terça-feira, 21 de novembro de 2023

Boa sorte, Hermanos

Quem bem me conhece sabe que minha admiração pela Argentina é uma velha paixão. Perdi a conta de quantas vezes e por onde passei praquelas bandas, nos últimos 50 anos. Acompanhei de perto momentos históricos do país irmão, experimentando emoções das mais diversas. Em Buenos Aires vivi situações bem peculiares, lembrando, entre outras, a curtição de uma forte “dor de cotovelo” - sarada totalmente com uma tardia lua de mel - várias férias com a família, além de excelentes oportunidades de missões oficiais junto à representação diplomática brasileira. Posso afirmar, contudo, que foi no plano politico que, seguramente, testemunhei as mais fortes passagens dessa minha proximidade com a nação vizinha. Nesses últimos dias, quando o povo argentino exerceu seu direito democrático de eleger um novo presidente da republica, estive ligado ininterruptamente e com empenho de acompanhar o processo que se desenrolou. Acredito que foi um dos mais disputados e mais eloquentes de todos os tempos.Vide a seguir foto do Eleito, Javier Milei.
Antes, porém, olhando por um retrovisor, recordo de passagens inesquecíveis e de momentos estressantes amargados pelos argentinos, depois haver sido uma Nação das mais avançadas e mais promissoras na primeira metade do século passado. Observei de perto, nos anos 70 e 80, por exemplo, a similaridade que havia entre o movimento getulista brasileiro e o peronismo argentino nas décadas de 30, 40 e 50 alimentando uma onda populista na América do Sul. Acompanhei o polêmico translado dos restos mortais de Eva Perón, o retorno de Juan Domingo Perón do exilio, seu retorno ao poder, sua morte e a ascensão da vice-presidente, sua segunda esposa Isabel de Perón (Isabelita). Foi um inevitável fracasso. provocando um golpe de estado dos militares seguido da implantação de uma das mais duras ditaduras que se tem conhecimento. Tenho pra mim que a partir dali começou a mais sofrida “via-crúcis” de um povo varonil e senhor da sua importância internacional. Lembro também, do desastre e da audácia de declarar uma guerra à potente esquadra da Inglaterra como o episódio da Guerra das Malvinas. Sem dúvidas, um dos passos mais insanos já vistos no Continente. Dali em diante foram sofrimentos em cima de sofrimentos. Governos incompetentes se alternam com politicas econômicas frustrantes, mudanças de moeda, corte de zeros, dolarização, inflação galopante, hiperinflação e uma sucessão de desacertos que, até hoje, jogam o país num buraco sem fim. A confusão atingiu o clímax, em certo momento, quando o país teve cinco presidentes empossados em apenas 12 dias no finalzinho de 2001. Cheguei a acreditar que a Democracia iria sucumbir naquela hora. As coisas foram provisoriamente ajustadas, o quadro politico se acalmou, a nação respirou, embora sofrendo das graves dificuldades socioeconômicas pretéritas. Bom, meu espaço será exíguo se continuo a pontuar as passagens mais representativas do processo de empobrecimento argentino. Vou tentar encurtar e chegar ao fecho que planejei. Após essa incrível confusão de 2001, veio o governo de Menem, um peronista moderado e chegado ao liberalismo. Para resolver as dificuldades econômicas resolveu e implantou a dolarização. Eu diria que oficializou porque, segundo observei antes e in loco, as famílias já poupavam com a moeda americana. Esta medida “salvadora” terminou depois que Menem renunciou sendo sucedido por Eduardo Duhalde entre 2001 e 2003. Apos isso, foi a vez da Argentina ser presidida pela dupla Nestor e Cristina Kirchner. Nestor morre, Cristina assume a herança politica, se elege presidente (ela se dizia presidenta e foi copiada por Dilma Rousseff) e pelo visto não deram jeito na vida argentina. Tem uma frase emblemática de Nestor, ao assumir o Governo, “a porcentagem de desempregados no país era maior do que a de votos que recebeu”. Seguramente uma constatação mais lamentável em meio dessa história. Não precisava dizer mais nada. Segundo conferi, em 2003 a Argentina tinha 54% da população vivendo na pobreza e aproximadamente 10 Milhões de miseráveis. Doloroso! Estive por lá nessa época e vi moradores de rua, famílias inteiras ao relento. (Foto a seguir). Voltei impressionado. A influência dos Kirchner nos destinos do país, entremeado por altos e baixos, nos anos recentes é uma coisa flagrante e, ao mesmo tempo, repleta de malogros e de casos de corrupção.
Sim, é uma história longa e, indiscutivelmente, triste. Reservo-me ao direito de ser, apenas, um espectador interessado. Até porque, vou me concentrar no objetivo da pauta e para concluir que é situar o atual quadro politico resultante do processo eleitoral que terminou no domingo passado (19.Nov.23) elegendo um neófito politico, Javier Milei (foto lá em cima)para ocupar a cadeira máxima da Republica, nos próximos quatro anos. Membro e fundador de um partido nanico, La Libertad Avanza, sem apoio no Congresso. O eleito venceu fazendo um discurso revolucionário e tentando expressar a revolta do povão decepcionado e altamente frustrado com a velha esquerda, antiquada e fracassada. Não deu outra. Fez da sua voz um eco do protesto corriqueiro do povo. Com propostas audaciosas e, a meu ver, inexequíveis vai enfrentar desafios para debelar a inflação anual de 142% e 40% da população em estado de pobreza. Há de tratar da miséria que grassa na Argentina, fruto de um monstruoso estrago promovido pelo decadente peronismo/kirchnerismo. O “louco” Milei, como vem sendo chamado, é fruto concreto das irresponsabilidades politicas do passado recente. Terá que torcer para implantar suas ideias de campanha. Pessoalmente, tenho dúvidas atrozes quanto ao sucesso, apesar de constatar que, indiscutivelmente, já prestou um belo serviço à Nação ao alijar, democraticamente, a Família K com seu retrogrado e anacrônico peronismo. Depois disso tudo, só me resta desejar Boa Sorte aos Hermanos. NOTA: Fotos colhidas no Google Imagens.

7 comentários:

José Artur Paes disse...

Mais uma análise econômico-financeira/politica quase perfeita...
Esse "quase" é só para não babar muito...

Marcos Alves disse...

Bom dia amigo, obrigado muito interessante suas colocações. Abraço

Luciana Brasileiro disse...

bom dia tio! Adorei o tema do post!

Leonardo Sampaio disse...

Crônica histórica, irmão Girley

Federico Schlempe disse...

Tomara que dê tudo certo desta vez!

Ina Melo disse...

Parabéns pelo lúcido comentário. A esperança é que o Hermanos são mais esclarecidos politicamente do que o nosso povo. Assim, Ele não fará o que falso Messias fez no Brasil. Qualquer deslize, levará um chute no traseiro!

Luís Henrique Mariz disse...

Macri foi tão bom que saiu derrotado por uma imensa quantidade de votos !!! O que está lascando a Argentina e o Brasil, em menor proporção, é o neoliberalismo e as políticas de austeridade fiscal conjugada com privatizações. Privatizações essas que colocaram empresas estratégicas no colo de especuladores e rentistas. Então, a Argentina tem um déficit crônico no Balanço de Rendas em função de remessas de lucros para o exterior e, nesse cenário, o país tende a ter sua moeda cada vez mais desvalorizada para que a Balança Comercial possa compensar, ao menos parte, o déficit crônico na Balança de Rendas.

Haja Cravos

Neste recente 25 de abril lembrei-me demais das minhas andanças em Portugal. Recordo da minha primeira visita, no longínquo 1969, quando t...