É interessante como aquela cidade está preparada para receber, competentemente. Lá o visitante não tem do que reclamar. Da chegada à saída é oferecido um variado leque de atrações, que fazem a festa de quem procura lazer. Prá começar, a cidade está limpa – pelo menos por onde circulam os turistas – embora que esteja sob o comando de uma prefeita petista. Dizem que ela tem “nariz arrebitado” e, procura ser independente. Soube inclusive que não segue à risca a cartilha retrógada do Partido. Comete lá seus erros graves, como qualquer político, entre os quais o de proibir a instalação de um grande estaleiro nas proximidades da cidade e que, segundo muitos, não seria prejudicial. Se ela tem razão ou não, só a história vai julgar, no futuro.
Mas, uma das coisas que mais entusiasma na Terra de Iracema é o cuidado que se tem em preservar os valores culturais locais. Isso parece ser o que mais seduz o visitante. Em tempos de chings-lings, cibernética desenfreada, máquina de bordar computadorizada, automação industrial e outros bichos modernos, ainda é possível se deparar com uma rendeira de almofada (vide Foto a seguir), produzindo e vendendo sua arte e prometendo ensinar às netinhas, na beira da praia, onde vivem. “Nossa arte num pode morrer, Doutor” disse-me com toda convicção. A turma jovem que passa por ela, no Mercado de Artesanato, se surpreende com a agilidade daquelas mãos carcomidas pelo tempo, porém ágil no trançar das linhas com os bilros antigos e sonoros, remetendo-me ao dantes da minha infância, no interior de Pernambuco. Já não vejo mais essas exibições, por nossas bandas. Se existe, pode até acontecer, são bem escondidas.
No mesmo mercado, um passo mais adiante, a beleza do artista que trabalha a fina areia colorida e compõe paisagens nordestinas dentro de uma garrafa (Foto a seguir), logo depois vendidas para os galegos forasteiros, sempre presentes nas ruas da capital cearense. A turma estrangeira fica deslumbrada com aquela habilidade. Compram às tuias e levam como sourvenirs.
Na beira mar da badalada Praia do Futuro, acontece um ininterrupto festival de manifestações culturais. São cantadores, entalhadores, desenhistas e comerciantes de produtos dos mais diversos. É muito interessante observar os vendedores de toalhas bordadas à mão (Foto abaixo), enfeites e bijuterias de fibras, sementes e conchas marinhas, redes de solteiro e casal, estas últimas com um marketing infalível dos vendedores, que, em tons jocosos, gritam para o público: “olha a rede de fazer menino...” quando surge uma reação mais pudica, ele emenda dizendo “... dormir”. É uma graça. Tem outro tipo de propaganda, muito eficaz, que o outro vendedor ataca dizendo: “Olha a rede de casal! Dormem dois e amanhecem três!”. Os marmanjos turistas se assanham e levam o produto. Ah! Tem vendedor que já ensaia diálogos em inglês e espanhol.
No mais é só comer lagosta fresquinha e cozida na hora ou quebrar a carcaça de um caranguejo e se deliciar com a carne do crustáceo, regado com uma cervejinha bem gelada.
O que chama a atenção é que tudo isso acontece em bares ou restaurantes superestruturados, nas areias da praia, com serviço perfeito, massagistas ao ar livre e redes para relax. Falaram-me de um restaurante – propriedade de um francês – que serve champagne e acepipes de receitas trazidas da Côte d’Azur. Brinque!
Nas praias do Recife temos nossos comerciantes praieiros, é verdade, mas, faltam organização e tino turístico. Pensando bem, faltam competência empresarial e gestão política. Sei que alguém vai discordar, mas, sou da opinião que no mundo atual tem que haver profissionalismo para tudo. Chega de amadorismo.
NOTA: As fotos são da autoria do Blogueiro
7 comentários:
Há muito tempo que tiro o chapéu para o povo do Ceará, seja em Fortaleza ou Sobral que são as cidades que mais conhecemos....
As rendeiras são únicas....
Essa arte da areia nas garrafas, dizem que veio da Jordânia. Lá também vimos muitos nessa arte.
Semana passada vimos aqui no Algarve, em Portugal, numa casa que chamam de Centros de Dia, uma senhora bem velhinha fazendo rendas de bilro e que ainda existem muitas no Alentejo. Dizem que foi do Alentejo que levaram a arte para o Ceará...
abs,
Girley,
Você é um cara feliz, sabe transmitir com muita clareza seus sentimentos.
Sobre a nossa bela e querida cidade, você falou por mim. Eu, que sou andarilha,tenho visto coisas de arrepiar...
Amigo Girley,
Se eu fosse eleita Prefeita, serias o meu Secretário de Cultura e Turismo,como não vou,espero que o futuro dirigente desta nossa linda cidade, tenha o bom senso de te nomear. Abraços. Ina Melo
Girley, concordo com voce, nossos governantes tem que tomar prividencias urgentes. Nós temos história, cultura e belezas naturais invejaveis e como voce escreveu em um amadorismo incrivel. Eu moro em Caruaru que usa o titulo de Capital do forró, porém só se ver forró uma vez por ano. Abraços, Carlos Alberto
Ótimo Girley, passear por Fortaleza, através das suas palavras!
Aqui no Recife, o que tem de projeto "engavetado", na Secretaria de Turismo... você nem imagina!
Liliana Falangola
Que saudades de Fortaleza, vc conseguiu mostrar um dos mais belos passeios ao ar livre, que é esta caminhada em Aldeota, Iracema junto a um comércio sadio e diversificado no calçadão a beira mar. Quantas viagens, quanta cultura, obrigado por enobrecer o nosso dia a dia. O que precisa melhorar e vc também nos alertou uma outra vez é o combate ao turismo sexual que é muito intenso e não sei se percebeu alguma mudança, desde a sua última viagem. Grande abraço, Gilberto Braga
Amigo Girley, muito oportuno e pertinente como sempre o seu ponto de vista. Como sabes, vim do sul para o Recife também em função de ser um dos mais belos locais do nosso Brasil. Infelizmente não se tem dado a atenção merecida e ainda somos realmente amadores quando o assunto é turismo. Parabéns para Fortaleza!
Abraço, Vitor Hugo.
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