sexta-feira, 1 de maio de 2009

Quem vê cara, não vê coração. Nem voz...

Ela entrou no palco toda desengonçada. Pelo andar parecia que usava um par de sapatos apertados, cabelo desgrenhado, vestido démodé e, para completar, bem feiosa, se comparada aos padrões de beleza vigentes.
Na entrevista de praxe, foi descontraída com os jurados e, em poucos instantes, mostrou-se, praticamente, como sendo uma figura meio alienada. Teve a tranqüilidade de confessar a idade de 47 anos e, incrível e sem necessidade, declarou que nunca havia sido beijada. Uma graça.
O público não lhe dava crédito e levava a coisa em meio a uma pândega. O júri, este, cumprindo seu papel, parecia que fazia uma caridade.
Diante de uma platéia imensa e certa de que seria apenas mais uma calouro inexpressiva, a britânica Susan Boyle teve sua chance de dizer porque encarou aquele desafio, de um dos mais importantes, quiçá o mais importante, programas de calouros do mundo.
Autorizada a cantar, a mulher feia e sem charme, abalou! Aos primeiros instantes de interpretação a platéia parou, o júri caiu na real e uma belíssima voz se revelava ao mundo da música. O auditório “desabou” em aplausos e o júri ficou atônito.
Susan é escocesa e se tornou uma celebridade mundial em 11 de abril passado no reality show Britain’s Got Talent, cantando “I Dreamed a Dream”, sucesso do musical “Os Miseráveis”.
O choque que ela provocou, com um contraste gritante entre a primeira impressão e a voz que soltou foi, certamente, o maior acontecimento artístico do mundo, em abril de 2009. Inesquecível. A imagem desajeitada, com uma voz sublime correu o mundo em menos de 24 horas. Simon Cowell, um chato de galochas, pernóstico, tipo sabetudo e famoso por seus julgamentos implacáveis, tanto na Inglaterra, quanto nos Estados Unidos, mostrou-se profundamente surpreso com o que via, a ponto de propor rapidinho (ele é uma águia) um contrato de exclusividade com a figura. No projeto de Cowell constam gravações de CDs e filmes. Um filme contando a vida de Susan. Comenta-se que Demi Morre vai viver Susan na tela.
Descobri no Google (ele sabe de tudo!) que ela é a caçula de uma família de dez filhos, que teve dificuldades ao nascer, inclusive falta de oxigênio que casou danos cerebrais, durante o parto. Tida como uma pessoa com dificuldades de aprendizagem, abandou os estudos e foi trabalhar na cozinha de um colégio. Encasquetou a idéia de ser cantora depois de ir aos teatros assistir cantores profissionais. Teve lições de canto com um tal de Fred O’Neil.
Quando o pai de Susan morreu, os irmãos abandonaram a casa, deixando a limitada irmã caçula cuidando da mãe doente, que veio a falecer em 2007. Sozinha, ela vive até hoje na casinha da família, de quatro cômodos. Ela e um gatinho de estimação. No leito de morte, a mãe foi sua maior incentivadora para assumir a carreira de cantora e foi o que influenciou sua inscrição no Britain’s Got Talent.
Susan é uma desempregada e, por isto, não param de surgir oportunidades de ganhar muito dinheiro. Um gaiato, produtor de filmes pornôs, se apressou em oferecer a oportunidade de Susan “unir o útil ao agradável”: participar de um dos seus filmes, no qual seria beijada muitas vezes e, inclusive, perderia a virgindade. Cachê de quase R$ 4 Milhões. Haja dinheiro! Mas, ela não aceitou. Já pensou, perder uma grana preta dessas?
Interessante mesmo foi que, depois de vitoriosa, Susan explodiu com uma declaração curta e correta: “Eu sabia o que eles estavam pensando, mas por que isto me preocuparia se eu sei cantar? Não é um concurso de beleza”.
Quando Susan terminou de cantar, uma jurada do programa, Amanda Holden, foi taxatixa: “Eu estou tão chocada porque todos estavam contra você. Eu vejo que nós fomos arrogantes, e você nos deu a maior lição que precisávamos. Só gostaria de dizer que foi um privilégio escutar você aqui”.
Pois é. O que mais me chama a atenção nisso tudo é o fato de que o mundo não valoriza a beleza interna das pessoas. Só olha para sua aparência externa. Desengonçada e feia, uma pessoa nem sempre tem uma chance. Susan foi uma exceção.
Conheço muitas pessoas, principalmente mulheres, feias e sem charme, que merecem meu respeito e minha amizade porque é nelas onde mais encontro essências e substancias preciosas. Valorizo a “embalagem”, é claro, mas dou muito mais valor no que essas pessoas sacam de dentro dos seus Eus e me oferecem, sem cobranças, por amizade pura, coisa rara neste mundo de concorrências desonestas e selvagens.
Moral da história: “Quem vê cara, não vê coração”. Nem voz!

NOTA: Foto obtido no Google Imagens e não deixe de ver um dos filminho inseridos no Blog. Veja em cima, a direita.

7 comentários:

Bruna Siqueira disse...

Oi, Girley! Gostei do seu texto. Você acredita que eu chorei vendo a apresentação dela? Não necessariamente pela voz ser isso ou aquilo, mas porque ela chegou com humildade e deu uma tapa com luva de pelica na cara de todo mundo. Muito legal... Bjo grande pra tu!

Ana Maria Menezes disse...

Girley desde que Susan Boyle cantou nesse programa em Londres, eu a escuto praticamente todos os dias ao abrir o computador. Ela é ótima! Precisamos sim aprender a ver a beleza interior de uma pessoa e não julgá-la pela simples aparencia exterior que tanta vezes nos engana. Ana Maria Menezes

Pedro Rivera disse...

Estimado amigo/companheiro Girley, me tomé la libertad de mandar a muchos amigos algunos blogs vuestro, sobretodo el de Boa Viagem. Me gusta mucho como escribes, manejas muy bien los temas y los idiomas. Yo también escribo algunos temas en algunas revistas y ahora deseo empezar con esto del blog, pues creo que es interesante.
Con gusto leo tus mensajes, gracias por enviarlo. Abrazos
Pedro rivera (Chile)

Edvaldo Arlégo disse...

Caro Girley, parabéns pela crônica, onde elegância e senbilidade transbordam. Quanto ao fato, beleza, como dizia o poetinha, é fundamental. A tal cantora conquistou o públi com a BELEZA de sua voz, caso contrária seria eliminada do concurso. E ressatemos seus valores morais, não se deixando trocar por moedas. Pois, a mulher que se vende não vale o preço pelo qual é paga e o homem que a compra não vale a mulher que se vende. Parabéwns, Edvaldo Arlégo.

joe disse...

Caro Girley
Bela crónica em homenagem a uma patinha feia que mostrou sua beleza ao cantar.Nos tempos atribulados de hoje perceber a sensibilidade da cantora e a sua apresentada nos seus escritos, faz pra alma e pro coração.
Abs
Joe

Wilma disse...

Girley,
Nós, seres humanos,temos o grande defeito de julgar as pessoas pela aparência. Susan Boyle simplismente arrasou!.....Foi mesmo dado um tapa com luvas ,nas mãos dos jurados e do público que nada esperavam dela.Foi um SHOW!
Grande abraço.
Wilma.

Teresa Braga disse...

Girley, que bom vc ter feito esse artigo. concordo pelanmente e me emocionei muitíssimo ao v~e-la e ouvi-la.
Teresa Braga

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