sábado, 21 de fevereiro de 2009

Um Leão contra os Mapoches

Os mapoches eram índios guerreiros, que lutaram por trezentos anos contra os espanhóis colonizadores, vindos dos Andes peruanos, na ocasião comandados por Pedro de Valdivia e sua guerreira mulher Inês Suárez. Isto foi no século 16.
Sempre em busca de metais preciosos, particularmente o ouro, resolveram atravessar uma das regiões mais inóspitas do continente sul-americana, o deserto do Atacama, indo parar mais ao Sul, formando, a partir dali, o que compreende o Chile de hoje.
Saíram do Peru com verdadeiro exército e muitos escravos. A travessia do deserto foi uma verdadeira epopéia que durou anos. Durante o dia a temperatura podia chegar aos 50 graus Celsius e à noite batia um frio congelante. Sem suportar tanta agressividade do tempo, os escravos foram morrendo pelo meio do caminho e ao chegar à região central, onde fundaram a cidade de Santiago, a capital chilena, já era um efetivo bem reduzido e, por isso mesmo incapaz de vencer os primitivos habitantes, o indios Mapoches. Foi uma luta sem trégua. Os conquistadores tiveram imensas dificuldades, sobretudo por quererem escravizar esses indígenas. Foi um jogo bem diferente daquele que tiveram mais ao Norte, contra os Incas e Maias.
Entre os caciques mais famosos dos mapoches, houve um, chamado Colo-Colo, que se tornou um ícone, dada sua bravura de guerreiro e estrategista. Defendeu como poucos, com unhas e dentes, sua gente e sua nação.
Os espanhóis com muitos reforços vindos do Vice Reinado do Peru e da própria Espanha terminaram, como se sabe, conquistando a estreita língua de terra apertada entre os Andes e o Oceano Pacífico, hoje conhecida como Chile.
Os chilenos, quando não são de biótipo ibérico (descendentes de espanhóis) são do tipo índio e conservam seus orgulhos de nação indígena.
Em homenagem ao cacique Colo-Colo os chilenos criaram um time de futebol e deram seu nome. O time é hoje um dos mais populares do país, tanto pelas belas campanhas que vem fazendo dentro do país e no continente, quanto pelo patrimônio que acumula.
Na atual Copa Libertadores da América, versão 2009, toca ao Sport Clube do Recife competir com o Colo Colo, pela conquista do mais importante troféu do continente.
O primeiro jogo entre as duas equipes aconteceu nesta semana pré-carnavalesca e foi travada em território colocolino, em Santiago do Chile.
O entusiasmo do Clube pernambucano foi de tal forma que terminou por mobilizar uma torcida calculada em 2.000 pessoas vestindo a camisa rubro-negra, dentro do Estádio Monumental do Colo Colo no subúrbio de Macul, em Santiago do Chile.
Movido pelo fanatismo rubro-negro do meu filho José Antonio (Tico), depois de 7 horas voando, desde o Recife, juntei-me com ele à torcida pernambucana dentro do Estádio Monumental do Colo Colo, onde vivi um dos momentos desportivos mais emocionantes da minha vida. Passados dois dias deste embate ainda me sinto em estado de prazer e satisfação. Valeu à pena este esforço de atender este pedido de Tico.
Falando do evento em si, começo afirmando que fiquei impressionado com a quantidade de torcedores que vieram até o Chile para, eu diria, assustar os colocolinos com o grito de guerra do cazá, cazá, cazá. Eles ficaram surpresos com essa torcida estrangeira nunca antes vista, dentro da própria casa. Os jornais chilenos não se cansavam de registrar este fato. As ruas de Santiago, de repente, se encheram de torcedores rubro-negros, causando preocupações para a policia local – os Carabineiros de Chile – e para a representação diplomática brasileira. Os colocolinos, por sua vez, além de surpresos, com aquela inédita manifestação sentiram-se desafiados, dentro de casa, e reagiram com gestos obscenos e termos chulos. Tive alguma preocupação quanto à segurança, logo dissipada pela severa assistência dos carabineros, que estiveram a postos diuturnamente, garantindo a ordem.
O clima que se instalou foi um verdadeiro frisson. A rigor foi emocionante ver a bandeira de Pernambuco tremulando, misturada com as do Brasil e a do Sport. Foi, igualmente emocionante ouvir a torcida pernambucana gritar, como nunca, o cazá, cazá, cazá. Os chilenos ficaram galvanizados. Amigo chileno afirmou que ninguém entendia como apareceram tantos torcedores estrangeiros na cancha chilena.
A entrada em campo, do time do Sport, foi apoteótica. O torcedor pernambucano delirava. Vi nego chorando de emoção. Bandeiras, confete, balões vermelho e preto no ar, chuva de papel picado, apitos e outros bichos. Um delírio pernambucano no território mapoche. Quase uma ousadia.
Mas, o melhor estava por vir: com seis minutos de jogo, Ciro, o menino de Salgueiro, comete um gol na rede do Colo Colo, levando a galera pernambucana ao que chamo de orgasmo coletivo. Milhares de abraços, até beijos apaixonados, muita gente se desequilibrando nas cadeiras, o grito de guerra uníssono, começando uma festa que já dura dois dias, desde a Cordilheira dos Andes até o Vale do Capibaribe. Antes de terminar o primeiro tempo o Sport, através de Wilson, marcou outro gol ainda mais bonito, cuja reação o leitor pode imaginar.
O mais interessante, por outro lado, foi observar a perplexidade que se instalou entre os chilenos, que zombaram do Sport a semana toda. Pela primeira vez, em Copa Libertadores, um time brasileiro dava um banho no Colo Colo. Pareciam não acreditar e, a essa altura, já não reagiam adversamente. Ao contrário, murcharam sempre sob o olhar da policia. Inclusive, tentavam trocar as camisas que vestiam pelas dos trocedores rubro-negros. Imagine a cena. Houve quem aceitasse a proposta.
No segundo tempo o técnico do Sport resolveu praticar uma retranca e sustentar o belo placar de 2x0. Uma falha da zaga rubro-negra deixou que os colocolinos fizessem um gol, o gol de honra, levando os torcedores locais a um momento de alegria.
O tempo correu e o apito final marcou a vitória do Sport Club do Recife. Daí para frente foi uma festa pernambucana, espalhada pela capital chilena, tudo devidamente e fartamente registrado pelos meios de comunicação local.
Pois é, com todo respeito à História, o Leão da Ilha devorou o Cacique Colo Colo, na fria noite chilena de 18 de fevereiro de 2009.

NOTA: Cronica postada em Santiago do Chile, 21.02.09
Fotos do Blogueiro. A torcedora rubro negra e pernambucana e meu fiho torcedor incondicional do Sport

11 comentários:

Geraldo Pereira disse...

Girley - Hombre de Dios!
A história é ótima. Traz o que pôde ensinar em termos de passado e sobretudo em termos do grande Cacique Colo Colo. E mais, em função da vibração dos torcedores do Sport, juntos, unidos e quase fanáticos pela causa. Pernambuco por lá, mostrando as cores e expondo a beleza da mulher. Viva!

Geraldo Pereira - Quase um Colo Colo também, tal a empolgação

Girley Brazileiro disse...

Geraldo Pereira - Hombre de Dios
Obrigado pela visita ao Blog! Mas,esse seu "quase ColoColo" deixou-me triste. Pelo visto vc faz parte da torcida opositora. Como sinto! Nem todo mundo é perfeito! Que tal repensar essa posiçao?
Forte abraço.
GB

Corumbá disse...

Caro Girley:
Depois de ter passado quatro dias frustrantes pela pouca importância dada à brilhante vitória do Sport no Chile, já estava pensando que o Colo Colo era um timinho. Até a derrota do Palmeiras para a LDU teve mais importância na imprensa sulista que a nossa.
Você brilhantemente lavou minha alma e ainda acrescentou uma precisa narração histórica do grande momento que passamos.
Muito obrigado, amigo! Valeu!
Parabéns,
Corumbá

Anônimo disse...

É Girley, SPORT e cultura. Ninaram as chilenas no "colo...colo" foi bom.
A final SO SPORT E CULTURA.!!!!
Abraços companheiro Girley do Carlos Antonio

Anônimo disse...

Muita lindas suas palavras amigo e companheiro Girley. Gostei desse blog muito perto a realidade.
Amigo, vou a estar na segunda feira em Santiago e desejo falar um momento com vc. Vou chamar ate seu hotel para um encontro bem? Abraços Girley
Pedro Roberto Rivera
Santiago - Chile

Anônimo disse...

Girley,

Você narrou como nunca a histórica saga do glorioso Sport Club do Recife em gramados chilenos. Seu conto arrepia os pelos dos nossos braços, tal emoção. Forte Abraço. Evandro Azevedo

Susana González disse...

GIRLEY

CON TU NARRACIÓN, CLARITO SE TE VEIA CON LA PORRA DE TU TIERRA, VI EL JUEGO POR TELEVISIÓN, ME GUSTO MUCHO COMO JUGO EL SPORT, LOS NARRADORES NO LO CREIAN. BUENOS JUGADORES... ¡TENÍAN QUE SER BRASILEÑOS¡. SEGURAMENTE ESTAREMOS DE RIVALES, PUES HAY EQUIPOS MEXICANOS, QUE POR CIERTO HOY JUEGAN.

EN ESTE CASO, ME EMOCIONO MUCHO VER JUGAR GENTE DE ESA TIERRA QUE AMO TANTO. NO DEJES DE IR AL SIGUIENTE Y NOS CUENTAS TUS IMPRESIONES CON ESA EMOCIÓN CON LA QUE LO HACES, SERÁ DIFERENTE, PUES EN TU CIUDAD, O ME EQUIVOCO?

ALGÚN DÍA ME GUSTARÍA QUE VIERAS UN JUEGO DE LIBERTADORES QUE MI HIJO JUGO CONTRA BOCA DE ARGENTINA, EN BUENOS AIRES, CUANDO ESTABA EN EL AMÉRICA. CREO QUE FUE SU MEJOR JUEGO DE TODO SU TIEMPO ACTIVO, AUNQUE ESPERO QUE HAYA MÁS. MAS TARDE JUGO TAMBIEN CON OTRO EQUIPO, QUE TE PUEDO DECIR, SIEMPRE LO VE INCREIBLE.

DE VERAS, QUE ESTA GUAPO TICO, PERO CUANTO SE PARECE A TI DE ESA EDAD Y TE TRAE ACTIVO, QUE BUENO, MUY BIEN POR ÉL. SU MADRE DEBE ESTAR MUY ORGULLOSA, COMO TU LO ESTAS.

CON CARIÑO

SUSANA GONZALEZ
MEXICO

Susana González disse...

GIRLEY

CON TU NARRACIÓN, CLARITO SE TE VEIA CON LA PORRA DE TU TIERRA, VI EL JUEGO POR TELEVISIÓN, ME GUSTO MUCHO COMO JUGO EL SPORT, LOS NARRADORES NO LO CREIAN. BUENOS JUGADORES... ¡TENÍAN QUE SER BRASILEÑOS¡. SEGURAMENTE ESTAREMOS DE RIVALES, PUES HAY EQUIPOS MEXICANOS, QUE POR CIERTO HOY JUEGAN.

EN ESTE CASO, ME EMOCIONO MUCHO VER JUGAR GENTE DE ESA TIERRA QUE AMO TANTO. NO DEJES DE IR AL SIGUIENTE Y NOS CUENTAS TUS IMPRESIONES CON ESA EMOCIÓN CON LA QUE LO HACES, SERÁ DIFERENTE, PUES EN TU CIUDAD, O ME EQUIVOCO?

ALGÚN DÍA ME GUSTARÍA QUE VIERAS UN JUEGO DE LIBERTADORES QUE MI HIJO JUGO CONTRA BOCA DE ARGENTINA, EN BUENOS AIRES, CUANDO ESTABA EN EL AMÉRICA. CREO QUE FUE SU MEJOR JUEGO DE TODO SU TIEMPO ACTIVO, AUNQUE ESPERO QUE HAYA MÁS. MAS TARDE JUGO TAMBIEN CON OTRO EQUIPO, QUE TE PUEDO DECIR, SIEMPRE LO VE INCREIBLE.

DE VERAS, QUE ESTA GUAPO TICO, PERO CUANTO SE PARECE A TI DE ESA EDAD Y TE TRAE ACTIVO, QUE BUENO, MUY BIEN POR ÉL. SU MADRE DEBE ESTAR MUY ORGULLOSA, COMO TU LO ESTAS.

CON CARIÑO

SUSANA GONZALEZ
MEXICO

Anônimo disse...

Caro Girley,
Que experiência inesquecível.
Lamento muito não ter ido também. Mas fico feliz que vc. tenha ido testemunhar mais essa façanha do nosso glorioso Sport.

Anônimo disse...

Girley
Como pernambucano vibrei com a vitória do Sport, mesmo sendo torcedor do Naútico.
Assisti o jogo em cia do meu filho e de amigos que são torcedores rubro negros. Para mim é claro, dentro de Pernambuco não tem acordo. Mas em qualquer competição que o Naútico não participe torcerei pelo time que representa minha terra.
Espero revê-lo breve
Abraços
Joe

Wilma disse...

Girley,
Sensacional o seu relato!Imagino a alegria sua,do seu filho e de todos os torcedores do Sport presentes ao estádio Monumental...Deve ter sido uma delícia, um prazer enorme poder ver o SPORT,um time nordestino,fazendo toda essa euforia fora do nosso País!eu como rubro-negra,amei.
Grande abraço.
Wilma.

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