunto da ordem do dia nos mais diversos ambientes institucionais da Região. Com muitas preocupações as lideranças empresariais, políticas e governamentais locais retomam essa discussão, depois de longo período “hibernando”. Voltam com força para provocar debates com vistas a uma revisão das políticas de intervenções articuladas, com vistas ao desenvolvimento socioeconômico desta parte do Brasil que, não obstante esforços anteriores, continua a requerer especiais atenções.
Também, pudera, há muito tempo não se fala em política de desenvolvimento regional neste país. Sai governo, entra governo e o assunto vem sendo posto à margem das discussões e decisões nacionais, como se o Nordeste não fosse parte desse todo nacional. Ações pontuais são anunciadas com grande estardalhaço e muita politicagem, mas os efeitos são quase sempre desconhecidos ou “empurrados com a barriga”. O que mais se vê são obras no papel, outras paralisadas ou caminhando a passos de tartaruga. Exemplos disso são as construções da Ferrovia Transnordestina, do Canal da Transposição do São Francisco, a falta das linhas de transmissão da energia gerada nos Distritos de Eólicas e a duplicação da BR-101 no litoral da Região. Como o Nordeste não pode ir para frente apenas com obras esparsas é preciso que se exija, urgentemente, das autoridades governamentais uma intervenção harmônica capaz de contemplar programas de desenvolvimento regionais, respeitando as peculiaridades de cada espaço especifico do território e sem perder de vista seu todo. As atuais discussões, portanto, são oportunas.
Participando de alguns desses debates, recordo as opiniões de dois ilustres nordestinos – Tânia Bacelar e João Paulo dos Reis Veloso – que têm alertado para o fato que existem vários nordestes. Concordo com esses importantes pensadores sobre a problemática regional. De algum modo eles lembram que existem ilhas de relativas prosperidades, encravadas num ambiente maior onde a pobreza grassa de forma renitente e o progresso é pura utopia para os que lá vivem.
Duas iniciativas recentes são dignas de registro: a primeira, sobre a qual já tive oportunidade de falar neste espaço do Blog do GB, é o Integra Brasil conduzido de forma competente pelos empresários reunidos no Centro das Industrias do Ceará - CIC, levando o debate às mais importantes praças da Região, e o Fórum Sudene 2030, realizado esta semana aqui o Recife. O primeiro pretende chegar a uma proposta de política regional de desenvolvimento e o segundo tentou discutir um cenário para 2030.
Se por um lado, Tânia Bacelar mostra, com expressivos dados, o que há de bom e de ruim, na Região de hoje, e convida para uma reflexão sobre os atuais fatores que ameaçam o futuro desenvolvimento regional, por outro lado, Reis Veloso se sai com uma bombástica mensagem garantido que o Piauí, ao contrário do que se diz corriqueiramente, é justamente o lado rico do Nordeste. Ora, vejam só, quem diria? Respeitando a inteligência do orador – isto foi no Fórum da Sudene, esta semana que termina – e o fato de ser ele um piauiense de boa cepa, é preciso ter muito  cuidado na interpretação do que foi dito. Percebi que a referencia básica dessa tese foi o fato de que ali (no Piauí) não se padece do fenômeno das secas como no restante da Região. Trata-se de uma terra fértil, banhada por uma rede hidrográfica diferenciada e capaz de produzir riqueza e bem-estar social. Está na hora, então, de se explorar melhor as potencialidades daquele espaço privilegiado. O Nordeste vai agradecer a contribuição.
Num recente debate, em Salvador (BA), durante seminário do Integra Brasil, agreguei uma palavra nova ao meu vocabulário: Mapitoba. Fiquei intrigado quando ouvi pela primeira vez. Mais ainda ao constatar que a assistência tinha intimidade com o termo/palavra. Foi quando veio a explicação. Senti-me alienado. Trata-se de uma região rica e cheia de potencialidades, na grande parte do Nordeste e parte menor do Norte. É a nova fronteira agrícola do Brasil, definida pela junção das divisas dos Estados do Maranhão (MA), Piauí (PI), Tocantins (TO), e Bahia (BA). Agora junte as siglas MA+PI+TO+BA. Soja e Arroz é o ouro da área. 14 Milhões de Toneladas, em 2012. Espera-se 20 Milhões, em 2022. Detalhe: se tivéssemos infraestrutura adequada essa riqueza não estaria vazando pelas rodovias e portos do Sudeste. Olha a falta que faz uma Transnordestina ou uma rede de navegação fluvial. Infraestrutura, gente, que não temos.

Por tudo isso é chegada a hora de colocar “a boca no trombone” outra vez. Quem for nordestino fique atento.

NOTA: Ilustração obtida no Google Imagens.

6 comentários:

Regina Dubeux disse...

Maravilhoso, Girley! Também me senti (sinto) alienada, quando o assunto é esse de que você trata: NORDESTE. A gente vive mergulhada num contexto de informações que, mesmo não vendo a mídia global ou outras, totalmente centralizadas fora do Nordeste, mesmo assim, dizia, a gente se recente de um debate escancarado sobre a questão dessa parte do Brasil. Observo que quando assisto à tv Senado, o assunto sempre em pauta gira em torno do Centro Oeste. Cadê os senadores dos 9 Estados do Nordeste? Ao passo que senadores de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás... sempre estão por lá. Parabéns por esse IMPORTANTÍSSIMO TEXTO. Vou divulgar, inclusive com Anita, que tem o endereço de Tânia Bacelar e, com esta, Anita sempre se comunica. Muito obrigada. Sim, vou ficar atenta.

Lucia Menezes disse...

Estamos sempre atentos quando o assunto é Nordeste. Tantas coisas são prometidas, iniciadas, mas algumas estão parando no meio do caminho. Somos um povo de grande potencial e raça. Nordestino que se preza não foge aos desafios. Vamos batalhar pelas desigualdades que existem em nossa região. Merecemos uma vida igual para todos.
Lucia Menezes

Celso Cavalcanti disse...

Caro Girley,

Seu alerta e comentários são extremamente oportunos. A eleição presidencial é daqui a pouco e tudo leva a crer que teremos algo novo para discutir e avaliar. O atual ciclo político esgotou-se por fadiga dos materiais e precisamos ficar atentos para não permitir que um eventual vácuo político, possa ameaçar os avanços econômicos e sociais que o Nordeste alcançou.
Só com uma presença política forte em Brasília, poderemos consolidar estes avanços e transformar em realidade o potencial que a nossa região possui, que você bem descreveu.

Abraços.

Breno Rodrigues disse...

MUITO BOM SEU ARTIGO
NECESSITAMOS REPLANEJAR O DESENVOLVIMENTO DO NE E RECRIAR PARA O BRASIL UMA COISA QUE SE CHAMA PLANEJAMENTO ECONÔMICO COM PLANOS ANUAIS< BI-ANUAIS, QUINQUENAIS , DECENAIS E MAIS.
VEJO GOVERNO ATIRANDO PARA TODO LADO EM BUSCA DE CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS E MUITAS VEZES ELEITOREIRAS E QUE VÃO REPERCUTIR NEGATIVAMENTE A FRENTE.
GOVERNO SEM PLANEJAMENTO DA AÇÃO NOS LEVA A UMA VENEZUELA.
BRENO RODRIGUES

Aristophanes disse...

Prezado Girley,
Competente e oportuna sua análise, nessa postagem. O peso de mais de meio século de desencanto e frustrações que carrego, na longa caminhada, em busca de um Brasil mais igual, me tornou cético. Com os índices disponíveis – como Você bem sabe – não saímos, em mais de setenta anos, da mesma pífia participação relativa de 43%, no PIB per capita nacional.
Disse Brasil, porque não acredito em um esforço unilateral, de dentro para fora, do Nordeste(que Nordeste?!) em prol de seu maior desenvolvimento. Tem que vir de fora para cá. Tem que se fortalecer um sentimento de integração nacional. De um Brasil mais igual, sem profundas diferenças inter-regionais.
Guardadas diferenças de cada país, foi assim nos Estados Unidos(1933), em relação ao Sul(Tennessee Valey Authority-TVA); na Italia, também em relação ao Sul, com a Cassa del Mezzogiorno(1950) e, mais recentemente, com a reunificação das duas Alemanhas.
No Brasil, o que é que vemos? Uma Constituição regionalista desrespeitada. Um Sul-Sudeste com ranços de preconceitos, tirando nossas praias. Um Ministério da Integração somente preocupado com obras desarticuladas, por todo o país e, no nosso caso, uma Sudene que, no nascedouro, foi desviada de seus objetivos maiores...
Mas, como Você diz, é bom ficar atento. Quem sabe, essa nova geração conectada se tocará e entenderá que um Brasil forte não pode ter os pés de barro?! Cordialmente, Aristophanes Pereira.
PS.: Conheço MANITOBA. È um bom exemplo da integração: A revolução do agro negócio veio, em grande parte, pelas mãos de gaúchos, paranaenses e outros.

José Artur Paes disse...

Grande Girley, sua paixão pelo desbravamento das riquezas nordestina é perene... Talvez herança da sua Sudene... E outro escriba da gota-serena, o Sebastião Barreto Campello, nos presenteou com inúmeras denúncias (críticas positivas) semelhantes às suas no "Nordeste, Quatro Séculos de Exploração"...
José Artur Paes

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