sábado, 12 de fevereiro de 2022

O Negócio da Guerra

O mundo se encontra em estado de alerta diante da possibilidade de um grande conflito bélico envolvendo as mais poderosas nações do Planeta, em terras da Europa. É, indiscutivelmente, inaceitável ouvir falar de guerra, neste inicio de século 21. E já era, há pouco mais de cem anos, quando eclodiu a I Guerra Mundial e muitos acreditavam que aquele seria o último conflito dos tempos e que trataria de “arrumar” o mundo num formato definitivo. Ora, a História mostra que este pensamento não passou de uma doce quimera dos cientistas político-sociais da época. Tanto foi que, vinte e poucos anos depois, veio um conflito de maiores dimensões logo denominado de II Grande Guerra, tanto pelas suas dimensões, quanto o resultado arrasador que gerou. E nem assim os “donos do mundo” se contentaram. De lá pra cá, encarou-se a Guerra Fria, várias outras guerrinhas pontuais e a cultura de guerrear parece não ter fim. Fazer guerra parece ser um viés de caráter dos povos, sempre às voltas de ganâncias econômicas e poderios políticos, doméstico ou mundial. A guerra como um bom negócio. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS foi dissolvida em dezembro de 1991, mas parece que nunca deixou de ser um caso “mal resolvido”.
A Rússia, sobretudo sob o comando Vlademir Putin, que se alterna nos cargos de Presidente e Primeiro Ministro, ao longo desses últimos vinte anos, tem dado provas disto. Estrategista politico, ex-Agente da KGB (a inteligência secreta russa), chefe dos serviços secretos do país, se julga dono do pedaço e visivelmente não pretende ceder espaço nos âmbitos local e internacional. A Ucrânia não sai da sua mira. Vide mapa acima. Já investiu e anexou a Crimeia (2014) e agora quer anexar o restante do país. Trata-se de um “filé” que Putin quer porque quer abocanhar. Ele tem lá suas justificativas, mas, o mundo europeu de hoje não comporta mais essas espúrias manobras. A Ucrânia é um país organizado institucionalmente, apesar da crise politica em 2014, quando teve um presidente cassado, mas, se reorganizou. Aliás, a Rússia se aproveitou da fragilidade politica de 2014 e investiu na operação da Crimeia, se aproveitando das forças pró-russos, da ocasião. Agora a briga é com a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que reúne as nações da Europa Ocidental, mais os Estados Unidos e o Canadá. Admite-se, e Putin antevêe isto, que a Ucrânia seria uma candidata a fazer parte do Tratado. Eis o nó político da questão. Putin não quer nem pensar nessa vizinhança.
Apesar da preocupação com a possível aproximação da OTAN na sua fronteira, há quem opine que as raízes da crise da Ucrânia podem haver sido geradas pelo recente desempenho ruim da economia russa. Segundo Justin Fox, articulista da Harvard Business Review, a permanência de Putin no poder é graças a um período longo de crescimento econômico do país. “Como a coisa tem engasgado é possível argumentar que Putin precisa de uma distração”. Fox considera que a distração a que se refere é uma maneira de avivar o patriotismo da população, que, de modo geral, ocorre quando do envolvimento do país num conflito armado. Seria assim, uma forma de distrair a população de uma crise econômica e fortalecer sua popularidade. A proposito da ideia, é curioso como o articulista pinçou alguns conflitos do passado recente que se coadunam a esta tese. Por exemplo, o governo militar argentino, diante da derrocada econômica e da rejeição popular, resolveu investir uma guerra suicida, em 1982, ao invadir as Ilhas Malvinas. Inflamou os brios dos argentinos logrou pontos positivos, logo perdidos com o final do processo. Outro caso apontado, como exemplo, foi a luta de George W. Bush contra o terror. A tomada do Iraque pode ter recuperado sua aprovação a níveis elevados, bem como haver garantido sua eleição de 2004. A verdade é que não deve ser fácil investir numa guerra. A Rússia poderá sofrer incalculáveis prejuízos nessa investida ucraniana. E Biden não terá dúvidas em reunir forças da OTAN para sufocar um Putin com visíveis problemas de sustentação. A História vai registrar. Começar uma guerra nunca foi um bom negócio, mas, ainda há loucos dispostos a "surfar nessa onda" pensando num bom negócio.

12 comentários:

Prof. Paulo Miranda disse...

Análise perfeita Girley. Um bom histórico para entender um pouco dessa sanha de guerra psicopata, que alguns "líderes " políticos usam em detrimento do seu povo e da humanidade.

José Paulo Cavalcanti disse...

Perdão, mestre Girley, mas o tema talvez seja mais complexo. Cada pequeno país que antes fazia parte da URSS, quando ganha autonomia, se integra na OTAN. E logo se enche de bases de foguetes americanos, apontados para Moscou, ali pertinho. É como se no México e no Canadá a Rússia houvesse foguetes atômicos, apontados para Washington. A mim, perdão, faz sentido esse tipo de receio de Putim. Se estivesse verdadeiramente pensando na democracia, os Estados Unidos poderiam garantir que não estão pensando nos seus foguetes. Por exemplo desmontando as bases que já tem por lá. Em resumo, tudo é só uma guerra de narrativas. Enfim... Abraços, José Paulo.

Wirson Santana disse...

Grande verdade amigo.
Concordo plenamente com sua análise.

José Otávio de Carvalho disse...

Os beligerantes, do ponto de vista sociológico, sempre têm interesse espúrios. Visam, apenas, ai fortalecimento político. Jogo de xadrez. Só quem perde é a sociedade. Análise oportuna e lúcida.

Carlo Sarti disse...

Io non sono dalla parte di Putin ma gli americani guerrafondai cercano la guerra senza usare pienamente la diplomazia e mettendo sempre di mezzo l'Onu ormai una istituzione molto discutibile come abbiamo visto ultimamente in vari paesi del mondo e soprattutto in medio Oriente e Africa

Susana Gonzalez disse...

Me parece q tu enfoque solo gira hacia un lado, no hay que olvidar que la crisis económica es mundial, empezando por los Estados Unidos donde tiene graves problemas, especialmente económicos. Y el liderazgo de Biden está muy dividido.

Sérgio Lemos Dilletieri disse...

O Estados Unidos está falindo e quer arranjar uma guerra mais com a Rússia o buraco é mais embaixo.

Marcelo Vilock disse...

Uma briga eterna.

Drance Meira de Oliveira disse...

A vontade do poder é muito grande...

Adierson Azevedo disse...

Fantástica análise meu querido professor. A questão de 2014, parece-me, ainda não foi tocada adequadamente pelos analistas internacionais. Mas, na minha humilde opinião, há algo que precede 2014 e que, talvez, tenha gerado 2014 e, agora, 2022. Me refiro a 1992. Em 01/01/1992, nasceram 14 países sem moeda da antiga URSS. Fora da lista, a Rússia herdou a única moeda existente, o Rublo. Eu fazia mestrado em Birmingham, Reino Unido na época e recebemos os novo 14 presidentes de bancos centrais que visitavam a Inglaterra pra aprender a criar uma moeda!

Edson Junqueira disse...

Amigo Girley , excelente colocação . O início da segunda guerra foi parecido , onde hither invadiu a Polônia e depois não parou . Foi para Áustria , Bélgica e França .
Esse Putim pode estar blefando , mas se não tiver haveremos de ver outra crise .

Ieda Almeida disse...

Excelente comentário . Uma verdadeira aula
Parabéns !!!

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