sexta-feira, 6 de junho de 2008

CAMELÔ FASHION INTERNATIONAL Inc.

Parece uma grande organização com filiais no planeta inteiro. A maior cadeia varejista da terra. Os camelôs estão por todo lado. Os “estabelecimentos” têm o mesmo padrão e “linhas arquitetônicas”, seja qual for o local.
Por andei na Itália, começando por Roma, a coisa não é diferente. O país, como um todo, é um paraíso para o mercado ambulante, face ao movimento turístico e a crescente procura pelos produtos ofertados. Coibir, segundo os italianos, é uma missão impossível.
Em Roma, eles estão, por toda parte, oferecendo uma infinidade de bugigangas artesanais e industrializadas, enlouquecendo os comerciantes formais. Tem de tudo. Lenços e foulards, gravatas e meias, calçados, bolsas e maletas, calcinhas, cuecas e roupas de banho. Sandálias havaianas do Brasil! Camisas da seleção brasileira, do Flamengo e do Corinthians e camisas sociais, produzidas na China, as últimas bem embaladas, imitando grifes famosas, sobretudo as francesas e italianas. Tem também vestidos de paetês, plumas e casacos de pele sintética horrorosos. É, sem dúvidas, um mercado dinâmico e sortido. Não falta nada!
O turista de grana curta ou desavisado (alguns avisados, também) renova seu guarda-roupa rápido e em conta. Aliás, tranqüilo e se achando o máximo. Tem sujeito que vai à Itália, compra uma gravata de gosto duvidoso e seda sintética Made in China, amarra no pescoço, todo contente, e volta se vangloriando de estar usando uma legitima italiana. Paciência...
Em Roma, entrei numa loja especializada e questionei a proprietária quanto ao tecido, à qualidade e o preço da gravata que desejei. Ocorre que achei barato, para uma boutique, na sofisticada Via Sistina. Em resposta, recebi um verdadeiro sermão da dita mulher: “esta gravata, meu Senhor, é feita a mão com legítima seda italiana, agora produzida com baixo custo e apoio de uma associação de fabricantes que combate o comercio das ordinárias produções chinesas!” Dando asas à conversa, fiquei sabendo da revolta e desse contra-ataque dos italianos às fajutas gravatas chinesas, em defesa, naturalmente, de uma tradição italiana e orgulho nacional.
Portanto, indo à Itália, não caia no conto da gravata italiana, Made in China. E se cair na tentação, por favor, volte contanto honestamente a sua opção.
Outra coisa, que é bom prestar atenção: se a tentação for maior do que sua força de vontade e lhe colocar diante de uma das barracas de roupinhas mais jeitosas, com cara de moda brasileira, na Praça da Stazione Termini, na entrada da Via Cavour ou proximidades da Fontana de Trevi, ou qualquer outro local, preste muita atenção, porque pode ser, até, da Sulanca de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama ou, então, Made in Ceará. Naquele “Babel”, nunca se sabe.
Essa situação se repete em muitas outras importantes cidades italianas como Florença, Milão, Nápoles, Verona e Veneza.
Mas, minha maior surpresa foi em Bolonha. Lá, o governo local, impotente diante da avalanche de ambulantes e querendo limpar as ruas do centro histórico, resolveu ceder, a cada fim-de-semana, uma imensa praça, à margem da principal rua da cidade, a Via Independenza, para a livre comercialização de importados, muita muamba, é claro. Milhares de imigrantes asiáticos baixam na cidade com robustas vans e caminhões baús super-estruturados, que se transformam em verdadeiros magazines, para movimentar um feirão que, a meu ver, deixa o Feirão da Sulanca, de Caruaru, no chinelo.
Para matar minha curiosidade, fui olhar de perto aquele incrível movimento (Vide fotos). Os preços são arrasadores e a pirataria come no centro.
Uma coisa, porém, salta aos olhos do visitante: ambulantes italianos vão à mesma praça e entram no confronto, numa luta, aparentemente sem trégua, para vender suas produções: malhas, roupas, artesanatos, bijuterias, artigos para a toalete, gravatas e lenço, entre muitos outros itens. Para estabelecer uma diferença, estampam, com ostensivos letreiros, que estão vendendo produtos genuinamente italianos. É, portanto, uma guerrinha, no comércio underground italiano, entre imigrantes e nativos.
Voltei ao hotel “zonzo” com o movimento, o falatório a la italiana e pasmo pelo que observei, em plena Europa.
Minha conclusão é que este quadro, acima descrito, reflete o grau de pobreza da grande maioria da população mundial, que na busca de meios de sobrevivência, forma uma corrente migratória descontrolada, vivendo na marginalidade, nos grandes centros urbanos dos cinco continentes e sem oportunidade de emprego formal entra no mercado da muamba.
No Brasil, o exemplo mais conhecido desse tipo de comercio é o da Rua 25 de Março, em São Paulo. No popular "vuco-vuco" do bairro de São José, no Recife, a situação também se reproduz e, segundo fui informado, está crescendo rapidamente.
Chineses, coreanos, indianos, africanos, entre outros, estão espalhados pelo planeta movimentando a mega-rede da Camelot Fashion International Inc.
Pensando bem, isto também é globalização econômica.

Notas: (1)As fotos são da autoria do Blogueiro e foram todas tomadas no Feirão de Bolonha.
(2) O Blogueiro esteve na Itália em missão oficial do Sindicato das Indústrias Metalurgicas, Mecanicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco - Simmepe

3 comentários:

Anônimo disse...

Girley,
já havia estado em seu blog -gostando, sempre.
Só depois de blogueira faço comentário porque senti quanto é bacana ter respostas.
Sou ainda bem caloura, tentarei colocar seu endereço no meu blog.
Beijos
Maria

Unknown disse...

Girley

Parabéns pelo Blog.
Já adicionei a minha lista de favoritos!


Cláudia Neves
Miratec Ind. de Mat. Tecnicos ltda

Anônimo disse...

Querido Girley,

É sempre um prazer ler o seu Blog.
Estou morando em Basel, na Suiça.
Quando vocês, você, Sônia, filhos, noras e genros, vierem por aqui não deixem de me procurar.

Um grande abraço a todos.

Sandra Pagano

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