O ano de 2012 chegou saudado com os foguetórios tradicionais, espocar de espumantes, perus, tenders e tudo que se tem direito nestas ocasiões. Quase todo mundo vestiu branco, simbolizando a esperança de entrar num bom tempo.
Engraçado é que Janeiro é, por razões obvias, um mês de preguiça, ressaca e regimes de emagrecimento. O Brasil pára e faz questão de lembrar que o ano só começa mesmo depois do carnaval. A tropicália cai na gandaia do sol de verão e, como num ato coletivo, recarrega as baterias para o que der e vier no resto do ano. Até D. Dilma parou. Foi curtir o verão baiano. Tem ministros nos quatro cantos do globo. Parlamentares, nem se fala... Nem futebol tem! Chega a ser chato...
Mas a novidade deste ano foi a nota extra no meio das festividades: o Brasil é a 6ª. Economia do Mundo. Desbancou o Reino Unido! Já pensou? Tem sujeito (e sujeitas também) que não se contem dentro das calças. De fato, é motivo de júbilo. Antenado nessas coisas, passei por um surto danado de ufanismo. Não vou negar. Mas, logo que “a ficha caiu” fiquei me perguntando como foi feito esse cálculo. Quais as variáveis, meu Deus? E o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) entrou nessa equação? Claro que não...
É lamentável pensar nesse contraste: uma das maiores economias do mundo não consegue distribuir democraticamente a riqueza com sua gente que vive sofrendo sem Educação, Saúde e Segurança dignas, além de outros aparatos coletivos. Gigante pela própria natureza, belo e forte, impávido colosso, na rua Oscar Freire (de São Paulo) e pobre, pobre de marré, marré, nos grotões dos sertões nordestinos e igarapés da Amazônia. Dois mundos num mesmo conjunto nivelado, somente, por cima. Cá prá nós, esta “coisa” exige uma reflexão nacional.
Fugindo das minhas elucubrações ufanofrustrantes, resolvo ligar a TV para me atualizar com o Brasil ressacado e o Mundo de 2012 e eis que só ouço noticias atemorizantes a respeito da crise na Zona do Euro, com o desemprego grassando; dos incêndios na Patagônia chilena, Austrália e Nova Zelândia; inundações no Sudeste asiático e para trazer-me de volta ao clima das ufanofrustrações vejo pela janela da TV as noticias das chuvaradas e novas inundações no Sudeste do País. Sei não, mas, do jeito que vai, algumas cidades de Minas Gerais e estado do Rio vão desaparecer do mapa. Claro! Passado um ano das tragédias de 2011, nada foi feito para proteger aquelas localidades. Dinheiro foi desviado, prefeitos corruptos foram cassados e o povo a clamar socorro. Com as novas torrentes de ano novo, poucos têm esperança de sobreviver. Isto na 6ª. Economia do planeta. Dói prá caramba. Quem viu o que ocorreu no Japão em 11 de março passado e toma conhecimento dos feitos de recuperação tem que se frustrar. E lá, o país é, apenas, a 3ª. Economia do mundo.
Quando vejo esse aguaceiro no Sudeste, ponho minhas “barbas de molho” com o que pode ocorrer nas nossas bandas. Falo da região da Mata Sul de Pernambuco. Esta é uma área sofrida e castigada, todo ano, com as precipitações pluviométricas que São Pedro manda prá lá. A população local, escolada dessas ocorrências, já está em estado de alerta e a boataria se encarrega de predizer torós entre fevereiro e março. Pobre gente! Pobre mesmo porque o que foi prometido em termos de proteção coletiva parece ser, até agora, meros projetos. O dinheiro, dizem que tem e o Ministro Bezerra Coelho garantiu com vontade política ferrenha. Resta saber se as obras já estão aptas a cumprir seus papéis.
Que, ao menos, os governos estadual e municipais preparem a população para esses torós alardeados. Condições técnicas existem. Responsabilidade civil é o que se espera das autoridades.
Eu juro que queria falar com mais otimismo. Sobretudo por ser cidadão da 6ª. Mas, não posso me esforçar além do que minha consciência permite. Por enquanto vou tentando administrar meu ufanofrustrante espírito de brasileiro consciente. O ano é novo, mas, a vida continua a mesma. Nem a 6ª. fez mudar a cara. Essa 6ª, sei não! Vou tentar entrar no clima e deixar rolar.
NOTA: Ilustrações obtidas no Google Imagens
sábado, 7 de janeiro de 2012
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7 comentários:
Obrigada por mais um excelente artigo, amigo Girley.
Estive ausente do Recife por quase dois meses, mas não deixei de ler suas publicações, que sempre vêm para nos informar sobre o que é bom e ruim no Brasil.
Estou de volta e sempre ligada e divulgando o seu Blog.
Renovados votos de um FELIZ 2012!!!
Feliz 2012 e sucessos para o Blog com novos seguidores. O Blog de Ina Melo agradece ao seguidor solitáiro que é você.Um bom domingo.
Ina Melo
Boa noite professor Girley,
Realmente quando leio certos estudos e pesquisas logo me vem à mente a metodologia utilizada, pois muitas vezes as informações parecem divergentes da realidade. Como podemos ser a 6º economia do mundo se temos uma das piores distribuições de renda do mundo??? Para mim parece certo que muita coisa tem de ser mudada, inclusive a forma de se calcular as contas nacionais, a renda per capita e etc, de forma realista e com a utilização de outros indicadores que poderiam ser retirados de diversas pesquisas sérias de instituições confiáveis que temos. O que falta é vontade política, afinal de contas, o que ganhariam não é mesmo?
Grande abraço e um Feliz 2012 assim mesmo,
Danyelle Monteiro
Amigo Girley,
Sua preocupação é justa e louvável. Além de tudo isso que foi bem colocado, ainda existe a questão da moeda. O valorização do nosso Real frente as moedas estrangeiras ajudam muito na elevação no ranking da nossa economia. Uma dúvida: até quando nossa moeda poderá se manter forte? E que impacto sua possível desvalorização poderia trazer na conversão de nosso PIB em GDP? No mais, desejo-lhe um esplêndido 2012, mesmo sabendo que o ano só começa de fato, depois do carnaval. Até lá vamos em frente pois atrás vem gente!!!! Abraços.
Pelo que você mesmo relatou (aspas)... "espumantes, perus, tenders e tudo que se tem direito nestas ocasiões. Quase todo mundo vestiu branco"
- ddepois envolta em frustração, de que também participo - seria oportuno que se calculasse que % é mesmo a desse "quase todo mun do (que) vestiu branco"...
Nossa CIRANDA, de que você tb faz parte, fez girar reflexão sobre essa +Q irônica sexta posição...
Um grande abraço de Ano Novo ao comp. Girley e toda a sua família.
Do leitor,
Horácio Mendonça
Caro amigo Girley, você esperava que tudo mudaria? Aos poucos vamos mudar a cara desse Brasil. Forte abraço e um ano bom pra você.
Francisco Sepulvida Diniz
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