terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Café Porteño

Nada mais prazeroso do que tomar um café no cruzamento de Florida com Córdoba, no italo-argentino Il Gran Café e apreciar a vida desfilar. Um legítimo café porteño. O ano nem bem começou, mas, por sorte, já tive a chance de dar uma rasante na Argentina. Estive em Buenos Aires nos quatro últimos dias da semana passada. Esse é o tipo de lugar bom de visitar e que a pessoa sai com vontade de voltar.
Sob um sol de verão brilhante, céu de brigadeiro desde cedo e temperatura agradável, curti quatro dias de intenso movimento e muita alegria. Na minha companhia contei com a patroa, minha filha “australiana” – encerrando as férias e de volta para Sydney – com o marido, os sogros e cunhado. Formamos um grupo bem movimentado. Foi interessante porque, depois de mostrar o Brasil, oferecemos aos australianos a oportunidade de conhecer o país do tango. Uma amostra, ainda que parcial, da cultura sul-americana. A vibração latina do nosso continente encantou os recatados turistas de Oz. O mix de samba, frevo e maracatu mexeu com os nossos amigos estrangeiros e, para encerrar a temporada, veio o tango com aquela forte dose de sensualidade deixando o pessoal, por vezes, de queixo caído. O show do Señor Tango foi o ponto alto. Impactante, marcante e, certamente, inesquecível. Foi muito interessante acompanhar essa tournée dos nossos “familiares” australianos. No mais, vi a cidade apinhada de brasileiros. Como nunca! É incrível. Do taxista ao atendente das lojas e garçons nos restaurantes não se ouve outro idioma a não ser o português. Com um cambio mais do que favorável aos brasileiros, a cidade se movimenta em função dos brazucas. Hotéis lotados, lojas disputando fregueses, restaurantes faturando em Reais e casas de tango com listas de espera, para brasileiros.
Do dia-a-dia argentino o grande debate é sobre o diagnóstico da enfermidade da Presidente Cristina: está ou não com um câncer? A notícia oficial é de que, inicialmente, houve um diagnóstico falso positivo. Agora, após a cirurgia constatou-se ser um tumor benigno. Ótimo! Tudo bem e possível. Mas, há muita gente, nas ruas, dizendo que se trata de um blefe. Explicam que, como o caso da taxa de inflação, a Casa Rosada quer enganar o povo. Complicado entender, sobretudo para mim que sou brasileiro.
Sobre a inflação, de fato, comparei os preços de alguns itens de outubro para cá – quando também estive por lá – e vi que remarcaram, para mais. Pude observar que nas discussões oficiais a taxa anunciada pelo INDEC (o IBGE de lá) é bem inferior ao que se observa na prática. Institutos não oficiais, asseguram que o IPC (índice de preços ao consumidor) vem subindo a uma razão média de 2,1% ao mês, enquanto os índices oficiais falam na metade disto. Ora, mesmo sendo a metade, já é muita coisa. Vi tantos pedintes quanto acontece no Brasil. Até limpador de pára-brisas já aparecem pelas grandes avenidas.
Outro problema que os argentinos vão ter que administrar a partir de fevereiro é o controle das importações com altas taxações impostas em uma gama imensa de produtos e bens intermediários. Tem empresários “com a mão na cabeça” porque dependem de matérias primas e componentes importados. Isto vai acarretar altas nos custos da produção, com repercussão no preço final ao consumidor e mais inflação. Mesmo contando com o regime aduaneiro do MERCOSUL, o Brasil já tem acendido um sinal de alerta. A relação comercial bilateral (Brasil-Argentina) é muito importante para os dois países. A última informação prestada dá conta de que ocorreu uma cifra record, em 2011, de US$ 39,6 Bilhões, com saldo favorável ao Brasil da ordem de US$ 5,8 Bilhões.
Ligo a TV, assisto ao noticiário e observo que é bem diferente dos nossos. Para melhor, avalio. No nosso caso, só aparecem casos de assaltos, assassinatos, roubos a mão armada, acidentes “espetaculares”, corrupção em Brasília, entre outros mais cabeludos. Lá não. O mais espantoso, na semana passada, foi o caso das duas irmãs idosas (média de 90 anos) que morreram asfixiadas por gás, dentro de casa – um apartamento de luxo no luxuoso bairro da Recoleta – no dia 02 de agosto do ano passado! Somente agora descoberto. Os corpos em avançadíssimo estado de decomposição foram levantados. Fico espantado como pode acontecer uma coisa dessas. Essas senhoras tinham vizinhos? E parentes? Ninguém percebeu de pronto essa barbaridade? Somente o mau cheiro exalado do apartamento fez com que a casa fosse arrombada e, então, descoberto o quadro macabro, mais de seis meses depois. Que horror! Minha conclusão é de que, pelo visto, se trata de uma sociedade muito mais recatada, do que eu pensava, com cada qual em seu local vivo ou morto. Houve ainda o caso de um cidadão que trucidou, num bosque, a própria esposa, uma professora, no bairro de Belgrano e agora responde em juízo. Um caso de assassinato passional que acontece todo dia no Brasil. O caso policial mais engraçado, porém, foi a briga entre os manteros (vendedores ambulantes da Calle Florida, que espalham seus produtos em mantas) expulsos pela policia, a pedido dos comerciantes da rua mais charmosa da cidade. Achei justo. Em outubro vi que a artéria estava deteriorada. Os revoltados fizeram movimentos com batucadas, alto-falantes e muita falação. O resultado é que há uma diferença brutal entre o cenário de outubro e o deste janeiro. (Foto acima)
Ah! vimos o tradicional desfile das mães da Praça de Maio. (Vide foto) Com tudo que vi, Buenos Aires, será sempre uma bela festa aos meus olhos. Nada como curtir um bom café porteño e ver a vida passar. Sinto-me em Paris, bem perto de casa.
NOTA: Fotos do Blogueiro

5 comentários:

Danyelle Monteiro disse...

Boa noite professor,
Bela postagem e bela foto da sua filha e genro.
Grande braço,
Danyelle Monteiro

Alice Souza Leão disse...

Amigo Girley, encantada com seu Blog. Muito ilustrativo e rico em conteúdo. Passará a fazer parte da minha leitura diária. Parabéns. Bj

José Artur Paes Vieira disse...

Amigo Girley, como sabes, tu fostes quando eu cheguei. Mas, faltou inserir no Blog a sua foto dançando Tango com uma "arrentina" de saia rasgada a partir da cintura. Ou a madame não deixou. A minha eu já te mandei... Felizes palavras sobre Los Hermanos.

Ataliba disse...

Caríssimo amigo e companheiro Girley

Parabéns pelo Blog e pelas informações que me fizeram "viajar pelo tinel do tempo" pois Argentina e Uruguay são meu segundo idioma e até as minhas segundas terras, pois como gaúcho nascido na fronteira com Uruguay, convivi intensamente com a cultura desses dois países onde aprendi, inclusive a dançar o tango.

Estou recepcionando aqui pessoas amigas que vieram do Sul - Porto Alegre - sendo que uma das senhoras é diretora do grupo "Confraria dos Amigos do Tango". Uma beleza!

Suas informações me fizeram reascender a vontade de voltar a Buenos Aires e já comentei com minha esposa fazermos isso em maio ou agosto com uma esticada em Bariloche.

Mais uma vez parabéns e invejo (no bom sentido) o amigo por ter lá estado com esse povo.

Abraços a voc~e extensivo a seus familiares.
Até nosso posso encontro.

Ataliba Gonçalves

Gilberto disse...

Caro, primo,
Muito bom saber que começou o ano em grande estilo, gostaria de um anfitrião igual a vc. A gente ler seus comentários e já dá vontade de viajar novamente. Muito pertinente a ida ao sr. Tango para quem vai a BUA pela primeira vez.Um espetáculo. Abçs.

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