Outubro passado, acompanhei minha esposa a um evento internacional, na cidade de Buenos Aires, capital da Argentina. Ela como convidada e eu como acompanhante consorte. Chegando lá, logo no momento da recepção, notei que só se falava português. Em seguida percebi que os convidados eram todos – ou quase todos – brasileiros. Achei curioso. No coquetel de abertura, idem, idem. Fui apresentado a um dos coordenadores da promoção, que se mostrou muito simpático e, por cima, era cidadão brasileiro. Não me contendo, indaguei sobre a razão de haver somente brasileiros, num evento dito internacional. A explicação veio na hora: a empresa promotora, uma multinacional europeia, após pesquisa de mercado, chegou à conclusão que, em Buenos Aires, os custos operacionais seriam bem menores, ao invés de realizar no Brasil, mesmo contando com as despesas de logísticas, entre o Brasil e a capital argentina, para tantos convidados. Surpreso com a justificativa, arrisquei uma nova pergunta: o Real está muito valorizado? É isto? Aqui sai tudo pela metade dos preços do Brasil. “Esta poderia ser uma boa explicação. Mas, ocorre que as diárias de hotel e restaurantes no Brasil estão absurdamente altos! Foge do padrão internacional. O Brasil tem um custo de vida muito caro! E os impostos cobrados são estratosféricos. O Senhor não acha?”, retrucou meu interlocutor. Tive que concordar e fiquei meio triste com a constatação. Minha tristeza não foi maior porque, afinal, estávamos em Buenos Aires, uma cidade que muito admiramos. Relaxamos e gozamos, como aconselhou a “filósofa” Ministra Marta Suplicy.
O tempo passou e quando eu já havia esquecido o fato, ouvi, há poucos dias – pelas ondas sonoras de uma estação que toca noticias – uma entrevista de um executivo de empresa brasileira descrevendo a programação de um encontro de gerentes, de todas as filiais do país, a ser realizado em Buenos Aires. Quase não acreditei. O entrevistado fez o maior auê da promoção e, com muito entusiasmo, falou que gastaria a metade do que seria gasto se o evento fosse realizado em São Paulo, cidade sede do Grupo. “Além do que, criamos o maior entusiasmo, entre nossos gerentes, porque irão curtir uma viagem ao exterior. Tango, compras na Calle Florida e Caminito vão encher as vistas do nosso pessoal ”. Arredondou o executivo, dizendo, ainda, que são muitas empresas brasileiras que usam dessa estratégia. Fiquei pasmo, com aquilo.
Analisando a situação e indo a São Paulo, com alguma frequência, tenho observado como têm se elevado os custos para um turista de negócios ou mesmo a recreio. Hotéis e restaurantes têm preços revistos, com muita frequência e muito acima da inflação. Um jantarzinho simples, num restaurante mediano, com um vinho nacional, não sai por menos de R$ 400,00. Já as diárias de Hotel não condizem com o que oferecem. Na perspectiva da Copa do Mundo ninguém vai segurar os preços. Vai ser um Deus nos acuda. E, o pior é que subir é fácil. Baixar, nunca mais!
Nisso tudo, uma séria constatação: o empresário brasileiro, que atua no setor turístico, perdeu a noção das coisas e detona o ambiente de negócios que vem sendo construído com imensas dificuldades. É por essas e outras que a economia do turismo não deslancha neste país. Não tem como. É por isso que fica mais barato passar uma semana em Buenos Aires, Miami ou Paris, do que em Porto de Galinhas. E, se escolher Fernando de Noronha, nem é bom falar. Classifico isto de incompetência empresarial. Agregue-se a este cenário as endêmicas mazelas nacionais dos modos sofríveis de atenção ao turista, pessoal de serviços mal formado e pouco profissional, aeroportos defasados, a insegurança pública – como uma ameaça sempre presente – e os meios de deslocamentos internos precários, e está desenhado um setor de atividades capenga e sem boas perspectivas. Se, pelo menos, houvesse um competente órgão regulador das atividades do setor ou um Ministério atuante e bem conduzido por quem entenda do crochet , poderíamos alimentar esperanças. Mas, não. Tá difícil. Com tantos atrativos, natureza luxuriante e cultura diversificada, o turismo seria uma das melhores opções de negócios deste país. Exemplos não faltam. Espanha, Portugal e Itália estão se valendo bem, em tempos de crise econômica. Aqui, falta o que por lá sobram: competência profissional e vontade política.
5 comentários:
Havia uma coisa que me fazia pensar: porque os portugueses preferem ir passar férias a Cuba ou ao México, em vez de preferir as belas praias brasileiras?
Parece que agora já sei a resposta.....
jbisaac, Portugal
Girley
Concordo plenamente, linha por linha, palavra por palavra, inclusive com a comparação Portugal/Espanha/Itália.
Ficamos num 3 estrelas na 4ª avenida paralela ao mar de Palma de Maiorca. Hotel com piscina e acomodações confortáveis.
Tenho a até vergonha de dizer quanto pagamos..
Quando fomos apanhar a chave, na noite que antecedeu a ida a Cuevas del Drach:
- tomamos a liberdade de chamá-los às 04:30 para o café, posto que o onibus virá apanhá-los àsa 5
Que nos servimos do café, recebemos duas sacolas com comidas de boa qualidade:
- é a única forma de oferecer o almoço do pacote, já que chegarão em torno da meia-noite..
Então, nosso turismo é incompetente devido a incompetência dos nossos governantes
Competência tá em Las Vegas, lá naquele deserto..
E, casino aqui? É proibido desde 1946 Presidente Dutra
"Mas" jogo de bicho e loterias, não!!A Caixa é o maior casino do mundo com suas "megas"..
Bastaria nossos governantes conhecerem Las Vegas, que logo perceberiam o que o Brasil poderia ter sido ou, quem sabe: PODERÁ SER UM DIA!!?? Espero em Deus que sim!!
Bom fim de semana com abraços do Giovanni Scandura
Girley
Vi, durante 11 anos (o tempo em que naveguei, no Capibaribe, com o meu Catamarã "Maurício de Nassau") os turistas amedrontados, escondendo as suas câmeras e bolsas e sendo
cuspidos e molhados pela correria dos garotos que, diariamente, vão se divertir nas águas daquele estuário, entre o Marco Zero e os arrecifes, onde se encontra o Parque de Esculturas de
Francisco Brennand.
A primeira providência a ser tomada deveria ser a proibição desses banhos, naquele local.
Existe uma praia tão boa e tão perto, lá em Brasília Teimosa. Por que a garotada não vai para lá?
As vans das Agências de Turismo, levam de 3 a 4 vezes por dia, pessoas de todos os lugares, que chegam para conhecer a cidade. E, a primeira parada, é na Praça Barão do Rio Branco.
(A propósito, você precisava ouvir o quê os guias turísticos - muito bem preparados - dizem a respeito da "Sentinela do Atlântico", como é o nome da obra de Brennand, e sobre tudo o mais.
Algumas vezes, eu tinha vontade de interfeir, mas me controlava e deixava pra lá.)
Liliana Falangola
COMO SEMPRE, VOCÊ ESTÁ CERTO, AMIGO GIRLEY, E NÃO TEMOS COMO MUDAR UMA TAL SITUAÇÃO!!!
PELO MENOS POR ENQUANTO!!!.
ABRAÇOS E UM ÓTIMO FDS!!!
ÂNGELA CUNHA BARRETO.
Amio Girley,
Um pais que tem LITTLE CHARLES WATERFALL E SENADORES LADRÕES O QUE VAMOS ESPERAR DE DONOS DE HOTEIS.
A COPA NO BRASIL SERÁ UM FIASCO PAR MIM VIRÃO DE CADA PAIS APENAS 1000 PESSOAS. SERÃO 31.000 E ALEM DO MAIS NO INVERNO. QUEM FOR JOGAR NO PARANA TEREMOS UM CLIMA OTIMO DE ZERO GRAUS E NO RIOGS TAMBÉM.
É PRECISO LEMBRAR A CRISE NA EUROPA QUE ATÉ 2014 NÃO TERÁ SIDO SANADA.
EM RECIFE TEREMOS AS AVENIDAS RECIFE E MASCRENHAS DE MORAIS BIG RIVERS
MEU ABRAÇO
ADILSON CARNEIRO
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