Já falei sobre isto, neste humilde espaço, em varias oportunidades. Mas, como sou um pobre coitado, num oceano de formadores de opinião, termino falando ao léu. Sou, na verdade um enxerido. Tenho consciência disso. Mas, não deixo de exercitar minha cidadania, como posso.
Toda vez que volto de uma viagem ao exterior sinto uma profunda tristeza de ver como nossa história e memória é relegada aos níveis mais inferiores possiveis. Mesmo sabendo que vivemos num país de muitos ignorantes e analfabetos, não se justifica que uma minoria letrada e culta não se preocupe em defender o que herdou da bela história que temos e que poderia ser melhor contada com um patrimônio preservado e exposto debaixo de holofotes. O que temos preservado é muito pouco... E é pouco porque não temos uma política enérgica de preservação, com recursos suficientes, e os governantes – a quem compete administrar com cuidado o patrimônio – são totalmente desinteressados e míopes para esse assunto. Aliás, os que governam, particularmente a “safra” atual, não têm cultura suficiente e nem se esforçam para ter. São uns pobres coitados. Dá dó. Já vi gente de governo pernambucano, em missão oficial, ignorando o que via numa cidade importante da Europa, passando longe das portas dos museus e declarando achar horrível alguns conjuntos arquitetônicos preservados. Para meu espante maior, quando tinha tempo livre, corria às compras. Não me perguntem quando, nem quem.... Só sei que foi uma lástima... Sofri por testemunhar.
Mas, resolvi mesmo fazer esta postagem ao ler no Diário de Pernambuco, de 14/04/10, uma matéria de capa estarrecedora, com o titulo de “História do Estado Vira Pó”. Imagine que “um tesouro da história e cultura de Pernambuco, a casa-grande do Engenho São Bartolomeu, (vide foto da Casa, ainda em pé) construída em 1636, em Jaboatão dos Guararapes, foi inteiramente destruída pelo atual proprietário” certamente revoltado porque o mesmo Diário em reportagem publicada, poucos dias antes, dava conta de que a prefeitura do município manifestava o sadio interesse de tombar o imóvel. Às vezes acontece! Um imóvel de 374 aninhos. Serviu de abrigo para judeus, cristãos-novos e holandeses, fugindo de perseguições, após a derrota no Monte dos Guararapes, no Século 17. O jornal trás grandes fotos na primeira capa, ilustrando o fato. Não sei quem pode ser essa figura abominável, não quero saber e fujo de quem ameaçar declinar o nome desse doente mental. Aliás, doente mental é, até, elogio. O cara é mesmo um imbecil, um desclassificado. Para mim, somente prisão perpétua, daria jeito nele, para não cometer novos crimes desse tipo. Um típico crime de lesa-pátria. Fala-se que a Procuradoria de Justiça vai processá-lo e cobrar a reconstrução da casa-grande destruída. Duvido, porque nessa terra só por milagre coisas desse gênero são corrigidas. Vamos esperar.
Pobre Recife, triste Olinda e coitado do estado de Pernambuco que vêem, a cada dia, o deletar das suas bravas e belas histórias, fruto dos descasos e irresponsabilidade dos ignorantes que ainda grassam nesta terra de meu Deus.
NOTA: A foto foi obtida no Google Imagens.
8 comentários:
Caro Girley:
Brilhante seu post!
Como você sabe, não sou daqui. Venho do sudeste, minha terra - Niterói - também devastada pela chuva e incompetência de seus governantes.
Acho lindo e poético os nomes das ruas recifenses: Nova, Aurora, Saudade, Progresso, Saudade, Sol e tantas outras...
Que história bonita deve existir por trás desse belos nomes! Pois até hoje não consegui identificar a origem da maioria deles. É uma pena, nomes que deveriam ser lembrados e curtidos por um passado de histórias não transmitidas.
Mas Miguel Arraes, Agamenon Magalhães e assemelhadas estão cheias de memórias, lembranças e contos.
Pena, conheço poucas cidades em que as ruas têm tanta história para contar... e ninguém conta ou sabe contar.
Parabéns por sua postagem. Atual!
Corumbá
Amigo Girley. Não posso deixar de parabenizá-lo por oportuno comentário sobre a atitude covarde da destruição de um dos poucos acervos do Pernambuco Colonial ainda de pé. Para se ter a dimensão do patrimônio que ainda temos, para aqueles que não conhecem, recomendo a leitura do belo trabalho do prof. Geraldo Gomes: o livro "Engenho e Arquitetura". É isso. Continue nos instigando... Valdeci Monteiro
São mesmo muito bonitas os nomes das ruas do Recife. A Fundaj mantém em seu site texto que busca resgatar a origem dos nomes de algumas delas. Só pra ilustrar aqui vão duas:
RUA DA AURORA: É assim chamada porque voltada para o leste é a primeira a receber os raios do sol (aurora). [...] Em 1806, nascia a rua da Aurora. Deram-lhe o nome de rua Visconde do Rio Branco, mas o nome que ficou mesmo foi o de cais da Aurora ou rua da Aurora.
RUA DO SOL: Sua denominação vem do fato de receber os raios solares na maior parte do dia. Já foi chamada de Cais do Machado. A Prefeitura, em 1884, mudou seu nome para Rua Dr. Ivo Miquelino e, em 1818, seu nome oficial era Rua Major Codiceira. É conhecida e chamada até hoje de Rua do Sol pela população.
Fonte: Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:
Obrigado Senhor Anônimo, valeu mesmo!
Corumbá
Meu caro Girley
É sempre muito bom ler o seu Blog porque vez por outra verifico que de tanto termos a mesmíssima opinião nas coisas que acontecem de bom (sic) e de ruim aqui em Pindorama acho da maior pertinência requerermos os dois junto a quem de direito, (Juan Carlos I?) a sagrada unção do título por demais honroso de D. Quixote de los Trópicos.
É verdade, o mundo inteiro cuida e preserva os seus patrimônios históricos, mas aqui tudo se transforma em "velharias". Conheço pessoas que detestam museus e pasme, a cidade de Olinda, porque detestam velharias. Pode? Pode. Estamos no Brasil, lembra? Quando estive em Chicago me hospedei em um hotel fundado em 1861. Bem conservado aumentado estava lá inteiraço, como uma parte da história americana.
Cadeia para os predadores? Você acha mesmo que resolveria? Se hoje pais matam filhos, netos matam avós e com pouco mais está todo mundo na rua. “numa nice" como diria àquela personagem do Jô Soares...
Ah, se encontrar o Luís Otávio Cavalcanti, (ex-aluno) diga-lhe que eu mando o maior abraço.
Girley,
Fiquei tão chocada quanto vc quando vi no jornal os restos mortais daquela casa que apenas há uma semana atrás,estampava as páginas do mesmo jornal e tinha a sua história contada,inclusive se referindo a curiosidades,como a criação do bolo Souza Leão na sua cozinha.Ah,Girley,refazer aquela casa não resolve!O passado foi para o chão,as memórias contidas naquelas grossas paredes,se perderam como toda a história alí vivida.A reconstrução será uma mera fotografia do passado sem vida e sem seus preciosos fantasmas.Estou arrasada e concordo com vc que o infeliz que fez esta barbaridade,coitado,é um ignorante capaz de acreditar que o dinheiro é o bem maior.Tenho pena e cá prá nós,com certeza ele(ou eles)já devem estar colhendo os frutos nada saborosos da besteira que fizeram:Os armazens que eles pretendem construir serão malassombrados e eles não conseguirão fazer negócios por lá!Aí teremos novas histórias para contar aos nossos netos!!KKK bjs,Regina
Queridísimo Girley:
Me enorgullezco de ser tu amiga. Realmente tus blogs son
escritos desde tu corazón, con un contenido íntegro,
transparente, humilde y sencillo.
Un abrazo,
Flor Oquendo (Caracas)
Girley,
Não é apenas previlégio de Pernambuco.
Quando eu era criança (há + de 50 anos) havia uma casa sobradada que girava
apoiada em trilhos circulares, ela ficava em Moema eu morava perto em indianóplolis.
Eu nunca mais vi em lugar nenhum este tipo de casa, mas no lugar construiram um posto de gasolina.
Nem fotografia eu tenho para mostrar.
Amaury Bravo (São Paulo)
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